O telefone toca, é uma amiga que não vejo faz tempo, ela está morando na terra das queens.
- Juca, quanto tempo! Tô querendo comprar teu Livro do Pó, na sexta eu volto pra Londres.
- Beleza. - E combinamos de nos encontrar amanhã, tenho consulta com meu quiropraxista. O cara não só acabou com um torcicolo que ganhei no natal, o que prova que Papai Noel também tem senso de humor, como reativou minha coluna. Agora estou me sentindo um Robocop lubrificado!
No almoço contei pra Alice que uma amiga tinha ligado, que havia até sido padrinho de seu casamento, daqueles de igreja e tudo, e que logicamente foi uma piração total. Preparando uma salada ela comentou, usurpando minha prerrogativa roqueira de fazer piadinhas:
- Pois é, seus amigos são tão pirados que alguns até casaram na igreja, hein?. Imagina só...
Não sou católico, ortodoxo, nem romano. Sou capixaba da Praia do Canto e, como a maioria, nasci em família teoricamente religiosa. Meus pais eram daqueles que só iam a igreja em casamentos, batizados e missas de sétimo dia. E o padre que casou meus amigos era ... Como direi? ... Que nem uma madame à beira de um ataque dos nervos. Não posso fazer nada. O cara era assim.
Todos os padrinhos eram músicos, roqueiros de longas cabeleiras, maiores até que a de algumas madrinhas. O padre falava e esperava uma resposta... Nenhum de nós imaginava do que se tratava. O que será tínhamos que dizer? “Ele está no meio de nós?” Percebendo nossa ignorância o pároco agia como se estivesse tratando com o pior da ralé espiritual... O que musicalmente era uma inverdade.
Sua santidade farfalhava as vestes e desferia olhares enfezados em nossa direção. Eu fiz que não era comigo, talvez porque fosse o mais próximo de um visualzinho social - cabelos semi curtos, bainho tomado, até de blazer eu estava - e talvez também por ainda estar “normal”, se é que vocês vão me entendendo. Por isso, quando o padre pediu a colaboração de um dos padrinhos fui escolhido pra pagar de coadjuvante.
Na benção dos familiares os pais da noiva pediram “que Deus desse muito juízo”, já Muralha#, irmão do noivo, lascou um sonoro “Paz e Amor bicho”. Dali fomos para a festa onde faltou luz e o Grilo Falante repetia aos quatro cantos que aquilo era mau presságio. O marido da dona do Buffet era o mais alcoolizado e tomou esporro histérico na frente de todo mundo. Catei uma garota e fui embora mais cedo, um pouco antes que começasse a grossa pancadaria.
Parece que foi por conta da Gabi e seu namorado metaleiro, porque um convidado brigão entrou numas de pegar a moça, daí resolveu bater naquele viadinho cabeludo que estava atrapalhando sua paquera. Ora. Quando conseguiram apartar a confusão o gordo imbecil exibia um tufo de cabelo que arrancara ao escalpo do oponente. Eu não vi a cena, nem a santa biba nervosa, mas suspeito que muito seria de seu agrado.
Obviamente aquele casamento não vingou, como a maioria das coisas daquela época em que éramos cabeludos. Aliás, insistindo na questão capilar, encontrei com Fabio Boi, hoje um careca convicto. Já eu barbudo e coisado. O velho roqueiro, usando sua prerrogativa de fazer piadinhas, falou que eu estava parecendo um arqueólogo. Pode até ser, vivo recuperando coisas antigas, mas por via das dúvidas raspei a barba.
Fabio disse que está fazendo um curso intensivo de guitarra, toca dez minutos a cada três dias! Quando penso que não, me chega um pré-convite para a festa de aniversário do arqui-famigerado Abimir, aka Ab-Gillan. Vai ser em algum lugar de Manguinhos no mês que vem com direito a som e canja da galera precursora do movimento heavy no Espírito Santo. Quando a hora chegar estaremos lá... E tu?
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