Se
você não conhece um candidato a vereador pessoalmente, melhor repensar
sua inserção na vida política da sua cidade. Nas próximas eleições, mais
de 400 mil pessoas devem se candidatar a um assento numa câmara
municipal. É 1 candidato a vereador para cada 320 eleitores, na média
brasileira. Ou seja, há uma boa chance de qualquer um ter um primo, um
vizinho, um colega de trabalho ou escola que seja candidato.
As probabilidades, é claro,
variam de lugar para lugar. Quanto maior a cidade, menor a chance. Em
São Paulo, o risco de trombar com um postulante (1 em 7 mil) é uma
pequena fração do que é em Araguainha (MT), com seus 21 candidatos para
925 eleitores. Isso não serve de desculpa, todavia. É improvável que a
Câmara da pequena cidade mato-grossense empregue um garagista com
salário de R$ 23 mil - até por falta de garagem. A de São Paulo sim.
Na média, o candidato a vereador
é cinco anos mais novo do que o candidato a prefeito, além de ter
passado menos tempo na escola. Tem 45 anos, é homem e não chegou a
completar o ensino médio. A maioria é de casados, embora 1 em cada 3
ainda seja solteiro. Tem uma boa chance de ser servidor público
municipal. Se não, é provável que seja agricultor ou comerciante. Se for
mulher, dona de casa ou professora.
A Câmara Municipal não é a única
porta de entrada para a política partidária. Nenhum dos últimos
presidentes brasileiros foi vereador. Nem Dilma Rousseff, nem Lula, nem
FHC, nem Itamar Franco (tentou mas não conseguiu), nem José Sarney nem
Fernando Collor - muito menos os militares. O último - e talvez o único -
presidente que havia sido vereador foi Jânio Quadros. OK, não é o
melhor exemplo. Mas que não sirva de desencorajamento.
Se ninguém está olhando,
vereadores podem se sentir à vontade para fazer de conta que
compareceram a sessões nas quais nunca estiveram, terceirizar seu voto
para funcionários da Câmara e sabe-se lá mais o que. A prudência
recomenda procurar conhecer pessoalmente um candidato a vereador e
acompanhar o que ele vier a fazer, se for eleito. Nem que seja para ter
um pistolão e se candidatar àquela vaga de garagista.
Tudo bem, seu negócio não é
política e você não é muito bom em manobrar carros. Mesmo assim, as
eleições municipais são mais importantes do que parecem. É muito mais do
que o início de uma carreira política promissora. É a base onde todos
os partidos, sem exceção, assentam suas pretensões políticas. Não há
partido grande sem base municipal. Sem vereadores é difícil eleger
prefeitos, e, sem prefeitos, não se elegem deputados federais.
Há uma correlação estatística
quase perfeita entre a quantidade de votos para prefeito que um partido
recebe e o número de representantes que a mesma sigla elege dois anos
depois para a Câmara dos Deputados. O coeficiente é de 0,96 num máximo
de 1. Nenhum dos maiores partidos brasileiros recebeu, em 2008, menos do
que 150 mil votos a prefeito por deputado federal eleito em 2010. A
proporção parece esdrúxula, mas não é.
Os prefeitos são os principais
cabos eleitorais dos deputados. Sem algumas centenas de prefeitos um
partido não elege uma dezena de deputados. O tamanho dos eleitorados
governados pelos prefeitos faz diferença, mas, na média, um partido
médio ou grande precisa eleger 12 prefeitos para levar um deputado à
Câmara no pleito seguinte. Alguns precisam mais, outros menos.
O PT precisou de seis prefeitos
por deputado; o PTB, de 20. Mas os deputados petistas foram empurrados
também pela campanha de Dilma e a popularidade de Lula. O PT, portanto, é
a exceção. A regra é o PMDB e o PSDB, que precisaram eleger 15
prefeitos em 2008 para cada deputado federal eleito dois anos depois. Ou
o PP, que precisou de 13; ou ainda DEM e PDT, de 12; PSB e PR, de 9.
Por isso, os voos partidários em 2014 decolam este ano.
Na política brasileira, há dois
astros (PT e PSDB) em torno de qual orbitam quase todas as outras
siglas. O número de satélites varia em função de qual dos dois está no
poder. A grande exceção, por ora, é o PMDB, que tenta ser o fiel da
balança sem o qual é impossível governar. Mas há duas novidades em cena,
disputando o papel dos protagonistas.
O PSB de Eduardo Campos pretende
em 2014 (mais difícil) ou em 2018 (mais provável) se tornar um astro
com candidato a presidente viável. E o PSD de Gilberto Kassab quer ser o
novo PMDB. O sucesso ou fracasso desses planos depende, principalmente,
do desempenho de PSB e PSD nas próximas eleições. Para chegarem ao
estrelado, precisão eleger mais prefeitos do que têm hoje. Por isso 2012
é a mãe de todas as eleições.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário