Ambiente explosivo', diz sociólogo
Estudioso do movimento sindical brasileiro, o sociólogo do Iuperj Adalberto Cardoso afirma que as características das obras, "altamente perigosas", em comunidade e em locais parcialmente isolados, são "ambientes muito explosivos", no mundo inteiro. O caminho é criar canais institucionais para receber queixas desses trabalhadores, diz.
Por que essas rebeliões estão acontecendo?
ADALBERTO CARDOSO: São áreas de fronteira, em condições especiais, como o trabalho em minas, em refinarias e em plataformas de petróleo. É um trabalho altamente perigoso, em comunidade, relativamente isolados. É um ambiente muito explosivo, no mundo inteiro.
Por que não foi possível perceber essa insatisfação?
CARDOSO: Não houve canais institucionais adequados que chamassem a atenção para as queixas dos trabalhadores. Os sindicatos não se mostraram preparados para esse aumento na demanda de trabalhadores.
Na sua opinião, o que houve para o movimento se espalhar pelo Brasil?
CARDOSO: Foi efeito demonstração, na sequência do que aconteceu em Jirau.
Qual é a solução?
CARDOSO: É uma situação explosiva, para qual não há saída a curto prazo. Essas obras trouxeram de volta pessoas que não trabalhavam há tempos. Sem qualificação, é treinado no trabalho. Nesses locais, é preciso ter a presença do sindicato nos canteiros e canais abertos na empresas. Eles têm reivindicações justas ou que percebem justas. Não importa, porque a consequência é a mesma: motim.
E as empresas?
CARDOSO: São grandes empresas que têm know-how com canteiros deste tipo. Não dá para tirar a responsabilidade delas. Há uma culpa grande de não ter instituído canais para os trabalhadores reclamarem e não terem buscado parcerias com os sindicatos. (Cássia Almeida)
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Falta de canais para queixas gerou os motins
Especialistas listam fragilidade sindical, ação errada das empresas e falta de fiscalização
Karina Lignelli e Cássia Almeida
SÃO PAULO e RIO. Uma conjunção de fatores explica a sucessão de rebeliões em grandes canteiros de obras no país: falta de canais de reclamação para os trabalhadores dentro das empresas, atividade muito arriscada, isolamento, falta de estrutura dos sindicatos locais diante do aumento da base de operários e uma ação coordenada do governo para monitorar essas obras no país, afirmam especialistas. O coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, acredita que todos têm sua parcela de culpa pela onda de quebra-quebra nos canteiros de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
As construtoras, por contratarem "gatos" para arregimentar operários por todo o país, oferecendo "condições precárias para os trabalhadores, na tentativa de apressar o término das obras"; as centrais sindicais, que demoraram "a acordar" para o problema, revelando falta de informações sobre a situação dos trabalhadores fora das grandes capitais do país; e o governo, por não fiscalizar as obras.
Para Oliveira, foi um movimento espontâneo, já que as reivindicações são muito semelhantes em todas as obras, alimentado pela falta de líderes para negociação.
- Não há uma liderança clara. O positivo disso tudo é que esse problema confirma as condições de trabalho no setor de maneira geral, provocando a necessidade de governo, grandes construtoras e centrais discutirem um pacto que garanta minimamente as condições de trabalho nessas obras - diz o coordenador do Dieese.
Novas lideranças sindicais devem surgir
Segundo o sociólogo do Iuperj Adalberto Cardoso, o saldo desse movimento será positivo. Agora, todos os atores institucionais estão com os olhos voltados para a questão.
- É de se esperar que as condições nessas obras melhorem a partir desses movimentos - afirma.
Para ele, a tendência é que surjam novas lideranças nas bases sindicais, se os atuais dirigentes não conseguirem dar conta das demandas desses trabalhadores:
- A base desses sindicatos mudou. Aumentou muito, e é natural que as lideranças desses movimentos ganhem espaço nos sindicatos.
Mas são os trabalhadores que mais sofrem com essas rebeliões, diz Cardoso. Muitos devem perder seus empregos:
- A empresa tem capacidade de identificar esses líderes. Mas, como o país está crescendo, eles não devem ter problemas em se reempregar.
O consultor sindical João Guilherme Vargas Neto, que acompanha o movimento sindical há décadas e atualmente está ligado à Força Sindical, diz que a pauta trabalhista ficou em segundo plano quando se discutiu o PAC:
- Falou-se da pauta econômica, com a geração de empregos, investimento, e da pauta ambiental. Esquecemos da trabalhista. Essas rebeliões demonstraram a necessidade de equilibrar as três pautas.
Para ele, também faltou estrutura nos sindicatos das bases para lidar com o gigantismo das obras. Havia locais, como Pecém, em que a base representativa do sindicato subiu de 600 para 20 mil da noite para o dia.
FONTE: O GLOBO
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