sábado, 14 de julho de 2012

POR QUE OPÇÃO DE CRIANÇA POBRE AO TRABALHO É ROUBO OU PROSTITUIÇÃO? (Malu Fontes)

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CASTANHA QUENTE - Outra edição digna de aplausos foi ao ar na última terça-feira, abordando o drama de milhares de crianças brasileiras que trabalham trocentas horas por dia para sustentar suas famílias, a si mesmas e sob o aplauso, principalmente da sociedade que as cerca. Um dos elementos que sempre chama àtenção nas abordagens jornalísticas sobre o trabalho de crianças é o bordão repetido por pais que defendem a importância do trabalho de seus filhos e, coincidentemente, também repetido por muita gente boa que vive muito bem e que não sabe o que é colocar seus rebentos para trabalhar descascando castanhas torradas ainda quentes, catando mariscos ou arrastando pesados carrinhos de compras em feiras livres, cenas comuns na infância pobre do Nordeste. Todos têm um argumento de defesa na ponta da língua: ‘ah, mas é melhor a criança estar trabalhando do que roubando, do que pegando no que é alheio ou se prostituindo’.
Ora, como bem enfatizou o Profissão Repórter da última terça, quem foi que estabeleceu esta lógica perversa segundo a qual toda e qualquer criança pobre só tem essas duas escolhas: o trabalho ou o roubo, no caso dos meninos, ou a prostituição, no caso das meninas? O discurso, incorporado acriticamente pelos pais, para quem colocar os filhos para trabalhar nos primeiros anos de vida é prêmio e proteção, não permite compreender que crianças tratadas com normalidade pelo mundo não precisam trabalhar cedo e nem por isso se tornam ladrões nem prostitutas. Vão para a escola.
Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado originalmente em 15 de julho de 2012, no jornal A Tarde, Caderno 2, p. 05, Salvador/BA; maluzes@gmail.com
A Tarde/BA
15/07/2012 

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