Sempre haverá os que se julgam onipotentes e julgam o povo burro, incapaz, e, sendo assim, se arvoram a decidir em nome de todos, sem a licença e procuração de todos. São os oligarcas da política, os mandonistas, que pregam o consensualismo, em nome do equilíbrio que, na verdade, é o equilíbrio que os favorece, ou seja: a manutenção de seus poderes. É o “muda, mas nem tanto”, é a mudança permitida, é a mudança que mantém o poder nas mãos dos mesmos.
Compreendendo que o motor da democracia é o contraditório, a informação o seu combustível e a transparência o seu oxigênio, a geopolítica de gabinete é o algoz da democracia participativa. O Brasil, por mandamento constitucional, adota o princípio do Estado democrático de direito, e garante a soberania do povo como único meio de legitimação do poder, prevendo, inclusive, o seu exercício diretamente pelo povo.
Por mais de meio século, o município foi o território no qual os projetos democráticos não penetravam ou sobreviviam; era (ainda existe) o espaço do poder oligárquico, do patrimonialismo e do clientelismo, apoiados nas desigualdades econômicas. Com o advento da Constituição Cidadã, cada município, no exercício das suas competências constitucionais, tem assegurada a autonomia para a construção da própria história, competindo-lhe a laboração dos seus mecanismos de democracia participativa.
Os instrumentos vinculantes (plebiscito, referendo e conselhos deliberativos) e os não vinculantes (audiências públicas, consultas públicas, conselhos consultivos, ouvidorias, orçamento participativo e iniciativa popular) empoderam o cidadão no fortalecimento da democracia. O hábito do munícipe participar e o do gestor de prestar contas e ouvir a sociedade é um caminho em construção, mas de profundo enraizamento democrático. Afinal, todo o poder emana do povo.
Francisco Celso Calmon
É dirigente estadual do PT
(Publicado em A Gazeta)
Nenhum comentário:
Postar um comentário