Governo foi (mineiramente) matreiro na movimentação e articulação política
Nesta metade do seu primeiro mandato, o governador Renato Casagrande
(PSB) foi (mineiramente) matreiro na movimentação e articulação
política. Foi prudente no manejo da política fiscal. Foi inicialmente
tímido, mas depois corajoso no exercício da diplomacia federativa.
Iniciou uma ainda tímida reformulação de prioridades na agenda
econômica. E foi muito conservador na agenda social da segurança, da
saúde e da educação.
Tudo somado, com nuances aqui e ali, trata-se de um governo ainda mais
de reação do que de ação e proatividade e protagonismo. Reação ao seu
contexto histórico de mudança de conjuntura econômica e de exacerbação
de conflitos federativos. Reação, ainda, à “cultura da unanimidade
política” gestada na Era Hartung e incorporada como prática às
movimentações dos atores políticos regionais e locais. O governador fala
em equilíbrio e unidade. Os políticos, em geral, aderem.
O fato é que esta “cultura de unanimidade” parece ter impregnado até o
próprio autor do mantra da “unanimidade bonapartista”, Luiz Paulo
Vellozo Lucas (PSDB) - que estaria agora em articulação para atuar em
importante assessoria no BANDES-Banco de Desenvolvimento do Espírito
Santo, cedido pelo BNDES para se incorporar à equipe do governo
Casagrande. Equilíbrio, unidade ou unanimidade. Não importa o rótulo.
Tudo faz parte da recorrência de uma certa tradição oligárquica do tipo
“política-de-todos-com-todos”, seduzidos pela caneta do governador e
pelo charme do poder.
Pois bem. Depois desta fase reativa do governo e do governador, a
indagação que se faz é se o tom do governador Renato Casagrande em suas
entrevistas de balanço de final de ano, quando ele tem assumido
pessoalmente o desgaste de admitir que a segurança pública não vai bem,
será um novo tom, mais de ação e protagonismo e menos de reação à
conjuntura econômica e à “herança” da cultura da unanimidade da Era
Hartung. Disse ele: “não temos nada a comemorar no índice de homicídios”
(A Gazeta, 19/12/2012).
Para mudar o tom, a narrativa e a agenda governamental e regional,
Casagrande vai precisar de mais ousadia política para poder inverter
prioridades principalmente no campo da agenda social. Inversão de
prioridades. Este é o nome do jogo para criar a “marca Casagrande”.
Será, ao fim e ao cabo, lá no final, o governo Casagrande um “governo de
gente”? Ou teremos mais do mesmo da agenda de ajuste fiscal, de foco na
gestão de meios e de agenda econômica e tecnocrática? Será preciso
ousar para mudar. E a ousadia é possível: o governo criou bases política
e fiscal para iniciar esta mudança de prioridades na segunda metade do
seu primeiro mandato.
O fato é que a unanimidade política do governo Casagrande, tão bem
apontada, com o seu contumaz descortínio, pelo professor Roberto Simões
em entrevista à Século Diário, não é politicamente sustentável. Ela é
uma unanimidade-pelo-alto, costurada no plano das elites políticas a
partir da sedução da caneta e do charme do poder. Ela carece de base
social, de enraizamento. E é aí que mora o problema.
Até quando a sociedade vai conviver com a insegurança, com a baixa
resolutividade na saúde e com a baixa qualidade na educação? Lá na
frente, em 2014, o que será dito na eventual campanha do governador pela
re-eleição diante das filas nos hospitais e das mortes e tiroteios nas
ruas? Imagens fortes... Propícias para uma candidatura alternativa que
tenha o discurso da família, como é o caso de uma eventual candidatura do senador Magno Malta ao governo estadual.
Volto ao professor Roberto Simões: os indicadores sociais ruins do
Espírito Santo estão em nítido contraste com os seus indicadores fiscais
e econômicos. E agora, além de afetarem a própria população do estado
(“governo de gente”?), afetam também a própria capacidade do estado
atrair investimentos. Com efeito, no Ranking de Gestão dos Estados
Brasileiros (feito pela Unidade de Inteligência da revista Economist) o
Espírito Santo patina na oitava posição com a classificação de
“moderado”. Tido por alguns analistas nacionais como “Tigre Asiático”, o
estado estacionou em matéria de competitividade. Não vai bem, por
exemplo, em termos de inovação e em termos de ambiente político. E o seu
quadro de insegurança e sensação de insegurança certamente afeta o ambiente de negócios.
Aqui também, no plano econômico, é preciso inversão de prioridades. Ao
lado da agenda da diplomacia federativa, que consumiu 2011 e 2012 e
ainda vai perdurar, é importante uma agenda de diplomacia empresarial
mais agressiva, tanto no plano nacional quanto no plano internacional.
Trabalhar as ideias de plataforma logística, de adensamento das cadeias
produtivas existentes e de continuidade no estímulo aos arranjos
produtivos locais. Mas trabalhar com mais agressividade na diplomacia
empresarial de atração de investimentos. Contando com a abertura de
linhas de crédito de nada mais nada menos do que R$ 3,4 bilhões pelo
governo federal, que permitiu o recém lançamento do PROEDES, o Espírito
Santo tem uma oportunidade histórica para abrir novo ciclo de desenvolvimento, com inversão de prioridades.
Agenda social e diplomacia empresarial, ao lado da diplomacia
federativa. Ações que podem criar marcas próprias para o governo
Casagrande. Compreendendo que não há caldo de cultura para uma
construção de unanimidade política. Esta unanimidade tem pernas curtas e
prazo de validade. O momento histórico do governo Casagrande é
diferente do momento histórico do governo Hartung. A força política do
governo Casagrande precisa da costura política intra-elites. Mas precisa
muito mais da costura de políticas públicas de qualidade. Isto o seu
governo ainda está devendo.
Fonte: Século Diário
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