terça-feira, 6 de setembro de 2011

MARIA NILCE, CABRITOS E BERROS (Juca Magalhães)

No final da semana passada recebi um comunicado da diretora da Bilbioteca Estadual, Nádia Alcure, reiterando sua preocupação na tentativa de descobrir o paradeiro do antigo arquivo do Jornal da Cidade. Disse que o Secretário Frei Paulão está ciente do problema e que o Estado manifesta preocupação com a situação. Fiquei satisfeito por finalmente ter, pelo menos, alguma resposta dos responsáveis pela Biblioteca.

Reafirmo que nunca tive a menor intenção de fazer “barraco denunciatório”, nem exigir punição para ninguém, mas sim de tentar preservar um cadinho da historicamente mal conservada e bastante manipulada história oficial do Estado do Espírito Santo. Muita gente tenta e algumas realmente conseguem perpetuar suas versões da realidade em nossa sociedade, vide aquela reportagem sobre a bomba no Jornal da Cidade que mostrou como isso acontece.

Na vida nem sempre "vale o que está escrito", mas, na falta de testemunhas confiáveis, as várias versões de fatos do passado podem fornecer um panorama bem mais autêntico de uma determinada época. É preocupante e também de se perguntar das razões e intenções dos órgãos oficiais quando algumas versões documentadas da história começam simplesmente a desaparecer.

Com relação ao texto que postei e que sei que nem todos leram, porque não o enviei por email, tive um retorno muito legal de Marcus Machado do blog “Opinião e Cultura” que quero compartilhar. Atentem para a forma cautelosa que o amigo se exprime, parece que está caminhando descalço numa sala cheia de cacos de vidros. Isso foi o que mais me agradou no texto, porque mostra o quanto esse assunto é delicado e merece ser conhecido por todos. Boa Leitura.


Maria Nilce, cabritos e berros...
Na sociedade capixaba, como tantas outras desde Choderlos de Laclos, é importante ter sorrisos infláveis e apertos de mãos assépticos. É o que me disse certa vez uma experiente raposa social: nesse contexto, o bom cabrito não berra! Desse modo, sempre que prejudicado ou ironizado, o melhor seria absorver o golpe e esperar uma boa oportunidade para revidá-lo. Tudo com o mais fino requinte. Uma estocada digna de um “touché” ecoado nos corredores de Versalhes. Conhecedores dessa arte muitos se perpetuam nas solenidades e eventos da província vitoriana. Na calada da noite, no aconchego dos escritórios e no amparo dos escudeiros fiéis articulam suas estratégias de inclusão social engolindo sapos e mais sapos, deixando a lagoa apenas à luz da lua. Outras pessoas, por não terem essa, digamos, habilidade, são excluídas desse convívio. Algo perfeitamente compreensível já que as pessoas tendem a se aglutinar em torno de posturas e percepções comuns a todos que convivem em um ambiente social. Isso faz parte do ser humano. É o seu instinto animal, em cujo reino existem tais convivências afins. No entanto, entendo que não é admissível assassinar alguém por motivos dessa natureza. Alguém que não foi um bom cabrito e berrou. Alguém que ofendeu ou ironizou o código de ética social de um grupo específico pela natureza de sua personalidade ou postura empresarial. A sociedade contemporânea, pós-barbárie, tem meios legais para se proteger e fazer valer seus direitos e razões. A justiça não pode ser feita pelas próprias mãos, mas pela égide da magistratura. Esse pequeno texto surge em razão de um bom artigo do Juca Magalhães, em seu blog www.megamagalhaes.blogspot.com . Eu não conheci Maria Nilce nem frequentei o ambiente social ao qual ela se referia e fazia parte, mas não abro mão do direito de conhecer a história de nossa cidade. E ter acesso ao Jornal da Cidade seria uma boa maneira de conhecê-la de forma complementar aos demais jornais existentes. Apagar arquivos legítimos, admirados ou não, é uma forma explícita de que ainda existem cabritos que não berram e ainda apagam o berro dos outros. Nossa história não merece essa mediocridade. E nem que um jornal, à época, estampasse uma charge desse teor, in memoriam, como mostra a figura ao lado. Tenho certeza que hoje há um arrependimento tanto do chargista quanto do próprio jornal

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