sábado, 19 de março de 2011

O Brasil É um país à parte (Roger F. Noriega e Marc Fogassa)

Com a viagem do presidente Barack Obama ao Brasil, muitas análises do perfil dessa nação sul-americana a destacam no chamado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Esse destaque foi concebido como um elogio, associando o País a economias dinâmicas e em expansão. Hoje o Brasil merece ser considerado em seus próprios termos, como um destino bem mais seguro para o capital, uma democracia multiétnica saudável e um vizinho cujos líderes podem estar dispostos a abandonar as fórmulas de soma zero do passado e buscar uma parceria genuína com os Estados Unidos. Com base nisso, o engajamento hábil e duradouro do presidente Obama pode levar nossas relações políticas e econômicas a uma órbita mais elevada.

Por que o Brasil se compara favoravelmente a seus irmãos do Bric? A Índia é uma democracia e uma potência em alta tecnologia. A China é um gigante com apetite voraz de matérias-primas, combustíveis fósseis e bens de consumo, mas não manifesta nenhuma pretensão de abertura política. A Rússia é fortemente dependente de suas exportações de petróleo, dificilmente se pode dizer democrática e é um destino de risco para investimentos estrangeiros. Já o Brasil tem instituições democráticas fortes e elegeu um terceiro presidente comprometido com políticas macroeconômicas responsáveis. Na verdade, os programas brasileiros para dar à sua população mais pobre as ferramentas para participar do crescimento econômico propiciaram uma defesa sólida contra o populismo democrático num momento em que os ventos populistas sopram no restante da região.

Como resultado, o Brasil está provando ser muito mais atraente para o capital estrangeiro que os outros países. É um risco substancialmente menor e, ao mesmo tempo, ao menos tão interessante quanto aqueles, numa perspectiva de crescimento e desenvolvimento. Prevemos que os mercados de capitais internacionais vão começar a diferenciar o Brasil dos outros mercados do Bric e alocar muito mais investimentos para oportunidades amadurecidas nessa economia sul-americana. Em suma, passarão a ver que o País merece estar entre os grandes, numa categoria própria.

As percepções de risco e crescimento entre as nações podem ser drasticamente diferentes, dependendo de onde o observador está situado. Nos anos 1980 e 1990, com frequência Brasil e Argentina eram considerados iguais na perspectiva de um investidor estrangeiro. As situações que surgiam num afetavam o outro e vice-versa. O calote da dívida argentina em 2001 levou o mundo a, finalmente, perceber a enorme diferença em termos de risco entre Brasil e Argentina. Hoje o Brasil é um dos principais mercados emergentes globais e a Argentina está numa categoria inferior, um chamado mercado de fronteira. É só uma questão de tempo para que ocorra separação similar do Brasil em relação a China, Índia e Rússia.

A democracia brasileira é florescente e estável. O voto é obrigatório para os maiores de 16 anos. Há vários partidos, de todo o espectro político. Os presidentes (e outras autoridades em âmbito estadual e municipal) são eleitos pelo voto popular direto, após campanhas vigorosas e abertas.

Recentemente, o Brasil elegeu a sua primeira presidente – Dilma Rousseff, uma economista de 62 anos, duas vezes divorciada, que sobreviveu a um câncer. Cada voto tem o mesmo valor, independentemente de ser registrado nas urnas eletrônicas da cosmopolita São Paulo ou da Região Amazônica. Os resultados da eleição foram divulgados em tempo real e concluídos em poucas horas. Não vemos isso na maioria dos países, muito menos na China ou na Rússia.

Além disso, o Brasil tem liberdade de imprensa, liberdade de religião, liberdade de acesso e uso da internet. De acordo com o International Budget Partnership, o Brasil está em 74.º lugar em transparência das finanças públicas (próximo dos EUA, em 82.º). A China é um dos países mais mal classificados, em 14.º. A diferença não poderia ser mais clara.

Ao contrário da Índia, no Brasil existem poucas divisões internas ou disputas entre grupos étnicos. Mas, em comparação, o Brasil é “monótono” em vários aspectos, todos positivos: um idioma, uma cultura que se estende por um imenso território, compartilhando fronteiras com dez vizinhos amigos; a Índia tem mais de 14 línguas oficiais diferentes. O Brasil não possui armas nucleares e não pode desenvolvê-las, de acordo com sua Constituição. Não tem vizinhos agressivos. E tem um sistema judiciário único; a Índia tem três, um para cristãos, outro para hindus e um terceiro para muçulmanos. No tocante a mercados, a Índia tem 22 bolsas de valores ou de futuros; o Brasil sai-se muito bem com apenas uma.

O Brasil tem uma economia muito mais diversificada que a Rússia. Analistas conhecidos menos informados ainda percebem o País como uma fonte de recursos naturais a ser explorada, no entanto, petróleo e mineração representam apenas 5% da economia. O mercado consumidor doméstico brasileiro abrange 60% da sua economia, semelhante ao dos EUA. Ao contrário da Rússia, o Brasil tem um sistema judiciário independente, embora moroso, com grande respeito pelo direito de propriedade. Por último, a população da Rússia está em declínio, enquanto a do Brasil cresce a um ritmo que deve continuar pelo menos até 2045.

Como os EUA reconhecem as vantagens de reforçar suas relações comerciais e econômicas com o Brasil, essa nova parceria ligando nossa economia a um vizinho que tanto prospera será mais um fator para colocar o Brasil numa posição separada da China, Índia e Rússia. Os investidores que agirem rápido para aproveitar essa oportunidade vão compartilhar benefícios substanciais.

RESPECTIVAMENTE, EX-EMBAIXADOR NA OEA (2001 A 2003) E EX-SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO (2003 A 2005), É PROFESSOR CONVIDADO NO AMERICAN ENTERPRISE INSTITUTE E DIRETOR ADMINISTRATIVO DA VISION AMERICAS LCC, QUE REPRESENTA CLIENTES ESTRANGEIROS E AMERICANOS (RNORIEGA@AEI.ORG); SÓCIO-GERENTE DA HEDGEFORT CAPITAL MANAGEMENT, ASSESSORIA DE INVESTIMENTOS (MF@HEDGEFORT.COM)
Fonte: O Estado de S.Paulo

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