A presidente Dilma Rousseff perdeu quatro ministros.
Suas demissões abalaram o governo. Causaram severo desgaste à coalizão de partidos que apoiam a presidente no Congresso, incomodando políticos, sobretudo no PMDB -que pode bloquear propostas na Câmara- e no PT.
Críticos alegam que uma cultura da corrupção é onipresente no Brasil. Mas também devemos colocar a situação em perspectiva. Como o país se compara, por exemplo, com outros grandes países em desenvolvimento -Rússia, Índia, China e África do Sul?
A Transparência Internacional publicou um índice de percepção de corrupção em 2010, em que o Brasil ocupa o 69º lugar entre 178 países pesquisados. Está melhor que a China, que vem em 78º; a Índia, em 87º; e muito adiante da Rússia, em 157º. A África do Sul está em 50º.
Muitas das alegações sobre corrupção se relacionam a questões como propinas a policiais para ignorar violações de trânsito, caixinha a funcionários do setor de passaportes para apressar o processamento de documentos e comissões pagas por empresários a autoridades e políticos em troca de contratos do governo.
A Transparência Internacional constatou que 45% dos indianos tinham experiência pessoal no pagamento deste último tipo de suborno. O caso de Anna Hazare, 74, líder populista de Nova Déli, mostra o quanto os indianos estão zangados com o relacionamento sórdido e lucrativo que existe entre os políticos e os novos bilionários do país, e a falta de resposta do governo do premiê Manmohan Singh.
Milhares de pessoas se manifestaram em favor da greve de fome realizada por Hazare -inspirada em Gandhi- e contra a sua detenção. Exigem que a corrupção seja tratada como inaceitável.
Na Rússia, onde a corrupção é endêmica, o presidente Medvedev encaminhou um projeto de lei à Câmara Baixa da Duma, o Legislativo russo, que cria multas para os funcionários que aceitem propinas.
Na China, onde a estimativa é de que 18 mil funcionários do governo tenham faturado cerca de US$ 120 bilhões em ganhos indevidos desde 1990, dois vice-prefeitos foram recentemente executados sob acusações de corrupção.
A Transparência Internacional criou um "corruptômetro". Nele, dez representa "corrupção zero" e zero representa "completamente corrupto". O Brasil tem nota 3,7 nesse indicador, ante 2,1 para a Rússia, 3,3 para a Índia e 3,5 para a China.
Dinamarca e Nova Zelândia lideram com 9,3.
A nota do Brasil não está entre as melhores. Mas o país pelo menos tem a vantagem de contar com uma imprensa independente e crítica. Nesse sentido, os dilemas de Dilma são causa de esperança.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO (25 agosto de 2011)
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