sábado, 19 de março de 2011

"Diário da Queda" ( de Michel Laub)

Michel Laub se rende ao judaísmo pela primeira vez
Em "Diário da Queda", escritor inova no estilo narrativo e, mais uma vez, usa elementos da própria biografia

Autor diz ter conseguido abordar o maior número de temas em romance e considera texto mais leve que anteriores

GUILHERME BRENDLER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em toda entrevista, ao lançar um livro, Michel Laub, 37, tem de enfrentar a mesma pergunta: "Esta é a sua obra mais autobiográfica?".
Desta vez, o escritor sorri, respira fundo e responde: "Todos os meus livros são memorialísticos. Sempre me dediquei a temas ligados a perdas, mas nem sempre são coisas que eu vivi". Mas a pergunta é irresistível por culpa do próprio autor.
Algumas características do protagonista de "Diário da Queda", seu quinto romance, recém-publicado pela Companhia das Letras, são muito parecidas com as de Michel Laub.
O personagem é um homem de quase 40 anos, judeu, estudou direito, não concluiu o curso de jornalismo, mudou-se de Porto Alegre para São Paulo para trabalhar numa revista quando tinha 20 e poucos.
"É natural que isso aconteça. Não é culpa dos outros. Forço essa situação porque escrevo em primeira pessoa e sempre ponho alguns dados autobiográficos nos livros."
De tanto as pessoas o questionarem sobre quais fatos narrados nos livros o escritor viveu, ele começou a incluir informações de propósito para causar alguma confusão. "Mando recados pelos livros pra um único leitor, às vezes. Faz parte da diversão de escrever."
Pela primeira vez o judaísmo aparece em um romance de Laub. O avô do protagonista, único da família a sobreviver a Auschwitz, deixou 16 volumes de memórias escritos. Porém, não revela uma única linha sobre o campo de concentração nazista.
Nenhum dos avôs de Laub foi prisioneiro, mas ele tem um primo cujo avô foi mandado a um campo de concentração. "São situações que rendem ficcionalmente. Não existe objeto literário numa mera reprodução da vida."
No entanto, às vezes, o limite entre vida real e ficção fica bastante tênue. Em "Diário da Queda", o pai do narrador fica doente e, em seguida, morre.
"A história não tinha a ver comigo, mas durante a escrita do livro, meu pai adoeceu e morreu. Pensei em não publicá-lo agora porque ia parecer indevidamente que é um trabalho autobiográfico."

RECONHECIMENTO
"Toda a obra do Michel é marcada pela sensibilidade e pela delicadeza ao tratar temas do cotidiano", afirma o crítico da Folha, Nelson de Oliveira. Para ele, Laub integra uma geração de escritores que se preocupa muito com a elegância da narrativa.
Segundo o crítico, fazem parte desse mesmo grupo autores como Milton Hatoum, Cíntia Moscovich e João Anzanello Carrascoza.
O editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, prevê que "Diário da Queda" será o livro capaz de tornar a obra de Laub mais conhecida. Para ele, o livro tem potencial para causar forte impacto emocional nos leitores.
Laub também ficou satisfeito com o resultado da obra: "Consegui dizer o maior número de coisas. Ter escrito em fragmentos possibilitou uma escrita mais solta que a os anteriores. Considero o meu melhor livro".

RAIO-X
MICHEL LAUB

VIDA
Nasce em Porto Alegre (RS), em 1973. Atualmente vive em São Paulo

OBRA
"Música Anterior" (2001), "Longe da Água" (2004), "O Segundo Tempo" (2006), "O Gato Diz Adeus" (2009) e "Diário da Queda" (2011)
(Folha de São Paulo)

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