segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Com ""nacionalização"", PT tem votação que é retrato fiel do eleitorado brasileiro

Daniel Bramatti

Ao completar 31 anos, o PT passa pelo ápice de um lento e gradual processo de "despaulistização" (afastamento do eixo São Paulo) que vem desde a década de 80. Sua votação para a Câmara dos Deputados em 2010 espelhou de forma quase exata a distribuição do eleitorado brasileiro pelas diferentes regiões.

Dados eleitorais, pesquisas de opinião e estudos acadêmicos demonstram que essa descentralização geográfica coincidiu com uma marcha rumo ao centro e uma transformação de base social. Assim como o PT, nas últimas três décadas os simpatizantes do partido se tornaram mais moderados e se interiorizaram. Diferentemente do PT, eles ficaram mais pobres.

Em 1982, na primeira eleição para a Câmara que o partido disputou, nada menos que 89% de seus votos se concentravam na Região Sudeste. No Nordeste, Norte e Centro-Oeste estavam apenas 4%, 2% e 1% dos eleitores petistas, respectivamente. Essa distorção foi caindo a cada quatro anos até que, em 2010, o resultado foi de 42% no Sudeste, 26% no Nordeste, 17% no Sul, 8% no Centro-Oeste e 7% no Norte - com uma margem de erro máxima de dois pontos, esses porcentuais são um retrato fiel da distribuição dos eleitores pelo País.

Ainda que com certas limitações, as eleições legislativas retratam de forma mais precisa a fidelidade dos eleitores aos partidos, já que as disputas presidenciais são centradas em personalidades.

Efeito Lula. A descentralização geográfica do eleitorado petista, marcadamente paulista nos anos 80, é um fenômeno até certo ponto previsível, segundo o cientista político Jairo Nicolau, especializado na análise de dados eleitorais. Ele observa, porém, que a tendência se intensificou a partir da chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, em 2003.

Até 2002, a maioria absoluta dos eleitores petistas para a Câmara (52%) ainda se concentrava no Sudeste. Nas duas eleições seguintes, esse índice caiu para 46% e 42%, respectivamente. No Nordeste, a trajetória foi de crescimento: 18% em 2002, 24% em 2006 e 26% em 2010. No Norte, os índices foram de 4%, 6% e 8%.

Com Lula no poder, o fortalecimento do PT se deu nos Estados onde foi maior o impacto das políticas sociais do governo - das quais o carro-chefe é o programa Bolsa-Família.

Esse eleitorado dependente de benefícios oficiais, disperso e não organizado tem perfil muito diferente dos militantes que impulsionaram o partido em suas origens - sindicalistas, estudantes, intelectuais e religiosos da chamada ala "progressista" da Igreja Católica.

"Para compreender mudanças e continuidade na evolução do petismo, deve-se prestar especial atenção à expansão geográfica do partido", afirmam os cientistas políticos David Samuels, da Universidade de Minnesota, e Cesar Zucco, da Universidade Princeton, no estudo As Raízes do Petismo, 1989-2010. "As regiões brasileiras têm grandes desigualdades socioeconômicas. Por isso, a expansão eleitoral de um partido para novas áreas pode causar mudanças no perfil de seus simpatizantes mesmo sem que ocorra um grande realinhamento socioeconômico."

Jairo Nicolau observa que a expansão nacional do PT coincide com ação planejada dos líderes da legenda. "Após a vitória de Lula houve uma deliberação para organizar o partido nas cidades onde não conseguia entrar." Essa interiorização, para o cientista político, foi acelerada pela distribuição de benesses oficiais, pela cooptação de outras legendas e pelo próprio carisma de Lula entre os eleitores mais pobres.

A trajetória do PT revela um comportamento diferenciado dos eleitores do Sul. Lá, a proporção dos votos petistas para a Câmara não caiu nem cresceu, como no Sudeste e no Nordeste, mas oscilou. O ápice (22%) ocorreu em 1998, no governo Fernando Henrique Cardoso, quando o petista Olívio Dutra foi eleito governador do RS.

"O Sul experimentou o PT primeiro e depois recuou", observa Marcia Cavallari, diretora executiva do Ibope.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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