Os evangélicos são o ramo religioso mais envolvido na política brasileira. Elegem representantes, criam partidos e não hesitam em usar as eleições para pressionar, ameaçar e chantagear políticos, partidos e governos temerosos de perder aliados e votos.
Já mostraram ter força: têm 15% dos deputados federais. E se apropriam dos votos dos fiéis para uso das igrejas. Isso não ocorre em denominações modernas em que os fiéis têm autonomia de escolha. Nas mais retrógradas, porém, os fiéis são mantidos como cidadãos menores, e seus líderes escolhem por eles.
Em eleições majoritárias, essas igrejas não têm votos suficientes para eleger candidatos próprios. No fazer das alianças, se esforçam em vender a imagem de que são capazes de decidir uma eleição.
Candidatos sem vínculo com a religião aceitam o jogo, beijam a mão do bispo, saem em peregrinação por templos que desconhecem, renegam projetos que possam ofender os aliados religiosos da hora.
Nunca houve, contudo, comprovação de que um candidato tenha ganhado ou perdido uma eleição majoritária por apoio ou veto de igrejas.
Nesta campanha não faltam candidatos batendo à porta de igrejas em busca de bênçãos que não combinam com suas posições nem com valores republicanos.
Ninguém quer correr riscos. Sobretudo quando o campeão de intenção de voto do momento, Celso Russomanno, é de um partido controlado por uma igreja neopentecostal.
Mas os votos da igreja que lhe dá sustentação são insuficientes. Ele precisa de votos dos não evangélicos. A encenação é dupla: ser da igreja para os de dentro, para não perder os votos da casa, e não ser da igreja para os de fora, para ter o voto dos demais.
REGINALDO PRANDI é professor da USP.(Folha de São Paulo)
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