A lua de mel de Dilma Rousseff durou breves cinco meses. Quando assumiu a Presidência, em janeiro, muita coisa a favorecia. A mais importante era a popularidade de Lula.
Ela se tornou a primeira mulher a presidir o Brasil. Tinha um retrospecto de oposição ao regime militar. Herdou uma economia em boa situação.
Três questões, porém, causaram-lhe dificuldades. A primeira envolve o seu governo. Ela indicou Antonio Palocci como ministro-chefe da Casa Civil -na prática, como o seu principal ministro.
Ele foi ministro da Fazenda no primeiro mandato de Lula.
As políticas que adotou ajudaram a acalmar os mercados financeiros agitados. Mas Palocci também carrega uma bagagem negativa. Parte do problema envolve supostas irregularidades quando foi prefeito de Ribeirão Preto (SP).
Também há o "caso Francenildo", sobre o seu suposto envolvimento com lobistas e orgias, o que resultou em sua renúncia como ministro da Fazenda. Agora, a imprensa concentra suas atenções na expansão de seu patrimônio pessoal nos últimos quatro anos.
A segunda questão envolve a controvérsia sobre o projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, na Amazônia, e o novo Código Florestal. Ambos são projetos de Dilma -ela foi ministra de Minas e Energia no governo Lula e era vista como forte defensora de projetos de infraestrutura.
O novo Código Florestal dá maior autonomia aos Estados, concede anistia por desflorestamento feito antes de abril de 2008, determina o relaxamento das regras de reserva legal e isenta os pequenos proprietários rurais -que tenham menos de 400 hectares- de suas disposições. Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e ex-candidata à Presidência, define o novo código como "o maior passo atrás".
Terceira, há preocupações quanto à saúde de Dilma, que a sua recuperação lenta de uma pneumonia, após a visita à China, só serviu para reviver. Antes da eleição, Dilma enfrentou um câncer linfático.
Os brasileiros prestam menos atenção do que deveriam aos candidatos a vice-presidente. Dois deles se tornaram presidentes nas últimas décadas: José Sarney, com a morte de Tancredo Neves, e Itamar Franco, após o impeachment de Collor. O atual vice-presidente é Michel Temer, 70, paulista de origem libanesa e líder do PMDB, mais conhecido por sua mulher, Marcela, 27, antiga "Miss Campinas".
Não existem razões sólidas para acreditar que seja provável o ressurgimento do câncer de Dilma. Mas Elio Gaspari voltou a colocar em destaque a questão da saúde dela.
É, de fato, verdade que, se ela voltar a adoecer e isso a incapacitar para o cargo, não resta dúvida de que a equação política brasileira seria completamente transformada. Esse é outro motivo para cautela.
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