quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Ecos do governo Casagrande (Antônio Medeiros)

Governo foi (mineiramente) matreiro na movimentação e articulação política
Nesta metade do seu primeiro mandato, o governador Renato Casagrande (PSB) foi (mineiramente) matreiro na movimentação e articulação política. Foi prudente no manejo da política fiscal. Foi inicialmente tímido, mas depois corajoso no exercício da diplomacia federativa. Iniciou uma ainda tímida reformulação de prioridades na agenda econômica. E foi muito conservador na agenda social da segurança, da saúde e da educação.
 
Tudo somado, com nuances aqui e ali, trata-se de um governo ainda mais de reação do que de ação e proatividade e protagonismo. Reação ao seu contexto histórico de mudança de conjuntura econômica e de exacerbação de conflitos federativos. Reação, ainda, à “cultura da unanimidade política” gestada na Era Hartung e incorporada como prática às movimentações dos atores políticos regionais e locais. O governador fala em equilíbrio e unidade. Os políticos, em geral, aderem.
 
O fato é que esta “cultura de unanimidade” parece ter impregnado até o próprio autor do mantra da “unanimidade bonapartista”, Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) - que estaria agora em articulação para atuar em importante assessoria no BANDES-Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo, cedido pelo BNDES para se incorporar à equipe do governo Casagrande. Equilíbrio, unidade ou unanimidade. Não importa o rótulo. Tudo faz parte da recorrência de uma certa tradição oligárquica do tipo “política-de-todos-com-todos”, seduzidos pela caneta do governador e pelo charme do poder.
 
Pois bem. Depois desta fase reativa do governo e do governador, a indagação que se faz é se o tom do governador Renato Casagrande em suas entrevistas de balanço de final de ano, quando ele tem assumido pessoalmente o desgaste de admitir que a segurança pública não vai bem, será um novo tom, mais de ação e protagonismo e menos de reação à conjuntura econômica e à “herança” da cultura da unanimidade da Era Hartung. Disse ele: “não temos nada a comemorar no índice de homicídios” (A Gazeta, 19/12/2012).
 
Para mudar o tom, a narrativa e a agenda governamental e regional, Casagrande vai precisar de mais ousadia política para poder inverter prioridades principalmente no campo da agenda social. Inversão de prioridades. Este é o nome do jogo para criar a “marca Casagrande”. Será, ao fim e ao cabo, lá no final, o governo Casagrande um “governo de gente”? Ou teremos mais do mesmo da agenda de ajuste fiscal, de foco na gestão de meios e de agenda econômica e tecnocrática? Será preciso ousar para mudar. E a ousadia é possível: o governo criou bases política e fiscal para iniciar esta mudança de prioridades na segunda metade do seu primeiro mandato.
 
O fato é que a unanimidade política do governo Casagrande, tão bem apontada, com o seu contumaz descortínio, pelo professor Roberto Simões em entrevista à Século Diário, não é politicamente sustentável. Ela é uma unanimidade-pelo-alto, costurada no plano das elites políticas a partir da sedução da caneta e do charme do poder. Ela carece de base social, de enraizamento. E é aí que mora o problema.
 
Até quando a sociedade vai conviver com a insegurança, com a baixa resolutividade na saúde e com a baixa qualidade na educação? Lá na frente, em 2014, o que será dito na eventual campanha do governador pela re-eleição diante das filas nos hospitais e das mortes e tiroteios nas ruas? Imagens fortes... Propícias para uma candidatura alternativa que tenha o discurso da família, como é o caso de uma eventual candidatura do senador Magno Malta ao governo estadual.
 
Volto ao professor Roberto Simões: os indicadores sociais ruins do Espírito Santo estão em nítido contraste com os seus indicadores fiscais e econômicos. E agora, além de afetarem a própria população do estado (“governo de gente”?), afetam também a própria capacidade do estado atrair investimentos. Com efeito, no Ranking de Gestão dos Estados Brasileiros (feito pela Unidade de Inteligência da revista Economist) o Espírito Santo patina na oitava posição com a classificação de “moderado”. Tido por alguns analistas nacionais como “Tigre Asiático”, o estado estacionou em matéria de competitividade. Não vai bem, por exemplo, em termos de inovação e em termos de ambiente político. E o seu quadro de insegurança e sensação de insegurança certamente afeta o ambiente de negócios.
 
Aqui também, no plano econômico, é preciso inversão de prioridades. Ao lado da agenda da diplomacia federativa, que consumiu 2011 e 2012 e ainda vai perdurar, é importante uma agenda de diplomacia empresarial mais agressiva, tanto no plano nacional quanto no plano internacional. Trabalhar as ideias de plataforma logística, de adensamento das cadeias produtivas existentes e de continuidade no estímulo aos arranjos produtivos locais. Mas trabalhar com mais agressividade na diplomacia empresarial de atração de investimentos. Contando com a abertura de linhas de crédito de nada mais nada menos do que R$ 3,4 bilhões pelo governo federal, que permitiu o recém lançamento do PROEDES, o Espírito Santo tem uma oportunidade histórica para abrir novo ciclo de desenvolvimento, com inversão de prioridades.
 
Agenda social e diplomacia empresarial, ao lado da diplomacia federativa. Ações que podem criar marcas próprias para o governo Casagrande. Compreendendo que não há caldo de cultura para uma construção de unanimidade política. Esta unanimidade tem pernas curtas e prazo de validade. O momento histórico do governo Casagrande é diferente do momento histórico do governo Hartung. A força política do governo Casagrande precisa da costura política intra-elites. Mas precisa muito mais da costura de políticas públicas de qualidade. Isto o seu governo ainda está devendo.
 
Fonte: Século Diário

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