Se
ganhar São Paulo, as dores cessarão, tramas fortes cerrarão as
principais fissuras, instalando-se a expectativa de seguir adiante com o
poder conquistado. Mas se perder, o PT carregará o estado febril de
hoje para o pós-eleitoral e dificilmente logrará recompor suas forças
para a complicada vida dos dois anos seguintes, o que fará do
imponderável uma certeza.
Tudo, hoje, no PT, é extremo, da
preocupação com o julgamento do mensalão e as possíveis condenações à
interminável sucessão de erros, nos últimos dois meses, do comandante in
pectore do partido, Luiz Inácio Lula da Silva.
Creem os benevolentes amigos que
o ex-presidente parece ter uma similitude entre seu comportamento e
aquele de fase lendária de Ulysses Guimarães, então presidente da
Câmara, do PMDB e da Constituinte, quando, acometido de uma dosagem
inadequada do medicamento lítio, falava sem freios. Lula está passando
essa imagem aos seus próprios subordinados petistas, vai falando, vai
fazendo, decisões em demasia, com uma ideia na cabeça e um índice de
popularidade nas mãos, atropelando gregos e troianos. Embora tudo já
tenha merecido o devido destaque, o caráter ilimitado das trapalhadas,
com resultados negativos visíveis para o PT, renovam as preocupações.
Articulações de Lula resultam em fraturas
Com facilidade relaciona-se, em
hostes petistas, três, quatro, dez erros políticos cometidos pelo
antecessor de Dilma Rousseff, que peca sempre por excesso. Antes, José
Dirceu, seu fiel executivo nesse quesito, formava as alianças, compunha o
PT, acalmava os revoltosos, explicava a filosofia do pragmatismo do
momento e o poder, no fim do túnel, a justificar os meios. Agora cabe a
Lula mais que a figuração, é o ex-presidente quem sai a campo e
embrenha-se em problemas.
Em Sergipe, Ceará, Pernambuco,
já estão notórias as imposições que fez ao PT, desfazendo prévias,
remontando coligações, destituindo e nomeando candidatos. Nessa
pré-campanha passou por cima de Luizianne Lins, de Marcelo Déda, de João
da Costa, e não se sabe se o candidato às eleições municipais, seja do
PT ou de um dos partidos aliados, nessas capitais, será aquele que no
momento o ex-presidente quer. Transitou como um trator no Nordeste, não
se evidenciou ainda sua mão de ferro no Sul, mas espera-se que chegue lá
a qualquer momento.
São Paulo, entretanto, é uma evidência de sua capacidade de provocar fraturas e fazer a terra arrasada.
Lula abusa do seu prestígio, é
como se define no PT o voluntarismo do ex. A intervenção que fez foi um
desastre, cindiu o partido e está longe de conseguir as condições para
reunificá-lo.
Primeiro, ali haveria uma prévia
entre quatro candidatos. Depois, com um pequeno toque, o ex-presidente
tirou do caminho os dois que considerava mais fracos, Jilmar Tatto e
Carlos Zarattini, dizendo a eles que o momento era para profissionais e
não para fazer campanha de apresentação para daqui a quatro anos. Mandou
uma funcionária do instituto que leva o seu nome avisar a Marta
Suplicy, senadora da República, que o governo precisaria dela mais no
Senado que na Prefeitura de São Paulo, portanto deveria ser afastar
também.
Marta agradeceu mas não saiu. Aí
Lula reforçou a ordem dando a missão à presidente Dilma. A presidente
falou que precisava muito de Marta no Senado mas não ofereceu
ministério. Com o apelo, Marta retirou sua candidatura a prefeita, mas
saiu do episódio absolutamente melindrada.
Essa parte do enredo da
candidatura do PT paulista é conhecida, mas não se tinha a dimensão do
efeito das decisões de Lula sobre Marta. São marcas profundas.
A senadora passou a fazer
ironias, mandou o candidato gastar sola de sapato, não compareceu ao
lançamento de sua candidatura, resistiu ao cerco, inclusive quando
apelaram ao seu ex-marido, e multiplicou por dois, com a aliança do PT
com Paulo Maluf, o desdém que expressou quando Lula tratava de
articular-se com Gilberto Kassab.
Marta já está fazendo algumas
brincadeiras com a situação do PT na capital. Quando Lula, no lançamento
de Fernando Haddad como candidato, mencionou os injustiçados do PT,
entre eles Erenice Guerra, a subchefe da Casa Civil, ex-amiga íntima de
Dilma, flagrada em tráfico de influência no palco de atuação mais
próximo ao presidente, não só Marta, mas um grande número de petistas,
não conteve a perplexidade.
Mais um registro da ilimitada
capacidade de bagunçar o cenário foi o de Lula, no 'Programa do
Ratinho', dizendo que se Dilma não quiser se candidatar à reeleição ele
assume o encargo. O fato detonou de vez o delicado equilíbrio que vinha
sendo preservado entre o PT de Dilma e o PT de Lula, e a presidente
passou a ser alertada para o fato de que Lula está tentando antecipar
sua sucessão, embaralhando mais ainda as cartas partidárias.
A maioria de suas interferências
mais atrapalhadas, do ponto de vista do PT, teve o PSB do governador
pernambucano Eduardo Campos no meio da articulação, e todos os ventos
nesse partido, seja em direção a Lula, seja a Dilma, correm para 2014.
O que houve ontem, com a troca
de Erundina no cargo de vice de Haddad, por causa da aliança com Paulo
Maluf, foi apenas mais um episódio em que o ex-presidente não mediu
consequências porque agiu, como sempre, sem ater-se às mudanças nas
condições do tempo e da temperatura.
Fora das eleições, o
ex-presidente está sendo considerado também algoz de boa parte do PT,
principalmente do que se encontra no governo, ao lado de Dilma, enquanto
age para tentar salvar seus amigos. Criou a CPI para atrapalhar o
julgamento do mensalão, mas pegou a Delta, de profunda parceria com o
governo federal, que pode ser atingido. A CPI como manobra diversionista
do maior escândalo de corrupção no governo petista não funcionou, mas
teve efeito contrário ao apressar o julgamento que até então poderia
'descoincidir' do período eleitoral, evitando prejudicar o maior partido
do país. Agora todos temem os resultados do julgamento no Supremo
Tribunal Federal, principalmente com o partido em luta eleitoral. A
condenação está sendo, como nunca o fora, muito considerada no PT
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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