Junto com Heloísa Helena, Babá e João Fontes, fui expulsa do PT por
votar contra a Reforma da Previdência – a mesma que foi objeto da compra
de votos através do mensalão. Quem comandou a nossa expulsão foi José
Dirceu e quem executou foi Delúbio Soares, com a anuência de
José Genoíno. Conheço muito de perto todo este episódio da história
brasileira. Condenados por corrupção ativa e formação de quadrilha,
agora querem se passar por vítimas, como se fossem perseguidos políticos
ou condenados sem provas. Nada mais falso. Estão sendo condenados por
crimes de corrupção, por “comprar” parlamentares da direita, por desviar
verba publica e uma série de condutas que tem como maior vítima o povo
brasileiro.
O voto do Min. Joaquim Barbosa cumpriu importante papel para sepultar
falácias, na medida em que nada constrange mais do que a apresentação
dos fatos concretos que provam que toda a articulação era promovida pelo
então Ministro Chefe da Casa Civil. Ou alguém duvida que José Dirceu
tinha o completo “domínio dos fatos”? Se o Supremo não fosse composto
por uma maioria de Ministros nomeada por Lula e Dilma a suspeita de um
perseguição política até poderia ser legítima. Mas não é o caso. 8 dos
11 Ministros que iniciaram o julgamento foram indicados por eles. Seria
então um complô dos Ministros do STF, nomeados pelo PT contra o próprio
PT, que instigados pela mídia anti-petista julgam e condenam sem provas
pessoas inocentes? Alegação risível e patética que só serve para o PT
tentar justificar o fato de que estes dirigentes condenados seguem
filiados, e no caso de José Dirceu, ainda com considerável poder
político no partido.
O falso discurso de defesa das garantias constitucionais também não
cabe aqui. Nenhum dos réus do mensalão está desprotegido como os pobres
que caem todos os dias nas garras do sistema jurídico-penal. O
julgamento destes, em geral condenados e encarcerados em prisões
imundas, não é notícia, exceto quando um juiz rebelde resolve
soltá-los. Aos réus do mensalão não falta dinheiro – quiçá ainda do
Valerioduto – e ótimos advogados.
Sim, é verdade que o mensalão começou com o PSDB, que FHC comprou
votos para a sua reeleição,que eles não foram sequer julgados e que a
mídia pouco fala destes casos. (Mídia, aliás, que os dirigentes petistas
criticam agora, mas que estando no poder há mais de 10 anos nada
fizeram para democratizá-la.) Acontece que a impunidade de uns não
justifica a impunidade de outros. É preciso que este sistema político
podre seja julgado e condenado. Para isso, seus beneficiários – sejam os
operadores práticos, sejam os mentores – terão que ir ao banco dos
réus. José Dirceu não é o único que merece estar lá. Mas que ele merece,
não tenho dúvidas.
É claro que a condenação de José Dirceu não significa que agora a
impunidade de corruptos e corruptores vai acabar. Ao contrário.
Condena-se um, mas o balcão de negócios da política FHC-Lula-Dilma
continua o mesmo. Ele é fundamental para o gerenciamento dos negócios
capitalistas. Por isso, aos que não aceitam fazer coro com a direita mas
que também não querem conviver com a corrupção como um método
aceitável para governar – consequência da escolha feita pelo PT que
sucumbiu ao regime – resta construir uma alternativa política. O PT
fez história, mas sua veia de esquerda tenta alimentar-se de uma passado
que não mais voltará. E hora de olhar para frente e construir o futuro.
Luciana Genro, é advogada, ex-deputada federal do PSOL.
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