No próximo dia 16, quarta que vem, vão a julgamento dois dos últimos acusados do crime que vitimou a jornalista Maria Nilce Magalhães. Ela era chamada de Maria pelos amigos mais próximos e de Biango pela família, muito pouca gente conhece esse apelido e tampouco se sabe o que o originou. Não gostava de futebol, nem de churrasco e cerveja; seu principal link com o povo era o hábito de criticar acidamente o que não achava certo ou que desagradava seu, digamos assim, “gosto estético”. Por essas e por outras era considerada “corajosa”, inconseqüente e, principalmente, temerária. Dentro desse universo, feriu muita gente, algumas injustamente, mas também foi ferida; só que, para alguns, “dar uma surra” não era suficiente.
Maria Nilce sonhou em desmascarar aquelas pessoas que a perseguiam e que insistia em atacar abertamente, vislumbrou essa oportunidade chegando, mas não sobreviveu para comemorar, como alguns hoje o fazem e continuam felizes tocando a vida. Desde então é vista como um craque de futebol do passado que só é lembrado “pelos gols que perdeu”. Após sua morte escandalosamente pública, tudo de grandioso e belo que fez, das alegrias que nos trouxe, ficou esquecido. Seu último grande jogo, ela perdeu. Isso foi imperdoável.
Junto com esse, que parece ser o último julgamento do caso, vem agora a público um livro de Rogério Medeiros, um dos amigos sinceros da época, com revelações do famigerado delegado Claudio Guerra sobre sua atuação como matador da ditadura. Esse assassino confesso, hoje convertido à Assembléia de Deus, menciona de passagem sua atuação no Espírito Santo a serviço das elites políticas e empresariais locais, mas esse não parece ser o foco do livro. Que pena. Afinal, os réus da próxima quarta-feira integravam ou tinham ligações com a equipe de Claudio Guerra. Continuamos na torcida de, numa dessas, toda a verdade acabar vindo à tona.
Trecho da reportagem publicada no IG para ler mais acesse: http://ultimosegundo.ig.com.br/2012-05-02/claudio-guerra-um-matador-que-se-diz-em-busca-da-paz.html
Reparem que o próprio tom da reportagem acima, publicada no GazetaOnline, é já diferente do de outras épocas. Hoje é mais seguro falar e até escrever sobre o que de negro houve no Espírito Santo e que algumas pessoas ditas “da elite” não passavam mesmo de perigosos bandidos. Maria Nilce errou ao acreditar que estava a salvo de uma ação armada, seu assassinato foi uma espécie de “declaração de intenções” do crime organizado que dominou “a cena capixaba” e que é tido como desarticulado desde o início do século. A grande questão ainda é: Será? Vamos torcer que sim, mas o bom mesmo seria ter alguns pingos em cima dos “is” que ainda nos faltam.
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Roberto Beling
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