quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A limpeza na polícia (Zuenir Ventura)

Alguma coisa não vai mesmo bem quando a polícia precisa chamar a polícia para prender o ladrão. Será que só a Polícia Federal consegue desbaratar os esquemas de corrupção dentro das polícias do Rio, como fez em 2008, quando prendeu o delegado Álvaro Lins, ou agora, quando mandou para a cadeia dezenas de policiais que vendiam armas e proteção a traficantes? Como é que um sistema de segurança que tem se mostrado tão eficiente no combate ao crime nas favelas é tão complacente com ele dentro de casa? Como se explica que a PM e a Polícia Civil não disponham de um mecanismo de correição capaz de livrar as corporações dos bandidos que agem internamente? A banda podre é indestrutível?

A crise, que custou a demissão de Allan Turnowski da Chefia da Polícia Civil, surgiu num péssimo momento, justamente quando as UPPs haviam conquistado a confiança da população. Para que ela se torne um fator positivo, um processo de saneamento é necessário, e que o governo exponha toda a sujeira que há por baixo. Que explique, por exemplo, o fato de o cabeça de uma das quadrilhas desbaratadas pelos federais ser o ex-braço direito de quem até ontem foi o chefe de Polícia Civil. É estranho que esse delegado, Carlos Oliveira, não tenha despertado a desconfiança de seus superiores, apesar dos sinais de enriquecimento ilícito que ostentava, como carro importado e um apartamento de mais de R$1 milhão, entre outros imóveis.

Qual o verdadeiro papel de Turnowski nessa história? Assim que começou a operação da PF, ele foi chamado a depor. Em seguida, comandou uma ação que desviou as atenções, ao mandar fechar a Draco, Delegacia de Repressão ao Crime Organizado, sob suspeita de extorsão. Seu titular era Claudio Ferraz, o delegado que atacou as milícias e colaborou com a Operação Guilhotina. Limpeza ou represália? Turnowski negou a segunda hipótese e declarou que exoneraria Ferraz, se estivesse ao seu alcance. Parecia tratar-se de rivalidade, de disputa de poder. Mas, bem antes de se consumar a demissão, Jorge Antonio Barros anunciou no seu blog que a disputa era na verdade entre Turnowski e ninguém menos que Beltrame. "Um dos dois terá que pedir para sair", garantiu. O repórter não teve dúvida sobre quem iria sobrar. A dificuldade do governador, ele adiantava, será "obter uma saída honrosa para Turnowski".

É louvável que José Mariano Beltrame não tenha se melindrado com a interferência federal; ao contrário, recebeu-a como colaboração. Mas seria melhor que a PF não precisasse vir a cada dois anos fazer uma faxina nas nossas polícias

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