JORGE SEMPRUN (1923-2011)
Comentário para o programa radiofônico do OI, 10/6/2011
O grande fiasco da nossa imprensa está na sua resignação à idéia de que logo irá desaparecer. E está tão certa disso que adotou os mesmos padrões e tiques daquela que deverá substituí-la – a mídia digital.
Jornais e revistas fazem tudo para parecerem portais, blogs ou redes sociais: cada vez mais banais, triviais, ligeiros, mundanos. Perderam a noção da sua importância, felizes de estarem vivos, embora descartáveis.
Isso fica ainda mais evidente quando se compara um jornalão brasileiro com outro jornalão europeu, americano ou mesmo argentino. A morte do intelectual e político franco-espanhol Jorge Semprun, na terça-feira (7/6), foi aqui praticamente ignorada apesar de ter sido símbolo dos ideais políticos da segunda metade do século 20: lutou contra o nazismo na França ocupada, foi prisioneiro de um campo da morte, Buchenwald (onde conheceu Primo Levi), lutou contra o fascismo de Franco, contra o stalinismo soviético, contra todos os totalitarismos, contra a barbárie e o terror.
Imprensa desumanizada
Humanista – um dos últimos. Escrevia em francês e espanhol com igual maestria, foi roteirista do grande Costa-Gavras, de Alain Resnais e Joseph Losey.
Ministro da Cultura no governo socialista de Felipe Gonzalez, atento observador do processo cultural, é dele a melancólica constatação de que o problema ainda irresolvido pela democracia é o da liberdade de expressão. Cunhou-a quando a imprensa direitista espanhola, amparada pela Opus Dei, derrotou o responsável pelo renascimento espanhol, Felipe Gonzalez.
O diário espanhol El País dedicou-lhe na quarta-feira (8/6) metade da capa e três páginas de informações. No dia seguinte, publicou mais dez páginas (ver aqui). Tivemos que nos contentar com as trinta linhas, excelentes aliás, do Estado de S.Paulo assinadas por Antonio Gonçalves Filho.
Quando uma imprensa não consegue avaliar fatos ou figuras estelares da sua época, está desumanizada e pedindo demissão de suas funções.
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