Um dos mais fiéis representantes da corrente cepalista, o economista Antônio Barros de Castro, que morreu ontem em seu escritório na sua casa em Humaitá, na zona Sul do Rio, será lembrado como um dos maiores pensadores contemporâneos da história econômica do País.
Detalhista, aplicado e inquieto, Barros de Castro foi, sobretudo, um dos primeiros acadêmicos do Brasil a pensar o país pelo mundo real da economia.
Entre sua vasta obra, dois livros se destacam. Os clássicos “Introdução à Economia, uma análise estruturalista”, que fez junto com Carlos Lessa e que serve de porta de entrada a todo estudante que se inicia no curso de economia, e “A economia brasileira em marcha forçada”, que escreveu com Francisco Eduardo Pires de Souza e que descreve a transformação da indústria brasileira no período militar.
Estive com ele várias vezes no seu escritório na sua casa em Humaitá, onde ele morreu, seu lugar predileto para ler, pensar e conceder entrevistas.
Barros de Castro tinha uma compreensão do mundo sempre com a preocupação histórica de longo prazo. Era uma usina de ideias.
Fiz e refiz várias entrevistas com ele. O perfeccionista Barros de Castro sempre tinha uma frase, um raciocínio novo, uma palavra para acrescentar à sua ideia original, já genial, inovadora, avançada, mas sua inquietação intelectual nunca o deixava conformado.
Quando presidente do BNDES no governo Itamar Franco, teve de várias vezes, sempre com a sua eterna paciência e didatismo, conter os arroubos românticos do seu chefe.
Numa das vezes que fui visitar Castro no BNDES, ele tinha acabado de receber um dos vários pedidos do então presidente Itamar Franco.
Itamar Franco queria que o BNDES socorresse o Jornal do Brasil, já nos extertores.
O BNDES proíbe qualquer tipo de financiamento a órgãos de comunicação. Castro riu do pedido, e foi a Brasília explicar a Itamar. O mundo real contrastava com o mundo romântico.
Nos últimos anos, se dedicou a estudar a influência da China sobre o Brasil e o mundo. Foi ele o responsável, muito antes de a crise de 2008 mostrar a cara, por criar a expressão “sinocêntrico” (o mundo liderado pela China).
Castro enxergava longe. Seus textos devem ser revistos.
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