sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Ficção e realidade (Joca Simonetti)

Foto: Samanta Nogueira / Gazeta Online
A metáfora é um dos recursos discursivos mais enfáticos entre os disponíveis aos autores de ficção para retratar a realidade. Muitas vezes também a realidade nos espanta ao superar a ficção. Os banheiros químicos vazando dejetos na praia de Camburi é uma dessas situações e resulta em uma metáfora perfeita para o momento político da capital capixaba.
 A urina que verteu sobre o calçadão revelou, com a ênfase de uma metáfora e a força da realidade, o que entrevistas e livros tentaram esconder nas últimas semanas: a administração que terminou no dia 31 de dezembro de 2012 foi o pior e o mais nefasto da história da capital desde a redemocratização. O odor que invadiu o calçadão não deixou dúvidas de que há algo de podre no reino. 
Erguido sobre a falsa promessa de um metrô de superfície, o governo deixou semáforos sem sincronia e foi permissivo com ações ilegais das empresas de transporte coletivo (ver Setpes e Prefeitura de Vitória unidos contra os estudantes).
Sustentado sobre uma associação com o governo estadual que já passou, e sem ter o que mostrar de seu, a administração municipal que se encerrou quis - por diversas vezes - tornar suas realizações do governo estadual como a Ponte da Passagem (que acho horrivelmente desproporcional) e as obras de saneamento básico.
Construído sobre um discurso pobre e revanchista, a administração que terminou no último dia do ano passado interrompeu ações públicas úteis, como a coleta seletiva domiciliar e o projeto Educação Ampliada, desativou um espaço público de cultura - a Casa Porto - e ainda teve o ex-prefeito a sem cerimônia de afirmar que havia recebido a cidade sem projetos - logo ele, que deixou a cidade sem rumo.


O recado das urnas foi claro na rejeição à administração que terminou, na esperança de que os mal feitos e os não feitos deixem de poluir nossa cidade, como os banheiros esquecidos depois do reveillon. 

Agora, é hora de observar, apoiar e cobrar o novo prefeito. Eleito pela esperança da mudança, Luciano Rezende elogiou em demasia o prefeito que sai, na minha opinião. Espero que tenham sido apenas gestos de afago com um derrotado - afinal, não se deve chutar cachorro morto.

Nos primeiros movimentos, Luciano Rezende emitiu sinais trocados. Se apostou na mudança consistente com Alexandre Lima e Adriana Sperandio e fez lances ousados com Max da Mata e Sandra Monarcha,  voltou olhos para o outro lado com Sérgio Sá (que foi secretário na administração Coser) e Zacarias Carrareto (que ou é muito competente ou muito bem relacionado: já foi secretário na Serra e até outro dia integrava a equipe de Neucimar Fraga em Vila Velha). Sem mencionar a entrega da Ação Social ao vice-prefeito Waguinho Ito.

Mas é preciso alguma paciência, ainda que vigilante, e por os pingos nos is: nunca houve um secretariado que fosse unanimemente bem recebido.

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