domingo, 5 de junho de 2011

Escritora colombiana une história política e pessoal em "Heróis Demais"

Restrepo conta a própria saga familiar na guerrilha
Escritora colombiana une história política e pessoal em "Heróis Demais"

Autora descreve luta armada com bom humor apesar de momentos dramáticos, como o sequestro de seu filho

SYLVIA COLOMBO
DE SÃO PAULO

Uma militante trotskista colombiana desembarca na Argentina da ditadura militar (1976-1983).
Vive na clandestinidade, apaixona-se por um ativista, tem com ele um filho. Logo, o próprio pai tenta sequestrar o garoto usando truques aprendidos na guerrilha.
Finda a ditadura, ela volta à Colômbia. Até que o menino cresce e quer conhecer o pai. A militante volta, então, com ele, para Buenos Aires.
E ambos começam uma busca que mudará a relação mãe-filho e descortinará a história política argentina. "Heróis Demais", da colombiana Laura Restrepo, 60, traz uma trama, como se vê, romanesca, que parece fruto da imaginação. Mas não é. Cada passagem foi vivida pela autora, que é uma das convidadas da próxima Flip (6 a 10 de julho).
"Quis unir história política com pessoal. Através da intimidade é possível descrever aspectos de um período", diz Restrepo à Folha.

LUTA
A colombiana conta que foi parar em Buenos Aires nos anos 70 porque trabalhava em Madri num escritório de solidariedade a grupos que resistiam a ditaduras pelo mundo. "Éramos jovens e o sonho de todos era ir a esses países, à linha de frente, e participar da luta."
Em Buenos Aires, atuou fazendo propaganda junto a operários, e dividiu uma pequena casa com o namorado e seu irmão. Depois que nasceu o filho, passou a sentir medo de viver num clima de tanta tensão. Acabou convencendo o parceiro a se mudarem para Bogotá.
Lá, porém, o romance desandou, e o ex-guerrilheiro resolveu voltar à Argentina levando o garoto sem que a mãe soubesse, para só devolvê-lo depois que ela fosse encontrá-los em Bariloche.
Numa cabana na cidade patagônica, eles ficam sabendo do fim da ditadura. Restrepo voltou à Colômbia, onde trabalhou na revista "Semana" como repórter de política. Até que o então presidente do país, Belisario Betancur, a designou para a comissão de negociação com os guerrilheiros do M-19, grupo de esquerda surgido a partir da suposta fraude nas eleições colombianas de 1970. Ela recebeu ameaças de morte, e exilou-se no México.

TRAGICOMÉDIA
Apesar dos dramas relatados, "Heróis Demais" é uma narrativa bem-humorada, que trata com ironia os rituais e os aspectos da clandestinidade que, vistos hoje, parecem cômicos.
Por exemplo: num encontro, lideranças da resistência pedem à protagonista que entregue à "causa" a chácara que herdara da família.
Restrepo conta ainda os percalços pelos quais passou por ser estrangeira. "Tinha de disfarçar o sotaque e aprender hábitos locais. Já era difícil atuar disfarçado, sendo de outro país, era duplamente complicado."
A autora compartilhará a mesa da Flip com outro colombiano, Héctor Abad Faciolince, que lança um romance autobiográfico, "A Ausência que Seremos", sobre a relação com o pai, morto pelos paramilitares.

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