terça-feira, 24 de julho de 2012

Jovens de amanhã (Roberto Garcia Simões)


Prossegue o massacre de jovens, mas o governo estadual não tem políticas públicas integradas da e para a juventude. O atraso no Estado é tal que já passou o auge da "onda jovem": de 2000 a 2010, o percentual da faixa etária de 15 a 24 anos, na população total, caiu de 20,5% para 18% – mas significa 600 mil pessoas.
Em janeiro deste ano, em reunião promovida pelo vice-governador Givaldo Vieira, decidiu-se, com a sociedade, que: a) o IJSN elaboraria, até maio passado, um perfil da juventude; b) um Grupo de Trabalho definiria ações e apreciaria a regulamentação do Conselho da Juventude. Estas decisões não foram cumpridas.

Contrastando com este descompromisso, o Espírito Santo reaparece no topo lastimável da taxa de homicídios de jovens em 2010 – próximo de Alagoas. Esta posição, contudo, não pode ser vista isoladamente. Ela ocorre simultaneamente em outras quatro taxas de homicídios: total, mulheres, negros e acidentes de carro. Ou seja, as violências no Espírito Santo estão entrelaçadas na sociedade.

Diante da magnitude que atingiu o contágio da mortífera associação armas e drogas, pois se propaga em famílias, bairros, escolas e no trânsito, e não se restringe aos jovens, é imperativa uma mobilização com amplitude no mínimo equivalente a que é dada às "epidemias".

Se não bastassem as ultrajantes mortes de jovens por homicídios – quase 10 mil no século XXI –, o massacre do amanhã no Espírito Santo também está presente na sobrevivente juventude vulnerável:

1. Presos. Do total, 54% (mais de 6 mil) têm de 18 a 29 anos, sendo 32% entre 18 e 24 anos, e 64% têm o ensino fundamental incompleto (Sejus, jan/2011);

2. Fora da escola. Mais de 36 mil de 15 a 17 anos. No ensino médio, a taxa de conclusão com 19 anos é de apenas 52,1% (IBGE, Censo 2010).

3. Trabalho. Dos ocupados de 16 a 24 anos, 51% ganhavam até um salário mínimo, e trabalhavam de 40 a 44 h/mês (Censo 2010). Resta tempo para estudo, lazer, participação?

4. Trabalho x estudo. De 16 a 29 anos, mais de 62% só trabalham e/ou procuravam trabalho. A taxa de desocupação era de 13% (Pnad 2009-Dieese).

5. Moradia. Um entre 10 moradores na Grande Vitória, incluindo 20% de 15 a 24 anos, sofrem com a posse precária da terra e com serviços públicos deficientes ou ausentes (Censo 2010).

Persiste a ausência de outras perspectivas para a juventude vulnerável. O massacre de no Espírito Santo – mortes e condições sociais – ceifa, hoje, o amanhã.

Roberto Garcia Simões
É professor da Ufes e especiaIista em políticas públicas
E-mail:  robertog@npd.ufes.br
Fonte: A Gazeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário