quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O legado de Altamiro Carrilho (Juca magalhães)

Esse agosto não está muito bom para a comunidade musical de qualidade não, já perdemos o Celso Blues Boy e o Magro do MPB4 e agora acabo de ver a dolorosa e triste notícia do falecimento do grande flautista Altamiro Carrilho. No fundo nem é tão triste assim, afinal, Altamiro viveu bem 87 anos de muita música e através dela conheceu a glória internacional. Tristeza me dá porque tão poucos são como ele, embora seu legado – e elegância - há de prosseguir nos lábios de um Zé Benedito, meu compadre, seu discípulo dileto no chorinho.

Por essas voltas inexplicáveis que a vida dá, faz quase dez anos eu fiquei por conta de ciceronear o Altamiro aqui em Vitória e Vila Velha, acabei sendo o apresentador de um concerto da OFES com sua participação tocando Mozart e tive a honra de segurar o seu flautim (no melhor sentido que vocês puderem imaginar) no inesquecível concerto de abertura da Festa da Penha de 2003, com a Orquestra Phylarmonia e regência de Modesto Flávio, salvo engano.


Como ficamos pra cima e pra baixo naquele dia 24 de abril acabamos conversando bastante, o Altamiro tinha já seus setenta e tantos na época, mas era um daqueles – hoje nem tão raros - sujeitos cheios de energia e disposição, me lembra o nosso maestro Adolfo Alves que dá banho de vitalidade na garotada. Lá pelas tantas descobrimos que fazíamos aniversário no mesmo dia e, sagitarianos apontando flechas para o espaço, vimos altas transcendências naquela coincidência trivial.

Eu fazia um programa de música clássica na pequena – inclusive de alcance - Radio Comunitária da Praia da Costa e como Altamiro era uma usina em movimento resolvi o levar pra dar entrevista no programa de meu amigo Clóvis Rosa. Foi um furdúncio do lado de fora da rádio. Logo apareceram alguns senhores do entorno que não acreditavam que o Altamiro estava naquela insignificante emissora. Pois o maior flautista do Brasil ficou lá umas duas horas. Contou um monte de histórias, deu discos de presentes, enfim, acima de tudo e de todos: deu uma aula de como uma lenda viva deve se comportar com dignidade, afeto e a simplicidade de um ser humano qualquer.

Conhecer Altamiro Carrilho definiu para mim a diferença que existe entre um astro e o estrelismo. A jóia rara e o falso brilhante. Sua música plainava soberana, não precisava “fazer tremer o chão”, tudo ao seu redor vibrava em consonância com sua alegria e seu alto astral. Cheguei a conclusão de que da musicalidade emana mais simplicidade do que alvoroço e que “a direção é mais importante do que a velocidade”. Sensação parecida tive quando encontrei Monarco e, bem recentemente, Dominguinhos em Domingos Martins. Como é bonita e grandiosa essa postura da tranqüilidade assentada de quem não precisa mais provar nada pra ninguém...

Portanto: Descanse em paz Altamiro Carrilho! E viva a música popular brasileira!!

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