domingo, 20 de maio de 2012

Vitória, terra de ninguém (Antônio C. Medeiros)


É majoritária hoje nos meios políticos e nos meios de comunicação capixabas a percepção de que, pelo menos em Vitória, qualquer tentativa de reeditar agora nas eleições de 2012 a chamada geopolítica – como é chamado o acordo de cúpula para “impor” uma candidatura digamos quase única – está destinada a dar com os burros n’água. Na reeleição de João Coser (PT), em 2008, a geopolítica de cúpula foi, por assim dizer, um ponto fora da curva.

Pelo menos desde as eleições de 1985, e mais recentemente as pesquisas quantitativas e qualitativas continuam apontando para este padrão, Vitória é “terra de ninguém” do ponto de vista político-eleitoral. Com um eleitorado de perfil marcante de classe(s) média(s), a capital não produziu, e provavelmente não produzirá tão cedo, líderes políticos com supremacia político-eleitoral incontestável e duradoura.

Existiram, e existem, é claro, lideranças com grande penetração em cada momento histórico específico – Setembrino Pelissari, Chrisógono Cruz, Hermes Laranja, Vitor Buaiz, Paulo Hartung, Luiz Paulo Vellozo Lucas, João Coser -, mas não existe o “político de Vitória”, seja um cacique ou coronel à moda antiga, seja uma liderança de massa, seja uma liderança de corte racional-legal, estilo gestor.

Vitória não é, para usar uma expressão em desuso, reduto eleitoral de ninguém. A cidade até projeta governadores – por exemplo Vitor Buaiz e Paulo Hartung. Afinal, ela é capital e tradicionalmente tem uma dimensão política maior do que a sua dimensão eleitoral. Mas ela não é um distrito eleitoral com marcante predominância regular deste ou daquele outro político (a não ser no caso da Câmara de vereadores de Vitória, que tem muitos vereadores, historicamente, que costumam colecionar mandatos). Esta característica de “terra de ninguém” acentuou-se ainda mais depois das mudanças demográficas mais recentes, que promoveram novas chegadas de pessoas de outros municípios capixabas e de outros estados, sem lealdades políticas enraizadas com este ou aquele outro líder político da capital.

Paulo Hartung (PMDB), por exemplo, tem base estadual e local, mas não é um político predominante em Vitória, com “corte” local. Iriny Lopes (PT) também não tem “corte” local de Vitória. Lelo Coimbra(PMDB) também não. Luciano Rezende (PPS) tem bom “recall” em Vitória, mas ainda com dimensão de político para disputa proporcional (isso não quer dizer que ele não possa ganhar uma eleição para prefeito, mas quer dizer que ele não é um líder com supremacia em Vitória). Mesmo Luiz Paulo Vellozo Lucas(PSDB), que foi oito anos prefeito de Vitória, com um grande “recall”, não é um político “puro sangue” de Vitória. Perdeu, naturalmente, densidade política e eleitoral em Vitória nos últimos oito anos.

É mistificação e ilusionismo político pensar que o ex-governador Paulo Hartung já ganhou as eleições em Vitória por antecipação. Só se for por WO. Assim como é um equívoco colossal pensar que, só porque a gestão de João Coser padece hoje do fenômeno da “fadiga de material”, Iriny Lopes já perdeu por antecipação as eleições em Vitória. Só se ela jogar a toalha e se render. Ou se o PT de Vitória perder o juízo político. Isto para citar apenas estes dois exemplos.

Paulo Hartung tem preferência nas intenções de votos sobre apenas um terço dos eleitores que se dizem já decididos hoje na capital. Mas existem dois terços que se dizem indecisos. Ou seja, não há supremacia eleitoral, hoje, do ex-governador. Não enxergar isto é de uma ingenuidade política assustadora. Iriny, por sua vez, tem de saída o “piso” eleitoral do PT na capital, que é em torno de 20% dos votos. Isto é pouca coisa?

Ora, pois pois. Para completar o quadro político de hoje em Vitória, Luciano Rezende afirma, respaldado pela direção nacional do seu PPS, que não vai recuar da intenção e decisão de ir para a disputa pela prefeitura. Luiz Paulo Vellozo Lucas também parece seguir na mesma direção de não recuar. Já está até construindo programa de governo para a cidade e para a prefeitura, colocando-se como contraponto ao PT.

Nestas condições políticas e eleitorais, tudo indica que as eleições de 2012 na capital caminham para um saudável e muito esperado ambiente de disputa, com várias candidaturas colocadas. Sem geopolítica. O que aponta para uma probabilidade de segundo turno. Com ou sem a presença da candidatura do ex-governador Paulo Hartung.

Diante deste contexto e desta tendência, o PT de Vitória poderá cometer um equívoco político histórico se detonar a candidatura de Iriny Lopes, ou se caminhar dividido para as eleições. Equívoco, aliás, que ele já cometeu em 1992, quando detonou a candidatura do então vice-prefeito Rogério Medeiros (que surfava no enorme prestígio do então prefeito Vitor Buaiz e na grande aprovação da gestão na qual ele era o vice-prefeito), oficializou a candidatura de então menor densidade eleitoral de João Coser, foi dividido para a disputa e entregou a prefeitura para Paulo Hartung...

Ainda, diante deste contexto também será um grande equívoco se tanto Luciano Rezende quanto Luiz Paulo Vellozo Lucas vierem a recuar das suas respectivas candidaturas. Luciano Rezende tem grande “recall” e grande potencial para crescer na disputa e ser competitivo. Já mostrou isto recentemente. E Luiz Paulo também tem grande “recall” e grande capacidade para recuperar a sua densidade político-eleitoral e retornar à prefeitura. O jogo não está jogado e o quadro eleitoral está, literalmente, em aberto. Mesmo, vale repetir, com a presença de Paulo Hartung na disputa.

Até o início de junho, quando Paulo Hartung poderá decidir se vai ser candidato ou não, e quando o PT de Vitória reúne-se para decidir se vai ou não com Iriny, muita água ainda vai rolar. Por enquanto, o que é necessário é afastar possibilidades de mistificações e ilusionismos políticos. E, principalmente, não esquecer que Vitória é “terra de ninguém”.

Fonte: Século Diário (17/05/2012) 

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