O cientista político Jairo Nicolau (foto) se diz "cético" em relação à fundação de um novo partido pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM), que em seguida seria fundido ao PSB. Para ele, o PSB, deve tomar cuidado para "não viver o drama do PMDB e virar uma confederação de líderes regionais".
O sr. vê nas articulações do prefeito Kassab potencial para alterar o quadro partidário?
Desde a nova Lei dos Partidos Políticos, de 1995, há uma certa estabilidade dos atores. De lá para cá, apenas dois partidos foram fundados: PSOL e PRB. Hoje, criar um partido dá muito trabalho. Mas é inconteste que o DEM vive uma crise que está associada ao péssimo desempenho eleitoral que o partido teve nas eleições do ano passado - um declínio que começou em meados da última década.
Para um partido tradicionalmente governista e com bases nos grotões do País, foi mais difícil ser oposição?
Não acho que o maior problema do DEM tenha sido virar oposição, mas a ausência de bases regionais. Um partido pode suportar ficar fora do governo federal, desde que mantenha alguns Estados importantes da federação para que seus quadros sejam acolhidos. O DEM já teve lideranças importantes em Pernambuco, na Bahia, em Minas. Hoje, o partido não controla nenhum Estado importante e está "costeando o alambrado", como diria o velho Leonel Brizola.
Quais seriam as consequências de Kassab levar, como promete, uma bancada de cerca de 20 deputados para a nova sigla?
Esse novo partido será como aquele último ônibus que passa pegando todo mundo e vai deixando cada um em um canto. Se ele se consolidar, vai ser uma surpresa para mim, porque este não tem sido o caminho nos últimos anos. Agora, é claro que o PSB, vitalizado com essas migrações, passa a ter uma bancada mais forte e quase começa a rivalizar com o PT. Mas o desafio do PSB é não viver o mesmo drama do PMDB e virar uma confederação de lideranças regionais. Sem um líder nacional que se coloque eleitoralmente e apresente um projeto para 2014, o PSB pode engordar demais. O que une Kassab e Eduardo Campos? Nada.
Uma crítica que se faz ao projeto do "distritão", que acabaria com as eleições proporcionais, é que ele enfraqueceria ainda mais as legendas. O sr. concorda?
Eu tenho certeza de que o "distritão" não vai vingar, porque é uma ideia absurda e estúpida. Se você pedisse o pior sistema eleitoral para as eleições legislativas seria este. Seria o fim dos partidos. Haveria 600 mil candidatos, um concorrendo diretamente contra o outro. O "distritão" é um sistema de representação do século 19, que foi abandonado quando a representação proporcional foi inventada. Hoje, ele pode ser usado para eleger síndico. Para a minha alegria, o PT já fechou questão em favor do voto em lista fechada (em que o eleitor escolhe o partido), e não existe a possibilidade de o "distritão" prosperar sem o apoio do partido que está no poder.
(Lucas de Abreu Maia)
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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