domingo, 1 de julho de 2012

Erros que custam caro (Suely Caldas)

Na época, Dilma Rousseff tentava reconstruir sua vida após a prisão e Lula ainda era diretor suplente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Era o fim do governo Médici e o então ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto, mandou a FGV reduzir na marra a inflação para adequá-la ao clima de otimismo do "milagre econômico". A manobra consistia em a FGV transportar mecanicamente para o índice os valores de um autoritário e fantasioso tabelamento de preços decretado pelo governo e solenemente ignorado por industriais, comerciantes e consumidores. As lojas exibiam na parede o valor tabelado, mas vendiam pelo dobro, às vezes o triplo.

Governo Geisel, 1974, o sucessor de Delfim, Mario Henrique Simonsen, denunciou publicamente a farsa e corrigiu os números da inflação. A população pagou o preço do arrogante erro, a começar pelos trabalhadores, que tiveram salários achatados, corrigidos que eram pelo falso índice. O que moveu Médici e seu ministro? Diferentemente do austero Geisel, Médici era um militar populista: se na política a truculência da ditadura não ajudava, pelo menos na economia queria deixar um legado que lhe rendesse elogios, não importava se falso. Foi também o populismo delirante que motivou o ex-presidente Lula a fazer planos de investimento mirabolantes para a Petrobrás. Para agradar a eleitores e aos caciques políticos de sempre, prometeu construir um complexo petroquímico no Rio (Comperj) e três refinarias - no Maranhão, no Ceará e em Pernambuco. Investimentos bilionários, que logo começaram a consumir dinheiro com as pomposas inaugurações da pedra fundamental - bem ao gosto de Lula. Só que as obras das refinarias do Maranhão e do Ceará não saíram do papel e a de Pernambuco e o Comperj tiveram seus cronogramas adiados várias vezes e os orçamentos iniciais quadruplicados (de 2011 a de Pernambuco foi adiada para 2014 e seu custo saltou de R$ 4 bilhões para R$ 17 bilhões).

Como Simonsen em 1974, Graça Foster, em 2012, logo tratou de corrigir o erro, rever o plano de investimentos da estatal e nele aplicou um choque de realidade, afastando os delírios de Lula. Das refinarias só restou a de Pernambuco, e o Comperj, por enquanto, vai ficar com seus canteiros sugando dinheiro da Petrobrás, sem data definida para terminar. Ao corrigir o erro, Foster tenta recuperar a confiança de potenciais investidores e dos mais de 500 mil acionistas que apostaram dinheiro na empresa e ameaçam abandoná-la. O castigo imposto pelos governos Lula e Dilma à Petrobrás está reduzindo seu valor a pó. Da área de petróleo ela é a mais desvalorizada do mundo, vale menos do que a colombiana Ecopetrol, que não tem um quarto de seu tamanho. O realismo nos investimentos e o minguado reajuste dos combustíveis foi o que Graça Foster conseguiu arrancar do governo nessa primeira investida para tentar recuperar a empresa. Mas o mercado reagiu mal, considerou insuficiente e derrubou o preço das ações. Tomara que seja só o começo.

Erros políticos como os de Médici e Lula levam tempo para consertar. O populismo é assim mesmo: foca o curto prazo para ganhar dividendos políticos rápidos e causa enormes estragos no longo prazo. Dilma parece ser diferente de Lula nesse aspecto. Por isso é inexplicável essa estratégia desesperada de recuperar o crescimento econômico focando só em ações de efeito rápido que, na verdade, tiveram seu tempo esgotado e têm se mostrado inúteis. Depois de passar mais de um ano atirando a esmo e errando o alvo, Dilma parece ter se convencido de que o investimento é o mais poderoso indutor do crescimento. Mas pouco ou nada fez para afastar os entraves estruturais que, desde Lula, freiam o investimento privado. O próprio IBGE alertou em pesquisa na quinta-feira: a rodada recente de incentivos do governo não impulsionou novos negócios.

Assim, dia sim outro também, as previsões para o PIB em 2012 são refeitas ladeira abaixo e já chegam a 1%. Até o Banco Central reduziu a sua de 3,5% para 2,5%, no dia seguinte em que o ministro Guido Mantega garantiu que o País vai crescer "acima de 2,5%".

Suely Caldas é professora da PUC-Rio

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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