Certas imagens, como se sabe, carregam mais símbolos que muitas palavras. A que reuniu, no último sábado, Dilma Rousseff, Barack Obama e três ex-presidentes brasileiros poderá ser lembrada no futuro como o ponto final da era do "nunca antes neste país".
Não por acaso, o grande ausente da fotografia foi justamente Luiz Inácio Lula da Silva, que cunhou a expressão e fez dela a síntese de seus oito anos de mandato.
Ao convidar seus antecessores para a recepção à família Obama no Itamaraty, Dilma mostra que pretende pautar o início de seu governo por uma dose maior de institucionalidade e menor de pirotecnia.
Depois de uma transição bastante cordial, Lula tratou de, nos primeiros dias no Planalto, consagrar outro jargão-fetiche: "herança maldita", de autoria de José Dirceu.
Sob esse signo transcorreram as relações governo-oposição nos últimos oito anos, o que contribuiu para que PSDB e PT se tornassem o cão e o gato da política nacional.
No lugar da busca de pontos programáticos comuns, preferiu-se uma disputa para ver quem "comandaria o atraso", para usar a definição dada por Fernando Henrique Cardoso a alianças que os dois partidos fizeram com o fisiologismo em nome da governabilidade.
Com gestos como o convite para o almoço com Obama, Dilma demonstra reconhecer conquistas econômicas, políticas e sociais que começaram com a redemocratização e desaguaram no sucesso do governo Lula e em sua eleição.
A ausência de Lula só deixa o contraste de estilos mais evidente.
Seja qual for a explicação para ele ter recusado o convite de Dilma -não querer "ofuscá-la" ou birra pelo fato de o norte-americano não ter vindo ao Brasil em seu governo -, fica mais nítida a diferença entre seu personalismo e a opção de Dilma por certo pragmatismo discreto.
Pelo que mostra o Datafolha, o eleitor percebeu a inflexão e está disposto a conviver com uma dose menor de marketing presidencial.
Folha de São Paulo
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