quinta-feira, 26 de março de 2015

Lá vem um táxi vazio (Murillo de Aragão)

Murillo de Aragão


Para quem não gosta do PT e de Lula, Dilma Rousseff deveria ser um ídolo. Afinal, sob suas competentes mãos, estão sendo destruídos, simultaneamente, o “lulismo”, o “petismo” e as possibilidades de Lula se eleger em 2018. Daí, ironicamente, alguns dizerem: deixem a mulher trabalhar! Nada resistirá ao furacão de incompetência política do atual governo.

Sob a orientação esclarecida de Dilma, o Planalto destruiu a credibilidade fiscal e a credibilidade econômica; e ainda abandonou a prática do diálogo político e social. Mataram o lulismo e não o substituíram por nada. Antes, a destruição estava limitada ao governo. A popularidade da presidente resistia. Mas, agora, com a avaliação no chão e um apoio significativo para o impeachment, a situação mudou muito. De quebra, acabou o predomínio do Executivo no debate político.

Os repórteres Daniel Carvalho e Pedro Venceslau, do Estadão, acertaram em cheio ao afirmar que a crise que levou Dilma Rousseff a atingir o pior índice de popularidade para um presidente da República brasileira inverteu uma das principais características do presidencialismo nacional: o poder sobre a agenda política do país. Até então, cabia ao Executivo impor os temas de debate, argumentam eles.

Esse comportamento gerava reclamações de parlamentares, que se tornavam reféns do Palácio do Planalto. Agora, o jogo virou. Graças ao fortalecimento do Legislativo, é o Congresso que exerce o protagonismo. É na pauta em gestação no Congresso, encabeçada pelo PMDB, que se constata o fortalecimento do Legislativo, no que já é chamado no meio político, segundo os repórteres, de “parlamentarismo branco” e “presidencialismo congressual”.

Um bom exemplo: enquanto o governo se concentra na aprovação das medidas do ajuste fiscal, os parlamentares querem aprovar, em segundo turno, a PEC da Bengala, que eleva de 70 para 75 anos a idade para a aposentadoria compulsória dos ministros dos tribunais superiores e do Tribunal de Contas da União. Com a aprovação da PEC, Dilma deixará de indicar cinco ministros do Supremo.

Como disse Raymundo Costa, do Valor Econômico, a crise também afeta a imagem de Lula. A qualquer momento, quando começarem a fazer pesquisas eleitorais com seu nome, o estrago será comprovado. Outro fato inacreditável dos tempos atuais é a incompetência política do governo; tão grande que não deixa espaço para a oposição. Nada do que a oposição tentar fazer será grandioso o suficiente para se comparar aos erros do governo. Com uma gestão como essa, para que oposição? Como diria Churchill, lá vem um táxi vazio e dele desce o governo

26/03/2015 

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