Passadas algumas semanas da eleição municipal, pouco - quase nada - foi
debatido sobre as razões do resultado eleitoral. O mais que se disse
ficou na superfície, no marqueteiro, no jingle, no gesto da mudança.
Imaginar que isso tenho decidido a eleição é menosprezar o eleitor de
Vitória e a própria política.
Tenho convicções firmes sobre a política. Uma de que o eleitor sempre
vota de acordo com que acredita vai tornar sua vida melhor. Outra de que
o eleitor sempre escolhe uma utopia, que a razão do voto é como a razão
da fé: a crença não redutível à razão de que assim o mundo, a cidade, a
vida será melhor. E o eleitor de Vitória é sofisticado, decide com base
nessas motivações de forma bastante sutil e inteligente.
Afastada a hipótese de que da eleição é uma guerra de marketing, temos
que afastar também a ideia de que Luciano Rezende era um azarão. Não
era, nunca foi. Quem tiver curiosidade visite os diversos artigos que
publiquei aqui desde março: sempre apontei que Luciano tinha viabilidade
eleitoral, que podia sair vitorioso e que, num segundo turno, teria
grande possibilidades de vitória.
A pergunta é por que Luciano Rezende venceu a eleição contra uma
liderança consolidada e bem avaliada - Luiz Paulo - apoiada em dois
partidos tradicionalmente fortes na capital - PSDB e PMDB - e pelo
ex-governador Paulo Hartung?
A resposta é que Luciano foi percebido pela maioria dos eleitores como
capaz de tornar suas vidas melhores e, especialmente, que Luciano
Rezende foi o portador de uma utopia que fez eco nos desejos dos
eleitores - utopia que eu não fui capaz de entender durante o período
eleitoral (ver Declaração de voto).
A utopia do simples
A candidatura de Luciano Rezende foi ancorada da concepção de um
terceira via, em proposta simples e percebidas como claramente
exequíveis e na força motriz da participação.
A terceira via estava fundamentada no histórico do candidato. Deputado
estadual, coerente e firme opositor ao governo de João Coser, liderança
presente no cotidiano da cidade e ex-secretário municipal e estadual de
diversas pastas. Apresentou-se então como uma terceira via - afastada
dos jogos políticos que dominaram a cidade nas últimas décadas, mas com
currículo que o fez confiável.
As propostas simples, como retomar projetos já bem sucedidos (a educação
ampliada por exemplo), limpar os terrenos baldios da cidade e unir-se
aos projetos com os quais o governo estadual já estava comprometido,
foram a marca do programa do candidato. Essas propostas reforçaram o
conceito de liderança confiável e permitiram ao eleitor ter uma ideia
tangível - e considerada possível - do que será o seu governo. Luiz
Paulo apostou em uma utopia do tipo tradicional, com grandes
transformações e sonhos, como o projeto Terra Verde.
Por fim, a participação. Especialmente no segundo turno, Luciano Rezende
dedicou-se a promover o conceito de governo participativo. Mais uma vez
com simplicidade - ao contrário de Luiz Paulo que apontou para
mecanismos estruturantes de participação (os prefeitinhos) e de relação
com a região metropolitana (a agência de transporte coletivo) - Luciano
foi direto ao ponto: o prefeito vai despachar nas regiões
administrativas.
A ideia do prefeito indo até as regiões administrativas, transferindo
simbolicamente a prefeitura para cada uma das regiões da cidade, soa
populista. Mas não foi percebida assim: foi lida como ato simples e
direto que pode criar a oportunidade para que cada morador da cidade
participe das soluções, não apenas com o voto, ou com ideias, mas também
com práticas compartilhadas com o governo municipal.
Essas ideias, resumidas no conceito - e porque não, no gesto - de
mudança, foram fundamentais para o resultado eleitoral. Ideias bastante
próximas foram percebidas em uma pesquisa realizada pelo Instituto
Democracia e Sustentabilidade com jovens paulistanos. Vale conferir (o
vídeo está logo abaixo), tendo em mente a ideia da utopia da
simplicidade, da mudança construída não pela revolução institucional,
mas pela transformação do cotidiano - que leva à mudança institucional.
