quinta-feira, 24 de março de 2011

"Rua da Lama" e Juca Magalhães

O Grilo Falante me enviou o link de um documentário muito legal sobre a dita “Rua da Lama”.

Produzido e dirigido por Ursula Dart, a película (película?) resgata o iniciozinho dos anos noventa, vinte anos portanto, mostrando bandas como Lordose Pra Leão, Urublues e outras, e muitas pessoas conhecidas do cenário. Alguns entrevistados são amigos de longa data como Carla Osório, Nina (que nunca mais vi), Lobo Pasolini (Que revi faz pouco tempo) Andrea Locatelli, Gloria Kerns, Marcelo Trifin e o próprio Socó - pioneiro da parada - do qual me lembro bem.

Aparece também uma pá de gente que eu conhecia só de vista, com destaque para “Kraus Kréus”, o maluco que se intromete na entrevista de Andrea. Esse último era uma espécie de “menino de rua”, que vivia enfiado nos barzinhos, ora arrumando confusão, ora quieto no seu canto. Diziam que seu apelido vinha de um skatista chamado Carlos Cléverson, ou algo que o valha. Ouvi falar também - numa dessas conversas do tipo: lembra daquele maluco? - que o coitado acabou morrendo assassinado pelas mesmas ruas onde tinha fixado residência.

Naquele período eu estava atravessando uma barra muito pesada na vida, que foi o covarde assassinato de minha mãe. Foi uma época em que precisei me reinventar, espiritualmente inclusive, aliás, especialmente isso. Então não acompanhei devidamente o pleno desabrochar da lama. Porém, no período imediatamente anterior, metade final dos anos oitenta, eu estava por lá sim e até me considero uma espécie de membro fundador entre os frequentadores.

O filme tem o nome de “Uma Volta na Lama” e começa com a seguinte frase “Não sei se reconheço essa cidade.” É a nítida impressão que tenho de tempos em tempos, aquele estranhamento de sair na rua e não conhecer mais todo mundo e todos os lugares como era antigamente. Em uma entrevista, recentemente, o poeta Ferreira Gullar diz que só sente a idade que tem (oitenta anos) por conta das perdas que vão se acumulando ao longo dos anos. É, eu acho que é por aí...

Então o filme evocou memórias do final de minha fase roqueira, uma época amarga, os anos mais difíceis que se seguiram à morte de mamãe em que me usurparam a família e o final da juventude. Só pra dar uma idéia do contexto, uma vez no socó dois caras pararam ao meu lado, ficaram me encarando e falando em bala de revólver com uma cruz riscada e coisas do gênero. Tinham a mesma pinta dos policiais da equipe do delegado Claudio Guerra e, portanto, a mesma aparência da bandidagem, o que era - pelo que me recordo - bem comum na época.

Me sentia intimidado o tempo todo após a morte de Maria Nilce. Talvez para viver melhor com o remorso do que fizeram, talvez porque é assim que fazem as pessoas do mal, os assassinos tentaram também enxotar daqui seus descendente e tudo que remetesse à sua figura, apagar definitivamente qualquer memória de sua meteórica passagem sobre a ilha de Vitória. A minha sorte é que eu era um pastel na época, não entendi o que estava acontecendo, corria perigo e nem sabia, acho que por isso sobrevivi e para desgosto dos mandantes de seu crime estou aqui até hoje escrevendo sobre o que aconteceu.

Segue abaixo o link do vídeo, soube que ele já tem mais de trocentos acessos, o que é muito legal para a nossa memória de neurônios combalidos. Só lamento que não tenham feito, ou ainda não ter aparecido, um sobre o Adega e aqueles tempos da pracinha de Jardim da Penha que foi a época em que vivi a inocência feliz. Nunca vi sequer uma fotografia daqueles tempos, quem tiver, por favor, digitalize e compartilhe. E também, leiam o Livro do Pó, no qual pelo menos uma parte daquela história está bem preservada...
http://vimeo.com/20388665

Amigos, reenviem esse texto para seus contatos, vamos fazer a nossa história circular, nós temos a obrigação de cuidar do passado e de o compartilhar com aqueles que estão chegando. A Letra Elektrônia não tem intenção de fazer cabeças, nem de abrir mentes, mas existir dignamente: a verdade um dia há de chegar.
http://megamagalhaes.blogspot.com

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