Sociólogo critica acordo do PT com malufismo e diz que limites como a defesa da identidade 'não podem ser ultrapassados'
Fernando Gallo
"A política ideal não pode
prescindir da política real", diz Luiz Werneck Vianna, professor da
Faculdade de Sociologia da PUC-Rio ao avaliar o pacto entre o PT e o PP
de Paulo Maluf, que motivou a desistência de Luiza Erundina (PSB) da
vice de Fernando Haddad. Nesta entrevista ao Estado, ele, porém, avalia:
o PT ultrapassou o limite da defesa de sua identidade. "Fazer a aliança
nos jardins da casa do Maluf é uma rendição."
Há, no episódio envolvendo Erundina, Maluf e o PT, o debate sobre a política ideal e a política real. Qual deve prevalecer?
A política ideal não pode prescindir da política real.
Qual o limite das concessões?
Essa aliança foi feita para
realizar que valores? Ela serve para que o partido se fortaleça? Certos
limites não podem ser ultrapassados. Um deles é a defesa da sua
identidade. Que partido é esse que abdica do seu DNA e a todo momento
faz mercado disso para obter vantagens? Essa aliança compromete o PT.
O PT precisa efetivamente
dessa concessão por mais minutos de televisão? Em uma sociedade de
massas, como a nossa, seria possível vencer sem eles?
Sem tempo nenhum é impossível.
Mas o partido tinha tempo, e outras vantagens poderiam ser exploradas.
Em nome desse tempo, a aliança vai interferir na imagem do candidato.
O PT argumenta que dirige o carro, e os aliados tidos como indesejáveis são apenas caronas.
Essa aliança não encontra sustentação em motivos fortes. O tamanho do perigo não justifica essa manobra audaciosa.
O partido avalia que o governo Lula não teria tanto êxito sem um amplo arco de alianças.
O mesmo pode-se dizer em relação
ao governo Fernando Henrique. Mas a identidade de PSDB e PT tem uma
diferença na formação, no histórico político. O PT se pretendia uma
força mobilizadora da sociedade para a mudança. Essa aliança com Maluf
demonstra que esse caminho foi abandonado.
As mudanças ocorridas na última década teriam sido possíveis sem as alianças que o PT fez?
Não podemos olhar a política
apenas por esse ângulo estreito dos partidos. Vivemos uma mutação de
enormes proporções na história republicana brasileira. Essa mutação vem
significando uma cada vez maior redução da capacidade decisória do
governo diante da sociedade.
Estamos vivendo a hegemonia da pequena política?
Há grande política agora no
País. A Rio+20 é um momento de grande política. Houve uma passeata no
Rio de Janeiro, praticamente não anunciada, que reuniu 30 mil pessoas em
nome da defesa de múltiplos direitos.
É tão simbólico o sacramento da aliança na casa de Maluf?
Vários analistas já observaram
que o mundo simbólico tem a sua esfera própria. A aliança podia ter sido
feita nos corredores palacianos. Fazê-la nos jardins da casa do Maluf
pareceu mais como uma rendição. No Pacto Ribbentrop o Stalin não apertou
a mão do Hitler! Ele mandou um embaixador.
O PT defende a tese de Paulo Freire, de que é preciso "unir os diferentes para combater os antagônicos". Faz sentido?
Faz. Desde que se tenha muito
claro contra quem se aplica o antagonismo. É contra uma outra versão da
social-democracia brasileira, o PSDB? Não chega a ser um antagonismo,
uma oposição de classe contra classe.
O Maluf não é mais antagônico ao PT do que o PSDB?
Sim. A política brasileira está
desarrumada porque você tem a mesma formação político-ideológica, a da
social-democracia, arrumada em dois diferentes partidos, o PT e o PSDB. O
PSDB é um antagonista falso. O verdadeiro antagonista deveria ser o
atraso. O Sarney, o Maluf.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário