Não importa o resultado do segundo turno, esta eleição deixará lições
valiosas. Não é obrigatório prestar atenção, mas permite cometer erros novos,
em vez de repetir os mesmos de sempre.
Lição dos partidos: quanto mais candidatos, mais prefeitos eleitos.
Parece óbvio e é, mas poucos partidos seguiram essa regra. PSB e PT
cresceram em prefeituras porque lançaram mais candidatos a prefeito do que no
pleito anterior. Já PMDB e PSDB começaram a encolher sua base municipal quando
deixaram de lançar tantos candidatos em 2012 quanto em 2008. Os avanços petista
e socialista não foram acaso, mas investimento.
O PT tem a menor eficiência entre os grandes partidos na eleição de
candidatos a prefeito. Elege 1 a cada 3, enquanto o PMDB quase chega à relação
de 1 para 2. Porém, a maior taxa de sucesso peemedebista tem a ver com o
tamanho dos municípios onde disputa a eleição: em pequenas cidades é mais comum
haver apenas dois candidatos, aumentando a probabilidade de vitória.
Isso significa que o PMDB é mais eficiente em quantidade de prefeituras
conquistadas, mas não em eleitorado a governar. O PT conquistou cidades cujo
porte médio é duas vezes maior do que dos municípios onde o PMDB elegeu seus
prefeitos. O PSB está no meio do caminho. Vai governar prefeituras de cidades
que são, em média, um terço maiores do que as peemedebistas e um terço menores
do que as petistas. Os tucanos estão entre PSB e PT.
O tamanho médio das cidades que o PSDB governará é 22% maior do que as do
PSB e 21% menor do que as do PT. Os tucanos elegeram 43% de seus candidatos a
prefeito. Tudo isso seria ótimo se o partido não tivesse conquistado menos
prefeituras do que em 2008. Para ser atraente, um partido precisa, acima de
tudo, ser perspectiva de poder. O PSB saiu ganhando das urnas porque está em
ascensão e, ao contrário do PSD, não apenas nos cafundós.
Lição dos candidatos: conhecimento alto importa menos que rejeição alta.
Candidatos muito conhecidos tendem a sair na frente nas pesquisas de
intenção de voto graças ao que os pesquisadores chamam de "recall
bias", ou viés de memória. Indagados muito tempo antes da eleição sobre em
quem pretendem votar, os eleitores, em grande parte, tendem a apontar o nome
que lhes é mais familiar – não porque de fato estejam pensando em votar nele,
mas para não se mostrarem desinformados sobre a eleição.
Esse candidatos podem cansar cedo. Foram os casos de Moroni Torgan (DEM) em
Fortaleza e de Humberto Costa (PT) no Recife. Saíram disparados na frente, mas
nem pagaram placê no final.
Altas taxas de intenção de voto em pesquisas na fase pré-eleitoral não
indicam necessariamente o candidato mais competitivo para um partido. Se o
mesmo candidato aparecer nas mesmas pesquisas com percentuais altos de rejeição
é provável que a taxa de intenção de voto dele seja, na prática, o teto do
candidato. Dali é mais fácil ir para baixo do que para cima.
Quanto mais um partido se deixa levar pelo "recall bias" das
pesquisas pré-eleitorais, menos ele areja seus quadros. Candidatos novos mas
desconhecidos nunca têm vez. No curto prazo, o partido pode até ganhar, mas só
quando o adversário é ainda mais rejeitado. No longo prazo, tende à extinção.
Lição das pesquisas: a tendência vale mais que o retrato.
A primeira reação da mídia ao resultado das urnas foi destacar os erros
reais e imaginários das pesquisas de intenção de voto. E a segunda reação foi
perguntar quando sairiam as primeiras pesquisas do segundo turno. Essa relação
bipolar entre jornalistas e pesquisadores se deve, em grande parte, à fixação
com o número estático e a dificuldade de identificar tendências.
Se o líder está caindo na reta final e, ao mesmo tempo, dois adversários
estão subindo, em algum ponto os três estarão empatados. Mas só por um momento.
No instante seguinte o ex-líder prosseguirá em sua rota rumo ao esquecimento e
os adversários assumirão a liderança. Quem olha as curvas de tendência
identifica os movimentos. Quem olha só as fotos não.
Nos EUA, a tendência é as pesquisas eleitorais serem cada vez mais
frequentes e menos precisas. Porque é do movimento que vem a boa análise, não
do retrato estático de um momento específico. Quanto mais pesquisas em um
intervalo menor de tempo, maior a chance de assistirmos ao filme todo e
antevermos o seu final. E isso é mais fácil de fazer com pesquisas online.
O instituto Ipsos, um dos maiores do mundo, começou a fazer pesquisas
eleitorais 100% pela internet nesta eleição presidencial dos EUA. É uma
revolução porque explode os conceitos de amostra probabilística, de intervalo
de confiança e de margem de erro. Se fossem feitas no Brasil, estariam
proibidas de serem publicadas porque não se adequariam à lei.
"É o futuro", diz o CEO mundial da divisão de pesquisas de opinião
do Ipsos, Darrell Bricker. "Pode demorar, 5, 10 ou 15 anos, mas
virá", prevê a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari. Enquanto isso,
no Brasil, os institutos ainda são obrigados a fazer pesquisas eleitorais
usando questionários de papel só para os partidos poderem contá-los se
quiserem.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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