Divulgação/ Biografia Marighella
Marighella deputado, com um dos seus três ternos
Nos anos 50, organizou greves, foi à China e à
União Soviética. Veio a ditadura em abril de 64, e em julho quiseram
prendê-lo em um cinema na Tijuca. Reagiu, levou um tiro e foi levado no
camburão. Mais adiante, passou à luta armada, quando Moscou era contra e
rompeu com o PCB. Criou a ALN e aparecia nos cartazes de “terroristas
procurados” do regime militar.
Homem de ação, escreveu o “Minimanual do
Guerrilheiro Urbano”, apanhado de erros e acertos da ALN que se tornou
um sucesso na esquerda internacional. Em “Ditadura Escancarada”, o
jornalista Elio Gaspari diz que o “guerrilheiro urbano de Marighella é
algo mais que um super-homem”. A descrição é a de, no mínimo, um James
Bond, o 007 dos filmes e livros de Ian Fleming.
“É muito importante aprender a conduzir um
automóvel, pilotar um avião, dirigir um barco a motor ou a vela”, [o
guerrilheiro] deve “conhecer a arte de se disfarçar”, ter “conhecimento
de química e de combinação de cores, fabricação de carimbos, o perfeito
conhecimento de caligrafia e de imitação das escritas”, “ser um grande
tático e um bom atirador”. O próprio Marighella falharia em cumprir uma
das mais prosaicas “exigências”: não dirigia. A peruca do disfarce
tampouco enganou a polícia na noite de sua morte.
Divulgação / biografia Marighella
Capa da biografia de Marighella, de Mário Magalhães
Magalhães afirma que, apesar de se definir como
“terrorista” e guerrilheiro, Marighella condenava atentados contra
alvos civis e usava a concepção de “terror” da Resistência francesa à
ocupação nazista na 2ª Guerra Mundial.
Na ilegalidade, o protagonista do livro recebeu
dinheiro da União Soviética e o autor revela até um “mensalinho” do
insuspeito governador de São Paulo Adhemar de Barros – cujo cofre, após a
morte, abasteceria outra organização armada, a VAR-Palmares, que o
roubou no Rio.
O famoso “ouro de Moscou”, entregue ao PCB no
início dos anos 1960, equivaleria hoje a algo entre US$ 752 mil e US$
1,13 milhão pagos anualmente e superava, para efeito de comparação, o
arrecadado em 30 roubos pela ALN em 1968. Antes chamado de “traidor” por
Marighella, Adhemar de Barros lhe pagava um “mensalinho” de cerca de
US$ 10 mil, em apoio ao PCB clandestino. “Esse mensalinho não lustra a
biografia de ninguém”, disse Mário Magalhães.
Fez curso de guerrilha em Cuba e mandou guerrilheiros
para lá, comandou assaltos, teve amantes – dizia que “o adultério é tão
inevitável como a morte” – e foi espionado pela CIA e o KGB. Mesmo
dirigente máximo da ALN, organização de luta armada que fundou, foi “o
último a saber” do mais audacioso golpe da guerrilha no Brasil: o
sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em setembro de 69.
Foi ação da DI-GB (Dissidência Comunista da Guanabara), com o apoio da
ALN. “Cutucaram a onça com vara curta”, pressentiu Marighella.
Morte
Divulgação/ Biografia Marighella
Mário Magalhães levou nove anos para escrever a biografia de Marighella
Foi morto exatos dois meses depois, pela equipe do
policial Sergio Fleury, cujos métodos de tortura superavam os do nazista
Klaus Barbie, o “Açougueiro de Lyon” da 2ª Guerra Mundial, na avaliação
de um ex-membro da Resistência francesa, sobrevivente do suplício
físico nos dois lugares.
Diferentemente do que a polícia alardeou à época, estava
desarmado e sem seguranças. Segundo o autor, Marighella só portava seu
revólver calibre 32 ou sua pistola 9mm em ações, o que não ocorria já
havia algum tempo.
O guerrilheiro – ou terrorista, dependendo do ponto de vista – mais procurado do País morreu sozinho, cercado de inimigos.
Lançado no fim de outubro, no ano seguinte ao
centenário de nascimento do protagonista, o livro já teve 27 mil
exemplares impressos (a tiragem inicial foi de 12 mil) e recebeu o
Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes, como melhor
biografia de 2012.
O autor disse ter recebido três sondagens
para adaptações para o cinema. “A dúvida é se o ator principal será
Denzel Washington ou Wesley Snipes. As mulheres preferem Washington”,
brinca.
Secretaria da Segurança Pública SP/DIvulgação
Marighella, morto no Fusca, em 1969
Nenhum comentário:
Postar um comentário