domingo, 23 de janeiro de 2011

Livro ensina como Mark virou Zuckerberg (Elio Gaspari)

Dentro de poucas semanas chegará às livrarias brasileiras "O Efeito Facebook", do jornalista David Kirkpatrick. É a história do fenômeno criado por Mark Zuckerberg. Para quem viu "A Rede Social" ou leu "Bilionários por Acaso", explica o que fez daquele garoto avoado e mal vestido um dos homens mais ricos do mundo.

Em sete anos, sua rede, nascida num dormitório de Harvard, juntou 500 milhões de usuários ativos, emprega 1.400 pessoas e vale US$ 50 bilhões. É uma aula.

"Efeito Facebook" evitou os adornos folclóricos (ainda que reais) do filme e não centralizou a narrativa na briga com os gêmeos Winklevoss, que acusam Zuckerberg de lhes ter roubado a ideia, nem na disputa com o brasileiro Eduardo Saverin, que foi afastado da gerência comercial do empreendimento, com US$ 2,5 bilhões no bolso.

Kirkpatrick, ex-editor da revista "Fortune", entrevistou Zuckerberg, mas não falou com os gêmeos nem com Saverin.

Seu livro ajuda a buscar resposta para uma pergunta: o que é que transformou Mark Zuckerberg em Mark Zuckerberg?

Hipótese: como Bill Gates, Sergey Brin e Larry Page (a dupla do Google), ele inventou uma novidade genial, e o resto veio junto.

Falso, tanto no caso dele como no dos outros três. Todos tiveram boas ideias, mas não inventaram nada. O sucesso do Facebook, como o da Microsoft e o do Google, é produto de alguma sorte, uma ideia simples obsessivamente aperfeiçoada, e muito trabalho.

Zuckerberg ralou. Quando foi aceito em Harvard, tinha um currículo de aluno excepcional.

Em 2003, aos 19 anos, fazia um bico no David Rockefeller Center for Latin American Studies, programando o acesso on-line de candidatos às bolsas de Jorge Paulo Lemann e conectando impressoras encrencadas.

No ano seguinte, criou uma rede social exclusiva para estudantes, professores e funcionários de Harvard, um dos maiores símbolos da elite americana. Em três semanas, juntou 6.000 usuários.

Depois, expandiu-se para outras escolas, todas selecionadas pela fama. Nascera um produto da elite, para a elite e pela elite. Coco Chanel fez o mesmo com o seu "nº 5", nos anos 20.

Essa é a parte saborosa da história, mas Zuckerberg virou Zuckerberg por decisões muito mais relevantes. Cinco delas:

1) Quando o negócio mal começara, botou a sociedade no papel e ficou com 65% da empresa. Até hoje ele controla a companhia, dominando o Conselho de Administração. (Steve Jobs não fez o mesmo na Apple e foi defenestrado em 1985, retornando 11 anos depois.)

2) Diante do sucesso, percebeu que devia cuidar de Sua Excelência, o Usuário. Até bem pouco tempo, todo o dinheiro que conseguiu foi investido no aluguel de servidores para a rede, impedindo que o sucesso a congestionasse.

3) Ele calibrou a expansão do negócio e obrigou os anunciantes a se adaptar aos seus critérios de sociabilidade. Com isso, está revolucionando o mercado.

4) Quando poderia acreditar que o Facebook estava pronto, foi adiante. Cruzou as informações dos usuários, abriu o site para fotos e hospedou aplicativos. Seguiu a escrita segundo a qual, na internet, tudo o que é aberto, grátis (ou barato), prospera. Quem quer abarcar o mundo fica para trás. (Por exemplo, a Microsoft e, quem sabe, a Apple daqui a muitos anos.)

5) Zuckerberger teve fé no próprio taco. Recusou US$ 10 milhões quando o site não completara um ano e, mais tarde, não o vendeu por US$ 800 milhões para o Yahoo!, nem por US$ 1,5 bilhão para a Viacom. Mais: afastou-se dos executivos que preferiam vender a empresa.

"Efeito Facebook" não ensina como virar Zuckerberg, mas mostra como o segredo está mais no trabalho e na firmeza do que na genialidade. No entanto, que o moço é esquisito, não há dúvida. Quando sua namorada reclamou da sua falta de atenção, contratou que passariam cem minutos semanais a sós, e teriam ao menos um encontro fora da empresa ou da casa dele.

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