sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

VITÓRIA ILHA DO ROCK (Juca Magalhães)

Com relação ao meu último texto, rolou um comentário muito legal do Marcos Valério que me despertou a lembrança e então quero compartilhar com todos...

“Rapaz,
Você falando de roqueiros e tal, e eu abro sua mensagem justo na hora em que o drive do computador roda um cd do Rory Gallagher....
...Beleza de texto (Há Muitos Cabelos Atrás) e daqueles tempos também. Não sou tão antigo, mas ouvi falar muito e de vez em quando rodo uns disquinhos... Rárárá....
...Mas conte mais histórias de roqueiros. Acho que vale um filme, com os antigos roqueiros antigos falando, dedilhando guitarras, colocando discos, um papo no Golias, um luau, um encontro de canjas de vários músicos e "músicos", cenas de praias, garotas, muitas garotas...

... Sei que tem uns sobre bandas atuais, cenas atuais, mas um que junte você e o Sergio Bonaventura (É assim o nome dele?) (Benevenuto, talvez?) e outros roqueiros e essas histórias... Podemos fazer um encontro naquela boate que você lançou o Livro do Pó (Teatcher’s Pub) etc...
... Viajei ...................
Abraços
Marcos Valério”
...................................................................................
Caro Marcos Valério,

Lembro de ter dado entrevista sobre rock para um vídeo/documentário que fizeram faz muito tempo, uns quinze anos. Lembro também de ter ido assistir à primeira exibição da coisa no Cine Metrópolis, salvo engano, com medo de passar vergonha com algum comentário babaca da platéia e nada disso rolou, passei batido, cinco ou dez anos depois do “estrelato” ninguém nem lembrava mais de mim. Não achei ruim, mas me deu um estranhamento por dentro. Na verdade, a única hora em que a platéia fez bagunça e vaiou, foi quando o Edu Henning falou. Talvez vítima da exposição, na época, de seu programa diário na tevê. Como era mesmo o nome dessa porra de video? Catzo, ainda vou lembrar, antes de chegar ao final eu lembro.
O Zé Roberto Santos Neves está trabalhando um texto sobre o rock daquelas épocas, acho que ele vai escrever mais sobre o movimento heavy daqui, que foi interessante e até hoje ribomba nos ouvidos dos mais desavisados. Perguntei pro Zé se ele já tinha ouvido falar de um sabá de bruxas que rolou na UFES, lá nas grimpas dos anos oitenta e que envolveu a nata e a fina flor do metalerismo da época... Nunca soube se essa história era verdadeira, eu já não comungava mais das roupas de couro nem das tachinhas, então não fui testemunha dos negros fatos de arrepiar.
Curioso pensar que isso tudo está intimamente interligado com a Vila Rubim, aliás reduto de boemia e samba e não do heavy metal. Mas falando, pensando e escrevendo sobre magia, esoterismo e aliando isso às lojas de couros e tachinhas acabamos chegando lá. Não tem jeito, nossa "linha espiritual" de feitiçaria e magia negra não está ligada à tradição nem ao imaginário do vodoo, nem de Aleister Crowley, ou coisa que o valha. No final das contas a coisa acaba em samba, terreiro, candomblé e por aí vai.
Não lembrei o nome do filme ainda... Mas vou lembrar, ou então ligar pra Paulinha Portella que eu sei que ela lembra.
Mas então - não sei se você reparou, mas isso já virou um novo texto pra Letra Eletrônica - a lenda diz o seguinte: Em uma terra distante, num lugar muito bem perto da Rua da Lama, os metaleiros ficaram sabendo que ia haver um legítimo "sabath de bruxas" na UFES. Convenhamos, um lugar assaz inesperado para esse tipo de celebração. Porém, talvez pensando que a idéia partira da cabeça de algum irresponsável do curso de artes, a rapaziada do metal, black metal, dark pra caralho à beça, resolveram ir lá mostrar e comprovar que eles sim é que eram os fiéis e legítimos representantes da estética do demo por essas bandas. Ou como diria Macunaíma: falaram mal, preparar o pau!
Fábio Boi, o papa do heavy aqui, chegou mais embriagado que a banda Alcoolhólica inteira, acompanhado de um modesto séqüito de bebuns que incluía figuras como o temível Esmaga Ossos, Churrasco, Batatinha e sei lá mais quem. Logo reivindicou para si a direção dos trabalhos e para provar sua primazia berrou uma música do Black Sabath, deixando boquiabertas as bruxas negras, em nome de Ozzy deu por aberta a sessão. Rapaz... Bem, pra começar as figuras eram feiticeiras do mal mesmo e estavam acompanhadas de noviços rebeldes e musculosos, responsáveis pela segurança do perímetro mágico e obviamente muito úteis também na hora do intróito penetrativo da celebração maligna, se é que vocês vão me entendendo...
Acho que o nome do vídeo era “Vitória Ilha do Rock”, deve até ter no Youtube... (Não achei, acabei de pesquisar, se alguém tiver compartilhe)...
Dizem os mais bem lembrados que a coisa descambou em porradaria com a mesma facilidade de um passe de mágica, no caso um feitiço maligno, com desvantagem numérica, física e alcoólica por parte dos metaleiros locais que, pegos pelo elemento surpresa, levaram uma esfrega daqueles evadindo-se do local em estrepita debandada inglória. Lembro de alguém ter me contado essa história no Adega às gargalhadas – mesmo porque se for verdade é realmente engraçado – só que suspeito que o pessoal da época vá negar o ocorrido ou então dizer que não foi bem assim. Sei que esse foi um texto meio Chacrinha, confunde mais do que esclarece, mas acho que estou numa semana de lembranças e divagações. Talvez o prazer de escrever seja disso: Soltar o dedo e ver o tempo passar.

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