domingo, 17 de abril de 2011

Cem anos na encruzilhada (sobre o mito robert Johnson)

Ele teria vendido a alma para se tornar o maior.
Lenda? O fato é que Robert Johnson, um século depois, é mesmo o maior

Gabriel Vituri – estadão.com.br

1938. Whisky and women, apesar de rotineiros, levaram Robert Johnson à morte em 16 de agosto daquele ano. O bluesman se apresentava ao lado dos companheiros Sonny Boy Williamson I e Honeyboy Edwards quando, atraído por olhares de uma dama, foi atrás da investida que teria lhe custado a vida. O dono do salão, inconformado com o flerte entre sua mulher e o músico, tratou logo de providenciar um litro de uísque. Parceiros tentaram dissuadi-lo de aceitar a garrafa aberta, sem sucesso. Provavelmente envenenado, ele contraiu pneumonia e morreu três dias depois em um vilarejo próximo a Greenwood, no Mississippi, na região sudeste dos Estados Unidos.

Robert Leroy Johnson completaria 100 anos no próximo dia 8 de maio. Filho de Julia Major Dodds e Noah Johnson (amante de sua mãe e com quem ele nunca conviveu), o ícone do blues nasceu em Hazlehurst, também no Mississippi. Em 27 anos de vida, foi acusado de vender a alma ao diabo e apareceu em apenas três retratos – o último, descoberto só em 2008, hoje faz parte do acervo familiar.

Para celebrar o centenário, a Sony Music lança a coleção The Complete Original Masters – Centennial Edition, com as 29 composições do artista, um DVD e 12 discos de vinil, com réplicas dos singles lançados na época. A edição de luxo será limitada inicialmente em mil unidades e vendida somente pela internet. A caixa traz um CD duplo – o único item que poderá ser comprado separadamente – com todas as 42 gravações do compositor remasterizadas (outros lançamentos traziam apenas 41 takes, sem a versão extra de Traveling Riverside Blues). O documentário The Life And Music of Robert Johnson: Can’t You Hear the Wind Howl e dois CDs com gravações de contemporâneos a Robert, como Tommy Johnson e Furry Lewis, também fazem parte do pacote completo.

As verdadeiras joias, porém, são 12 pequenos discos de vinil. Acompanhados por um livreto com informações sobre as gravações, as réplicas trazem 24 canções (lado A e B) de Robert Johnson lançadas em 1936 e 1937. Entre as faixas dos singles estão clássicos como I Believe I’ll Dust My Broom e Terraplane Blues. Esta última, uma metáfora sexual que compara a mulher a um automóvel sedã, foi considerada um sucesso para época, com cerca de cinco mil cópias vendidas. É claro, todo luxo tem seu preço. Prevista para ser entregue aos compradores de todo o mundo a partir do dia 26 de abril, a relíquia custará R$ 572,79, sem o frete – com todas as taxas e os impostos o valor passa dos R$ 1 mil.

Inspiração para Muddy Waters, Bob Dylan, Eric Clapton, Rolling Stones e um sem-fim de estrelas, Robert Johnson é considerado um dos grandes pais do blues e de sua evolução até a chegada do rock and roll. Autor de riffs diferentes entre si (When You Got a Good Friend, They’re Red Hot ou a clássica Sweet Home Chicago), com apenas um violão, preenchia o espaço das gravações com a marcação do baixo, solos de slide e a base da música, tudo isso misturado a uma voz compassada e profunda.

Dedicada a preservar a memória e os registros da lenda do Mississippi, a Fundação Robert Johnson – cujo presidente é Claud Johnson, o único filho do músico – promove este ano uma série de shows e outros eventos comemorativos pelos Estados Unidos. Steven Johnson, vice-presidente da fundação e neto de Robert Johnson, falou ao Estado por email. “Meu pai não conviveu com Johnson, não o deixavam. Blues era considerado coisa do diabo mesmo.”
16/04/2011

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