terça-feira, 10 de julho de 2012

A odiosa censura ao Século Diário

O Século Diário é mais uma vez vítima da censura. O jornal não apenas teve textos censurados como está sob censura prévia no que diz respeito a matérias sobre determinado personagem (abstenho-me de citar o nome para também não ser censurado - já estou no clima da autocensura, um dos produtos mais infames do processo de censura).
Os procedimentos determinados na decisão beiram as raias do absurdo. Parecem coisas derivadas de universo kafkaniano, pois não apenas censura como determina a autocensura.
Pontifica a magistrada:
"Quanto às futuras publicações, é assegurado aos réus o direito de expressão, contudo somente devem publicar matérias com referência ao autor desde que observadas as seguintes recomendações:
a) Nas publicações relativas ao autor, primem pela objetividade das informações, abstendo-se de incluir adjetivações pejorativas ou opiniões desfavoráveis que extrapolem os limites da crítica literária, artística ou científica;
b) Limitem-se a narrar os fatos sem se pautar por comentários, boatos, acusações isoladas e desprovidas de idoneidade, sempre fazendo referência às fontes e;
c) Procedam com imparcialidade e isenção na divulgação de notícias relacionadas ao autor, observando apenas o contexto fático, sem se pautar por tendências, ideologias ou intuito de autopromoção ou promoção de terceiros em detrimento do autor”.
A magistrada torna-se professoral no ensino da edição e da produção do texto.  Se não vejamos: alguém pode esclarecer o que significa extrapolar "os limites da crítica literária, artística ou científica". Se puder,  por favor, me esclareça.
Inova ao estabelecer que reportagem não pode "pautar-se por comentários .... e também  não pode se "pautar por tendências. ideologias, ...."
Concordando ou não com a linha editorial do jornal, todos concordamos que toda e qualquer forma de censura é abjeta e repugnante. É retrocesso legal e institucional. É a negação de tudo aquilo por que a sociedade brasileira lutou em jornadas memoráveis na busca das liberdades democrática.

O que conquistamos nas ruas é retirado nos escaninhos da justiça.
Parece óbvio e redundante, mas é necessário lembrar: o cerceamento da liberdade do outro é uma ameaça a sua própria liberdade. É triste que no Espírito Santo, em pleno século XXI, seja necessário relembrar o célebre poema de Martin Niemöller:

"Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar".


Roberto Beling


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