Terceira colocada na disputa presidencial diz que só se engajará na campanha do partido se houver eleições internas
Roldão Arruda
A ex-senadora Marina Silva (PV-AC) não está disposta a subir em palanques em 2011, para ajudar a eleger vereadores e prefeitos verdes, se o seu partido não realizar neste ano um processo interno de abertura democrática. Terceira colocada na eleição presidencial, com 19,6 milhões de votos, ela acha que não seria coerente retomar o discurso da campanha presidencial, que enfatizava uma nova forma de fazer política, comprometida com a ética e a sustentabilidade, se dentro de casa ela não encontra isso.
"Quero falar para a sociedade sobre coisas que estamos praticando. Não posso falar de uma nova fórmula política se dentro do PV temos uma velha fórmula, se a discussão é cerceada, se as pessoas não podem sequer se manifestar", disse ela no sábado à tarde, em São Paulo, ao participar de um encontro da militância verde, organizado pelo movimento Transição Democrática.
Ontem, no Rio, ele se encontrou com Fernando Gabeira e outros dirigentes estaduais do partido para discutir a questão da nova fórmula de fazer política. Segundo suas explicações, foi possível falar dessa fórmula na campanha presidencial porque havia recebido a promessa, da direção do partido, de que seriam realizadas mudanças em toda sua estrutura, com a realização de debates, convenções e eleições internas, tão logo findasse a corrida presidencial. "Na época era inteiramente coerente", disse. "Agora não é mais."
Revisão. A mudança, segundo Marina, se deve à decisão tomada no mês passado pela diretoria nacional do PV de adiar as eleições para 2012. Foi isso que a levou a se alinhar com a Transição Democrática, que propõe a realização de convenções em abril e eleições em julho.
O encontro no sábado lotou o Auditório Franco Montoro, na Assembleia Legislativa. O discurso de Marina, que havia acabado de chegar de uma viagem a Washington nos Estados Unidos, para uma palestra, foi interrompido várias vezes por aplausos.
Uma das ocasiões ocorreu quando disse que o PV, dirigido há 12 anos por José Luiz Penna, deputado federal por São Paulo, precisa mudar e mostrar "que não discute apenas o poder pelo poder e não faz alianças incoerentes".
Marina tem dito que está disposta a viajar pelo Brasil em 2012, apoiando candidatos das mais diferentes correntes internas do partido, desde que tenham plataformas comprometidas com a ética e a sustentabilidade. Só fará isso, porém, se ocorrerem as mudanças internas.
Ao lado de Marina em São Paulo, o vice-presidente do partido, deputado federal Alfredo Sirkis (RJ), disse que não pretende abandonar a sigla que ajudou a fundar. "Não vamos sair do PV. Vamos transformá-lo, com a legitimidade histórica que temos e a legitimidade dos 20 milhões de votos de Marina", afirmou.
No sábado, no mesmo horário em que Marina discursava na Assembleia, Penna, o presidente do partido, participava de outro evento, do diretório municipal paulistano, no bairro do Tatuapé, na zona leste.
Barrados
Marina Silva tem acusado a direção do PV de barrar a filiação partidária de milhares de simpatizantes da causa da sustentabilidade. A razão da decisão seria o medo de se perder o controle político
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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