terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Tudo bem, em 2014 (Fernando Gabeira)

O governo anunciou um Sistema de Alerta para desastres naturais. Fica pronto em 2014. Começou a ser montado em 2005. Não decolou por falta de verbas. A demonstração do site Contas Abertas vai no sentido contrário. De cada R$5 , previstos no Orçamento para prevenção de desastres, apenas R$1,15 foi utilizado. Faltaram projetos e decisão política.

Isso até os jornalistas estrangeiros percebem. Não houve investimento político, emocional e financeiro na prevenção de desastres naturais. O governo atuou como se não existissem mais, precisamente num século onde estão se intensificando.

As coisas são tão difíceis no Brasil que o anuncio de um Sistema acaba nos levando ao antes tarde do que nunca. Mas quem garante que agora acontecerá mesmo, se tinham o projeto desde 2005? Não basta desengavetar alguma coisa. É preciso mudar a própria cultura do governo.

A extraordinária mobilização de voluntários mostra que existe, na sociedade, uma compreensão para o problema. Não é algo perfeito, acabado. Mas uma grande possibilidade de parceria se dará por aí.

O simples ato de tirar um projeto da gaveta é muito pouco. Nossa fragilidade em prevenção não se deve apenas a lacunas científicas. É um problema cultural que tem de ser atacado em muitas linhas,com a visão histórica clara de que mudanças culturais levam tempo.

O governo poderia avançar, se analisasse sua atuação aqui e agora, na região serrana. Só domingo à tarde, o general chefe da Casa Militar chegou próximo à idéia de um comando unificado. Só no domingo, foram estabelecidos critérios para as missões de resgate, hierarquia nas tarefas- enfim algo que já deveria estar pronto e ensaiado, antes do desastre.

O incidente de ontem em Teresópolis foi típico. A Prefeitura quis proibir a Cruz Vermelha de distribuir donativos. Queria concentrar tudo em suas mãos. Isto já é uma tentativa de usar os donativos com objetivos políticos eleitorais. Os prefeitos serão submetidos ao voto, no ano que vem.

A sociedade tem se mobilizado para ajudar. Mas não há mobilização para forçar o governo a melhorar sua performance. É como se todos tivessem se resignado a contar apenas com as próprias forças, ignorando que o governo também depende da força social,e, sobretudo, do seu financamento, através dos impostos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário