segunda-feira, 28 de março de 2011

A universidade brasileira e a excelência internacional (Luiz Cláudio Costa )

Em uma sociedade do conhecimento, as universidades de excelência internacional são instituições cruciais para a formação de profissionais criativos e cidadãos plenos, capazes de promoverem avanços na ciência e tecnologia, bem como na construção de um sistema eficiente de inovação tecnológica. A inserção das universidades de um país no ranking das universidades de excelência internacional é um indicador claro da importância dessas instituições como agentes de desenvolvimento de uma nação. No Brasil, apesar do claro entendimento e dos investimentos do governo federal nos últimos anos na área de educação, a inserção das universidades entre as melhores do mundo ainda não é realidade.

Diversos índices foram criados para comparar e ranquear as universidades de diferentes países do mundo. Desde então, tornar-se uma universidade de excelência internacional deixou de ser simplesmente uma questão de tradição ou desejo. Entre os índices mais aceitos e divulgados pela comunidade internacional estão o Times Higher Education (THES) e o Shanghai Jiao Tong University (SJTU). Apesar das críticas e dos questionamentos sobre a filosofia e a metodologia desses índices, algumas delas muito legítimas, um fato é evidente, as universidades mais bem ranqueadas por eles são aquelas que ao longo da história mais têm contribuído para o desenvolvimento social e econômico de seus países e, na maioria dos casos, da humanidade.

Os avanços do Brasil na área de educação vêm sendo, nos últimos anos, destaque em diferentes organismos internacionais. Relatórios do Banco Mundial apontam o Brasil como o país que mais avançou em aumento de escolaridade e, segundo dados da OCDE, o terceiro país que mais evoluiu em qualidade da educação básica. O último relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), publicado em novembro de 2010, destaca, em capítulo pela primeira vez dedicado a um país da América do Sul, a grande evolução da produção científica brasileira nos últimos anos.



Segundo o relatório, o Brasil produziu 26.482 artigos científicos em 2008, colocando o país na destacada posição de 13º produtor de conhecimento novo do mundo. O relatório indica ainda que 90% das publicações científicas brasileiras são oriundas das universidades públicas, que ao mesmo tempo detém 57% dos pesquisadores brasileiros, outros 6% estão em institutos de pesquisas e 37% em instituições privadas. Da mesma forma, o Brasil conseguiu avançar em muito a sua formação de doutores, alcançando, em 2008, 10.711 titulados, contra apenas 554 em 1981. Com tais indicadores, seria de se esperar que as universidades brasileiras figurassem entre as melhores universidades do mundo. No entanto, isso não ocorre. O índice THES foi publicado pela primeira vez em 2004 e desde então nenhuma universidade brasileira esteve entre as 200 primeiras.

Acadêmicos que se dedicam a definir o que seria uma universidade de excelência internacional identificam algumas características básicas: professores altamente qualificados; excelência em pesquisa; alto nível de investimento do governo e privado; estudantes altamente qualificados com alto nível de internacionalização; autonomia acadêmica, estrutura de gestões eficientes e autônomas e bem estruturadas instalações de ensino, pesquisa, extensão, administração e assistência estudantil.

Uma agenda estratégica de incentivo à internacionalização, com fluxo de professores e estudantes de excelência internacional, e o fortalecimento da agenda da autonomia na gestão das atividades de ensino, pesquisa e extensão podem levar, dentro em breve, o Brasil a ter algumas de suas universidades figurando entre as melhores do mundo.

Buscar o reconhecimento internacional para o ensino superior brasileiro não é simplesmente uma questão de status, mas uma ação estratégica para um país que tem dado ao longo dos anos uma efetiva contribuição científica e tecnológica para a melhoria das condições de vida no planeta.

* Ex-reitor da Universidade Federal de Viçosa, é secretário de Ensino Superior do MEC
Fonte: Correio Braziliense

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