Passadas algumas semanas da eleição municipal, pouco - quase nada - foi
debatido sobre as razões do resultado eleitoral. O mais que se disse
ficou na superfície, no marqueteiro, no jingle, no gesto da mudança.
Imaginar que isso tenho decidido a eleição é menosprezar o eleitor de
Vitória e a própria política.
Tenho convicções firmes sobre a política. Uma de que o eleitor sempre
vota de acordo com que acredita vai tornar sua vida melhor. Outra de que
o eleitor sempre escolhe uma utopia, que a razão do voto é como a razão
da fé: a crença não redutível à razão de que assim o mundo, a cidade, a
vida será melhor. E o eleitor de Vitória é sofisticado, decide com base
nessas motivações de forma bastante sutil e inteligente.
Afastada a hipótese de que da eleição é uma guerra de marketing, temos
que afastar também a ideia de que Luciano Rezende era um azarão. Não
era, nunca foi. Quem tiver curiosidade visite os diversos artigos que
publiquei aqui desde março: sempre apontei que Luciano tinha viabilidade
eleitoral, que podia sair vitorioso e que, num segundo turno, teria
grande possibilidades de vitória.
A pergunta é por que Luciano Rezende venceu a eleição contra uma
liderança consolidada e bem avaliada - Luiz Paulo - apoiada em dois
partidos tradicionalmente fortes na capital - PSDB e PMDB - e pelo
ex-governador Paulo Hartung?
A resposta é que Luciano foi percebido pela maioria dos eleitores como
capaz de tornar suas vidas melhores e, especialmente, que Luciano
Rezende foi o portador de uma utopia que fez eco nos desejos dos
eleitores - utopia que eu não fui capaz de entender durante o período
eleitoral (ver Declaração de voto).
A utopia do simples
A candidatura de Luciano Rezende foi ancorada da concepção de um
terceira via, em proposta simples e percebidas como claramente
exequíveis e na força motriz da participação.
A terceira via estava fundamentada no histórico do candidato. Deputado
estadual, coerente e firme opositor ao governo de João Coser, liderança
presente no cotidiano da cidade e ex-secretário municipal e estadual de
diversas pastas. Apresentou-se então como uma terceira via - afastada
dos jogos políticos que dominaram a cidade nas últimas décadas, mas com
currículo que o fez confiável.
As propostas simples, como retomar projetos já bem sucedidos (a educação
ampliada por exemplo), limpar os terrenos baldios da cidade e unir-se
aos projetos com os quais o governo estadual já estava comprometido,
foram a marca do programa do candidato. Essas propostas reforçaram o
conceito de liderança confiável e permitiram ao eleitor ter uma ideia
tangível - e considerada possível - do que será o seu governo. Luiz
Paulo apostou em uma utopia do tipo tradicional, com grandes
transformações e sonhos, como o projeto Terra Verde.
Por fim, a participação. Especialmente no segundo turno, Luciano Rezende
dedicou-se a promover o conceito de governo participativo. Mais uma vez
com simplicidade - ao contrário de Luiz Paulo que apontou para
mecanismos estruturantes de participação (os prefeitinhos) e de relação
com a região metropolitana (a agência de transporte coletivo) - Luciano
foi direto ao ponto: o prefeito vai despachar nas regiões
administrativas.
A ideia do prefeito indo até as regiões administrativas, transferindo
simbolicamente a prefeitura para cada uma das regiões da cidade, soa
populista. Mas não foi percebida assim: foi lida como ato simples e
direto que pode criar a oportunidade para que cada morador da cidade
participe das soluções, não apenas com o voto, ou com ideias, mas também
com práticas compartilhadas com o governo municipal.
Essas ideias, resumidas no conceito - e porque não, no gesto - de
mudança, foram fundamentais para o resultado eleitoral. Ideias bastante
próximas foram percebidas em uma pesquisa realizada pelo Instituto
Democracia e Sustentabilidade com jovens paulistanos. Vale conferir (o
vídeo está logo abaixo), tendo em mente a ideia da utopia da
simplicidade, da mudança construída não pela revolução institucional,
mas pela transformação do cotidiano - que leva à mudança institucional.
Fonte: Blog de Joca Simonetti (20/11/12)
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