segunda-feira, 9 de março de 2015
Um pastel vazio (Francisco Weffort)
O discurso de Dilma, tão esperado para inicio de seu governo, seria muito bom se estivéssemos ao fim de sua administração. Como inicio de governo, foi uma espécie de pastel vazio. Em homenagem ao dia da mulher, a única medida concreta de sua fala foi a proposta de um aumento das penalidades para assassinato de mulher. Uma medida sem dúvida justa, mas foi só. Quanto ao mais, foi um discurso de generalidades. Mais precisamente, foi um discurso de advertências sobre as medidas econômicas que, aliás, na maioria dos casos, ainda não tomou. Ela mencionou, por exemplo, uma redução dos gastos públicos. Alguém já viu algo disso? Tudo em seu discurso foi muito genérico e abstrato. “Absorvemos a carga negativa até onde podíamos e agora temos de dividir parte deste esforço com todos os setores da sociedade“. Embora tenha falado, como sempre, de intenções de defender os trabalhadores, quem é bom de ouvido deve ter percebido ameaças sobre o que deve vir. Insistiu em que as medidas que deve aplicar serão “temporárias”. Quais medidas, não disse. Mas disse que estaremos na “travessia”, fazendo sacrifícios agora, em beneficio do futuro… Fica a sombra da imagem. Estaremos atravessando o quê? O deserto?
Como Dilma é supostamente uma mulher “de coração valente”, tinha que falar de coragem. Mas, pelo jeito deste seu primeiro discurso, começou o seu novo governo bastante assustada. Para diminuir a crise que vivemos, enfatizou a dos Estados Unidos e da Europa, quando se sabe que os americanos e os alemães parecem estar deixando o pior para traz. Faltou-lhe coragem para dizer que nós, ao invés disso, estamos parados, estancados, pela primeira vez em muitos anos de nossa história. Como sempre, aproveitou-se, uma vez, para criticar o passado… mas agora muito vagamente, pois afinal ela e Lula estão há doze anos com as rédeas nas mãos. Não tinha como ignorar o assalto à Petrobrás, mas esqueceu-se de dizer que, na época dos fatos delituosos, estava na administração da empresa e do governo Lula. Nos inquéritos atuais, também não disse que pelo menos quatro dos ministros de seu anterior governo estão envolvidos no Lava Jato, além de vários membros do PT, do PMDB e dezenas do PP, todos de sua atual base apoio.
Pediu a “união de todos em torno do governo e do Congresso”. Mas de que união está falando quando se sabe que o Congresso impôs algumas sérias derrotas ao seu governo? Quando se sabe, além sido, que o Congresso ainda não votou o orçamento deste ano, o que significa que seu governo começa com pouca liberdade de movimento, quase emperrado? Embora as chuvas já tenham chegado, desculpou-se dos últimos anos das misérias de seu ultimo governo lembrando a seca do Sudeste e do Nordeste. E simplesmente omitiu os apagões ocorridos nos últimos meses. Esqueceu também, coisa ainda por vir, da CPI que o Congresso está preparando para colocar em seu regaço de grande especialista em energia elétrica no país.
Difícil acompanhar Dilma em suas ilusórias imagens. Na verdade, seu segundo governo Dilma começa mal. Teremos manifestações nos próximos dias 13, sexta feira, pelas centrais sindicais contra o ajuste econômico, e 15, domingo, de diversos grupos de opinião de oposição politica ao governo. O discurso de Dilma, em algumas grandes cidades do pais, foi acompanhado com vaias e manifestações de pessoas batendo panelas e frigideiras. São sinais de que o país vive uma crise muito mais séria do que Dilma e seus marqueteiros querem admitir. É uma cegueira politica dizer que o mal estar do país pode ser resumido na choradeira de alguns próceres que se especializaram em falar de um suposto clima de ódio incitado pela direita contra o PT. A crise é real e agora, depois de doze anos de governo Lula e Dilma, não adianta chorar pitangas.
Fonte: Blog do Weffort
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