sábado, 23 de abril de 2011

Festa da B (Elisa Lucinda)

Na quarta, 20, a gente tinha um "encontro marcado" com Elisa Lucinda. Era para ser mais uma rodada das conversas que estão sendo promovidas pelo Movimento uma Nova Vila Velha. O papo ia rolar sobre educação e cultura. Independente da polemica sobre se Elisa nasceu em Itaquari e, portanto, seria cariaciquense, nossa convidada reafirmaria uma identidade canela-verde em busca das referências que nossa cidade perdeu.
A chuva fechou ruas, becos, vielas e servidões.Levei duas horas do centro de Vitória a Itapoã. A UVV virou uma ilha cercada de ruas transbordadas por todos os lados. Nem consegui chegar ao local do evento. A "parte baixa" de Itapoã brincava de Veneza capixaba. Suspenso o encontro ficou a frustação de tanto esforço e expectativas darem com os "burros n'água". Elisa não perdeu a moral. No hotel. com a gripe tentando jogar o astral para baixo, reafirmava seu compromisso e, ali mesmo, tentava fechar uma nova data, que ficou lá pelos dias em torno do 23 de maio, semana da colonização do solo espiritossantense. Dessa vez não deu, na próxima dará.
Como não deu de ouvir, vamos ler. Fica aqui a cronica publicada por Elisa no Correio Braziliense desse sábado. Um abraço. Roberto Beling

Festa da B (Elisa Lucinda)

A gente se conhece há muito e não é fácil escolher seu presente de aniversário. Você é aquela que parece ter tudo. O que não é verdade, porque ninguém tem tudo, mas gosto de dar presente que te agrade, e é claro e que também expanda o tapete mágico dos meus sonhos quando eles encontram com os seus, minha linda. E esses não são poucos, portanto, vamos aos desejos. De que modo desejaria eu felicidade a ti, minha amiga? Bem, a primeira coisa é que te quero cada vez mais humana, mais emocional. Vem cá, porque você não encabeça logo a grande campanha de desarmamento por seu dentro, seus corredores, suas alas? Se eu fosse você radicalizaria: aqui é que não vai ser fácil comprar revólver assim, a torto e a direito como se vê nos outros quartos da sua casa. Desculpe eu falar, mas reparo mesmo, sabe, queridona?
Dê o exemplo, boba! diga que é por conta das comemorações de seu aniversario. Cidade e gente são assim: depois dos cinquenta é uma ano de festa. Convide-me para seus saraus, seus poetas. Quero que mistures geral. Quero a cultura de Sobradinho, de Ceilândia, da sua Asa Norte ou Sul, seus lagos, tudo mais perto de todo lugar. Sem medo. Ai, sei lá, é tanto o que tenho de bom pra te desejar. Ah, menina, (vou falar contigo porque você é da minha confiança, mas não quero ainda espalhar pra todo mundo): Adorei a Dilma. Conheci em Manaus, naquele dia, por conta da campanha de prevenção e tratamento de câncer de colo de útero e mama, lembra? Pois é, só estou vendo falar bem dela. Que mulher sensível, atenta, divertida, sabe, B? Exigentíssima, e já estou sabendo que ela, como uma boa dona de casa, não quer saber de desperdício.
Aproveite você, já que seu lar é o lugar de onde ela despacha, meu Deus! É um luxo ter uma mulher presidente, que bela estreia. Minha flor, você tem que entender que é a cabeça do país, a diretoria. Tudo que acontece em ti dá o exemplo, ora! Use a força jovem e madura de seus filhos criativos, que também querem uma sociedade mais justa e melhores rumores sobre a capital. Pode não ser feio ser distrito federal, mas lindo mesmo é ser capital nacional, B! Há os desbravadores e há os que vieram no bojo desses sonhadores corajosos que vieram bordar na sua saia a cultura diversa de cada gente. Tem muito artista, muito ambientalista, muita gente lutando pelos direitos humanos, que vive aqui e não quer mais vergonha de mensalão nem servidor público trabalhando pouco por nós e enchendo a pança e o bolso com dinheiro público.
Outra coisa que eu te desejo e é também doméstico o sonho, é que você legisle melhor essas obras na sua casa. Meu Deus, é só quando a obra é publica que o negócio demora muito mais tempo. Fazendo o quê? Na minha casa, eu não deixo não. Pra quê dois anos de reforma de uma ponte, de um estádio, de uma sala de música? Os pedreiros dormem? Ah, minha filha você tem que ver isso e de perto. Aí tem. Se o material chegou, mãos a obra, ora! Sei lá, eu desconfio desse tempo longo. Se é pra fiscalizar o orçamento, já fico de pé atrás com o fiscal por causa do longo tempo. Faça alguma coisa, querida, pega mal.
Como tem dinheiro meu nisso, fico muito à vontade pra falar. Mas essa é uma carta de alegria, e se falo de algumas coisas não tão agradáveis é porque quero que vença, no fim, a cultura da paz. Como te acho linda, vistosa e mulher, portanto capaz de processar esse papo e dele sair de decisões tomadas e de unhas feitas, fico tranquila. Mire-se. Há cinqüenta e um anos quem eras tu? Ninguém. Nem existias. Eras projeto à lápis, mero grafite em lapizeira de arquiteto. Por isso, desejem–te parques, árvores, bairros lindos e quietos como tens, mas com ônibus para gente andar em tudo. Pô, é sacanagem a gente que mora nas satélites só poder servir pra trabalhar num plano cujo piloto some quando os mais pobres aparecem. Isso não está certo. A democracia exige mão dupla e a dinheirama que rola em seu templo não pode excluir tanto, minha B. Se a cidade tem boa renda per capta, minha ignorância de amiga te diz: Goiás também tem que ter. Será que eu to falando besteira, B? Ó, mas pensa bem: Goiás antecede a você. Seu trono está nele, só não considera quem não quer ver. Então meu presente mais bonito é o lindo memorial do cerrado, essa corda de viola que corta as tardes de suas águas doces, essa profusão de cachoeiras, suas chapadas, seus encantos, seus baixios e esse misterioso e formoso céu, meu amante. Tudo é seu e é buquê que eu te ofereço em seu 51º aniversário, amada Bsb. Vamos tomar uma boa ideia, quando eu chegar? Beijos. Sua Elis

Nenhum comentário:

Postar um comentário