As redes sociais encorajam as pessoas a se expressar sobre temas que poderiam ser esquecidos em minutos
EXPRESSAR indignação, pedir ajuda, divulgar uma causa. Ações que dependem da mobilização de muita gente. Vejo a internet ultimamente como um amplificador de vozes para os mais distintos interesses. Sempre me surpreendi com a pacificidade de algumas pessoas. Medo de reclamar, de pedir ajuda, de se conectar com outras pessoas com interesses comuns. E a internet está mudando essa dinâmica.
Antes do acesso ubíquo à internet, a oportunidade de se expressar livremente estava restrita ao ato corajoso de algumas pessoas. E não estou aqui falando de grandes mobilizações. Estou falando de pessoas comuns. Que não estão de acordo com situações incorretas. É como o garoto marginalizado na escola que durante o ano apanha calado. Nas últimas semanas, tenho observado com maior atenção a capacidade de mobilização de diferentes natureza, cor e importância dentro das redes sociais.
Recebi recentemente o vídeo de um menino que apanha e é molestado verbalmente em público por outro, até o momento em que desiste de receber -estático- alguns sopapos e se volta para o agressor, lançando-o longe em um só golpe. As mensagens se multiplicaram geometricamente e difundiram o sentimento de vingança e indignação, como um pedido uníssono para o fim desse tipo de perseguição.
Nesta semana, também uma mensagem de um consumidor resignado com sua conta de restaurante foi propagada rapidamente e se tornou tema de várias discussões. A conta de um dos mais tradicionais restaurantes árabes de São Paulo foi apresentada com os itens corretos, no entanto com a soma errada.
A mensagem pedia que as pessoas ficassem atentas e conferissem não só os itens mas também a soma. A que mais me chamou a atenção, a qual recebi e compartilhei imediatamente, foi um pedido de ajuda para divulgar campanha de respeito ao estacionamento para deficientes.
Que as redes sociais já têm tido um importantíssimo papel nas grandes mobilizações jamais tive dúvida. O recente levante em países do Oriente Médio teve como protagonista as redes sociais. Por meio delas, alguns jovens se expressaram contrários à realidade estabelecida.
Outros concordaram e em questão de dias a conexão estava feita. É claro também o enorme impacto positivo da internet ante as grandes catástrofes naturais recentes, como o terremoto no Haiti e o desastre no Japão. Pessoas se conectaram, muitas contribuíram e incrivelmente algumas foram salvas graças às mensagens postadas em suas redes.
No entanto, o fenômeno mais interessante é a força com que as redes sociais têm conferido às causas mais simples e corriqueiras de nosso cotidiano. É quase como uma injeção de coragem para que as pessoas se expressem e compartilhem livremente temas que poderiam ser esquecidos em minutos.
O ser humano por natureza tem receio da exposição individual. Reclamar daquele que corta a fila no supermercado é sempre uma tarefa incômoda. Mas os exemplos que se multiplicam mostram que a internet está contribuindo para o destravamento de opiniões que merecem mais atenção.
Seguramente a mensagem de que é preciso ter mais atenção ao conferir a conta do restaurante foi um alerta que impactou milhares de pessoas. E sem dúvida estimulará outros tantos mais. E fará com que as empresas repensem sua estratégia de atendimento e -ainda mais importante- a qualidade de seus produtos e serviços.
Acredito no poder transformacional que a internet tem para as grandes causas. Mas tenho apostado muito que essa força que conecta milhares de pessoas e facilita o compartilhamento de temas importantes e comuns contribuirá imensamente para dar voz a qualquer pessoa, sobre qualquer tema. E vai também contribuir para o desenvolvimento econômico e da qualidade de diferentes setores.
ALEXANDRE HOHAGEN, 43, jornalista e publicitário, fundou a operação do Google no Brasil em 2005 e liderou a empresa por quase seis anos. Atualmente é responsável pelas operações do Facebook na América Latina.
Fonte: Folha de São Paulo
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