Meu primeiro passaporte (1966) parecia uma caderneta de fiados do armazém. Na capa dura verde, as armas da república e a procedência: Estados Unidos do Brasil.
O segundo passaporte veio corrigido: Republica Federativa do Brasil.
Em nosso país os Estados sempre estiveram juntos; não fomos unidos, mas repartidos, nascemos gêmeos ou de uma ninhada republicana. Isto ajudou a manter a nossa integridade territorial e a prevalecer o sentimento de fraternidade.
O federalismo se justifica por harmonizar tendências diversas inerentes às diferentes regiões do país, promovendo desenvolvimento equilibrado, igualdade social e garantindo o ir e vir de todos os brasileiros. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo remetem para os cofres da União quantias que chegam a ser 10 vezes maiores que o montante do investimento federal em seus territórios. Enquanto quase todos os outros estados recebem muito mais do que contribuem. O caso do ES é radical. Saem daqui para o Tesouro Nacional quase R$ 10 bilhões, e recebemos menos de R$ 1 bilhão em investimentos.
A navegação foi o principal meio de transporte do sec. XVI ao sec. XX, devido à nossa localização costeira, sempre recebemos muitos imigrantes. Estatísticas mostram que em São Mateus (1875) residia pelo menos um cidadão de cada um dos Estados brasileiros. No último censo fomos campeões no quesito imigração. Hoje, são “novos capixabas” residentes aqui, mais de um milhão de cidadãos nascidos em outros estados. Embora nossa estrutura seja precária, a convivência é harmoniosa.
Na segunda metade do século passado, com a quebra do café no Brasil e a “vassoura de bruxa” destruindo o cacau no sul da Bahia, a industrialização do ES foi acelerada para criar empregos atendendo a uma grande massa de desempregados que chegou às nossas cidades.
Crescemos desordenadamente. Inchamos. Adoecemos. Submetemos nosso ar, solo e água ao interesse nacional: assim, construíram as megaempresas exportadoras, que geram IPI (imposto federal). O grande e rápido fluxo de imigrantes trouxe problemas que não conhecíamos, e os que já existiam se multiplicaram em número e grau. Somos campeões em violência e derrotados em educação
Com a sangria de recursos feita pelo Governo Federal, não conseguimos arrumar a casa para receber bem aqueles que chegam. Não podemos atender às demandas crescentes nas áreas de: segurança, saúde, educação, habitação, transporte, saneamento... O que prejudica a todos.
Rousseau propôs a antítese entre o cidadão e o burguês: burguês não é o nobre nem o rico, é o egoísta que se ocupa dos próprios interesses para atender a sua vontade particular; enquanto o cidadão procede observando a vontade geral.
Deputado federal é cidadão da República. Deve pensar e agir a favor do país como um todo. Representando seu estado, contribui para formar o pensamento e juízo nacional, de acordo com a tradição republicana.
Acredito que Deputados e Senadores refletindo sobre a ética republicana de integração nacional, e sendo o país governado por uma presidenta com forte histórico socialista, há de prevalecer a atitude cidadã sobre o espírito egoísta deste precedente burguês extemporâneo, que pretende subtrair direito adquirido, tumultuando a ordem e o progresso nacional.
Os royalties do petróleo são o capital necessário para minimizar os problemas sociais multiplicados por mantermos ampla cooperação republicana, braços estendidos para dar e coração aberto para receber nossos irmãos.
Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com 10/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário