quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ZÉ PEQUENO NADA. MEU NOME É EXECUTIVO, LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO! (Juca Magalhães)

Meu pai tinha um velho livro de citações que eu gostava muito, era uma daquelas compilações de frases famosas reunidas e separadas por assunto: economia, amor, educação, religião, política etc. Ainda o tenho aqui em algum lugar, por conta de uma reforma de verão ainda não consigo encontrar as coisas por dentro de casa. Acho que nesse livro tem uma frase de Lincoln que uso como piadinha infame em conversas informais, é mais ou menos assim:

“Um homem sem educação pode até assaltar um trem. Dê educação a esse homem e ele vai roubar toda estrada de ferro.”

Não faço idéia de que ponto o Presidente queria defender, mas o pensamento básico é: não adianta dar somente educação. E nisso muita gente bate o pé ou a cabeça, especialmente em nosso país onde a maioria não tem acesso ao básico e o governo, frequentemente contaminado, quando não comandado pelas tais pessoas “educadas”, ao invés de tornar nossa vida mais fácil tem por costume difíicultar as coisas. Daí que entro no assunto que realmente quero abordar...

Eu não gostei do filme Tropa de Elite, só assisti à famosa versão pirata porque foi uma espécie de moda divertida na época. Na festa de aniversário do Cello, dias depois disso, bati boca com uma dondoca do judiciário que sem nenhum pudor afirmava que “bandido (ou pobre) tem mais é que morrer”! Fiquei muito puto e fiz coro com o Jabor, chamei os caras de facistas pra baixo! O filme escancarava a ideologia de que para resolver o problema do piolho era preciso cortar cabeças e parecia concordar, aliás, vinha daí parte de sua popularidade.

Quando saiu a continuação eu nem quis saber, pra mim o Wagner Moura não era o ator mais adequado para o papel e que dificilmente uma seqüela do que é ruim poderia me agradar, enquanto isso várias pessoas me recomendavam dizendo que o filme era bom. Na semana passada, no meio da tal da reforma, ilhados em nossa própria cidade, fomos nos abrigar no cinema (Kinoplex que fique bem claro) e Tropa de Elite 2 era a única opção entre bobagens mis e outras películas já vistas.

Daí o meu queixo caiu...

Tive duas impressões imediatas: que o filme vinha me responder - a mim mesmo - todas as críticas feitas até então e outra parada ainda melhor que me lembrava a trajetória dos Beatles. O quarteto de Liverpool conquistou o mundo com “bobas canções de amor”, passaram metade dos anos sessenta falando em pegar na mão e beijar na boca. A segunda metade, depois que o mundo já arriara nos quatro pneus, foi só de sexo, drogas e paz e amor. O Padilha fez algo parecido, e isso velho, se é que ele realmente teve a intenção: ficou muito bom!

Quando o filme estreou correu meio mundo ao cinema achando que iam ver mais traficante tomando tiro e deram de cara com aquela dura realidade que ninguém ainda tivera culhão de mostrar: que a violência e a miséria não se originam com bandidinho fodido (sic) da favela. E que toda essa pobreza interessa a um grupo de homens bem “educados”, sem nenhum escrúpulo, que manipulam a imprensa, difamam, perseguem e matam qualquer um idealista besta que se meter em seu caminho e que para se manter no poder são capazes de tudo e, principalmente, estão pouco se lixando para todo o resto.

O filme é uma porrada, mas dessa vez na cabeça certa! Jamais pensei que outra produção nacional pudesse me impressionar tanto quanto Cidade de Deus, mas aconteceu. E o que me deixa mais feliz é saber que essa continuação fez mais sucesso que o primeiro filme, sendo hoje a maior bilheteria do cinema nacional. Tropa de Elite 2 tem algo de Cidade de Deus só que o Zé Pequeno é o sistema corrompido, portanto um Zé grande demais, a mensagem é: todos somos constantemente manipulados e nosso voto é o bem mais precioso para virar essa baiúca...

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