quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

AMIZADE, RESPEITO E FIDELIDADE (Juca Magalhães)

E a corrida do Oscar 2011 teve dada a largada com o anúncio dos indicados à premiação mais popular da indústria cinematográfica. As atenções estão voltadas especialmente para os dez concorrentes na categoria de melhor filme. São produções imperdíveis e bastante diferentes entre si, embora todas tenham um pé na discussão de valores morais como amizade, respeito e fidelidade. É coisa de Revolução Francesa e certamente uma crítica a esses tempos bicudos em que tudo se torna relativamente desculpável quando há dinheiro envolvido na jogada.

Os três primeiros que vi da lista foram lá pelo meio do ano passado: “A Origem”, um filme daqueles tão complicados que no final acho que nem o diretor sabia mais o que queria dizer, para mim é o mais fraco do pacote; “A Rede Social”, filme relativamente “cabeça” que discute temas como ética – amigos, amigos: dinheiro à parte - e serve para desvendar um pouco de como o homem atual pensa e constrói seu mundo; “Inverno na Alma” é uma história de arrepiar com interpretação fantástica da jovem Jennifer Lawrence.

Os três maiores concorrentes são filmássos daqueles de não se perder nem por decreto: “Bravura indômita” dos irmãos Cohen, tido como refilmagem do western que deu o Oscar a John Wayne, é uma nova abordagem do romance de Charles Portis e tem um elenco fantástico liderado por Jeff Bridges que sabe fazer um doidão como ninguém. O filme traz também Matt Damon muito longe do papel de galã de filmes de ação e a ótima Hailee Steinfield, cujo personagem - e não o do Federal - inspira o título. É um bangue-bangue que honra a tradição cinematográfica norte-americana.

“Cisne Negro” é um mergulho na arte da dança e um estudo sobre o fazer artístico, o Oscar de melhor atriz já é dado como certo para Natalie Portman, cuja beleza estonteante e atuação não menos catapulta essa produção a uma esfera diferente de suas concorrentes. O diretor Darren Arenofsky é especialista no chamado “filme de arte” ou “alternativo”, mas - como os irmãos Cohen – vem ganhando o mainstream de uns anos para cá. Cisne Negro é um embate entre a loucura do perfeccionismo técnico e a incendiária liberdade criativa, a busca do indizível e do equilíbrio entre a razão e a fé. Esse filme seria a minha escolha entre os dez. Aliás, tem por aí muito “artista” que precisa meditar bastante sobre essa questão.

Finalmente vem o grande favorito do ano “O Discurso do Rei”. Com doze indicações a produção britânica apoiada em fatos reais traz a dupla Colin Firth e Geoffrey Rush em interpretação afinada - ajudada por um roteiro mordaz, talvez o mais “inteligente” de todos aqui – é simplesmente um filme delicioso. Passa longe, entrementes, de discussões atuais, pertinentes e polêmicas sexuais como em Cisne Negro, A Rede Social e Minhas Mães e Meu Pai. É o chamado “Filme de Oscar”, para quem gosta é um prato cheio, mas muito mais do que isso: é também sobre amizade e confiança.

Pegando carona nesse tema recorrente vem o lindo Toy Story 3, certamente um azarão enfiado nesse bolo de grandes interpretações humanas. É uma daquelas histórias que nos fazem lembrar dos carrinhos de ferro, bonequinhos de Forte Apache, da inocência, da fantasia e da pureza infantil. É também sobre a aceitação das mudanças e do passar do tempo, que não vamos ser crianças para sempre, mas podemos e devemos ser fiéis aos nossos valores infantis. Foi dos dez o filme que mais me emocionou, lembrei muito de quando resolvi que “já estava grande” e deitei fora todos os meus brinquedos. É preciso dizer adeus às coisas com o tempo, mas nem sempre estamos verdadeiramente prontos para essa despedida.

Três dramas “verídicos” e um nem tanto concorrem a melhor filme e destes o que mais me surpreendeu foi o chamado “127 horas”. Estrelada pelo, até então, lamentável canastrão James Franco a história guarda semelhanças com o também atual e claustrofóbico “Enterrado Vivo”, é, porém, bem melhor realizada e, como já disse, a interpretação de Franco é no mínimo surpreendente para um ator sem carisma que até hoje posou de galã em filmes com e sem a menor relevância para a sétima arte. É uma história que surpreende, emociona e nos faz pensar nos perigos da auto-confiança.

Confesso que acabei dormindo quando fui assistir a “O Vencedor”, mas isso não quer dizer nada, o mesmo aconteceu com “Bravura Indômita” e depois acabei adorando o filme. O show fica por conta do atual “Batman”, Christian Bale que concorre ao Oscar de melhor ator coadjuvante em uma história do peso médio de boxe “Irish Micky Ward” interpretado por Mark Wahlberg. Já "Minhas Mães e Meu Pai" anda sendo anunciado como comédia e é um puta drama que escancara o universo complexo das relações familiares e que o fator homossexual é apenas mais um - e não o principal complicador - dentro desse caldeirão de respeito, fidelidade e união. Vale especialmente pela ótima atuação de Annette Bening.

Não torço por nenhum concorrente ao Oscar, reconheço apenas a qualidade dos filmes, a importância e a referência da premiação cujos (cujos?) vencedores serão anunciados num festão arrumado no dia 27 de fevereiro. E falando no inverso, não se incomodem em ver bobagens como “Caça as Bruxas”, acho impressionante a capacidade que Nicholas Cage tem de alternar bons filmes com verdadeiras porcarias. Mas, se quiser se emocionar dê uma chance ao deslumbrante “A Viagem do Peregrino da Alvorada”, terceira parte das Crônicas de Narnia. Infinitamente melhor do que o primeiro, a franquia Nárnia fez o caminho inverso dos filmes divididos em sequências, melhorando a história a cada nova produção.

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