segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Nós que amávamos tanto a Revolução (Roberto Beling)



 

Vendo essas visões redivivas dos "camisas negras", brigadas de choque do fascismo italiano, na ação desses jovens ligados ao PCdoB e ao PT fico pensando no custo político do desconhecimento da história e da face cruel das ironias que a História nos submete.
Só para repassar sumariamente o passado: o PCdoB  nasceu em 1962, exatamente no período em que se fazia mais  impactante a influência da Revolução Cubana nas esquerdas latinoamericanas.
Naquele contexto, o fascínio da Revolução  daqueles jovens barbudos magnetizava mentes e corações de uma juventude radicalizada e dominada pelo voluntarismo.Jovens de classe média de formação universitária que acreditavam que o assalto aos céus e a conquista do paraíso terrestre era apenas uma questão subjetiva, isto é, uma questão de construção de uma vontade política.
Já o  PCdoB surge na denúncia dos rumos tomados pela antiga União Soviética, a partir do XX Congresso do PCUS, onde camarada Kruschev havia feito a denúncia dos crimes do Stalinismo. A ruptura com a figura do "guia genial dos povos" nunca foi perdoada por Mao que se colocava na condição do "grande timoneiro" da revolução mundial. O "revisionismo" e a  política da "Coexistência pacífica" produzem a grande ruptura no então denominado "movimento comunista internacional".
A "sublimação" teórica da experiência chinesa levou a elaboração de uma teoria da revolução para países semicoloniais ou semifeudais (na linguagem da época),  baseada no papel revolucionário da classe camponesa (comparada por Marx no 18 Brumário a um saco de batatas) e nas concepções da chamada Guerra Popular Prolongada (o cerco das cidades a partir do campo em guerra de longa duração).
Um grupo de dirigentes do antigo "Partidão" escafedidos da direção partidária após as mudanças de rumo do comunismo brasileiro encontrou na ruptura chinesa o caminho para se colocar novamente na luta pela direção da revolução brasileira. Da noite para o dia, para tomar emprestada uma imagem usada por Betinho (Herbert de Souza) em seu depoimento no 1º volume de "Memórias do Exílio", um monte de comunistas brasileiros acordou de olhinhos fechados e guturando palavras e conceitos dos comunistas chineses. Os Afanasievs da vida, editados pela Academia de Ciências de Moscou, são rapidamente substituídos pelo manualzão do Politzer e o "sobre a contradição e a prática" do camarada Mao.
Assim, considerando a emergência da Revolução Cubana e o grande cisma do movimento comunista internacional, nessa primeira metade dos anos 60, os comunistas se debatiam e diaglavam em tres correntes: os defensores do caminho pacífico para a revolução, no embalo do revisionismo soviético; as teorias insurrecionais baseadas no modelo cubano, a chamada "Teoria do foco", "sublimadas" teóricamente no clássico Debraysta "A revolução dentro da revolução"; e, minoritários, os companheiros "maoizados", ressuscitando Stalin e assumindo o culto d personalidade agora na pessoa do grande timoneiro.
Todo esse escorço histórico, só para lembrar que o PCdoB, nas suas origens, odiava e denunciava não apenas os revisionistas (e, portanto, traidores da revolução mundial) soviéticos, mas com igual fervor e mesma dimensão de ódio os revolucionários cubanos, cuja revolução era definida como revolução pequeno-burguesa e anti-marxista.
E assim, os comunistas do PCdo B cresceram e se tornaram adultos amando e reverenciando o camarada Mao e tendo a revolução chinesa como o novo "farol da humanidade". E nesse culto foram embalados até que um dia se desencantaram com os rumos tomados pelo socialismo chines que passa a ser visto talvez como um novo revisionismo (não lembro os termos da época). Desenganados, nossos comunistas encontram um novo "farol da humanidade" na Albânia, sociedade socialista que na sua mais avançada etapa conseguiu se tornar uma sociedade camponesas criadora de cabras na montanhas, e o camarada Henver Hodja o sucessor legítimo do Guia genial, o companheiro Stalin.
Pois é, mas a vida não para e o socialismo soviético foi para o espaço e acabou levando junto a Europa Oriental; o socialismo chines virou uma estranha combinação de economia capitalista com ditadura comunista.
E o que ficou para os nossos combativos militantes como referência da revolução mundial e defesa do socialismo?
Exatamente a revolução cubana tão odiada, rejeitada e criticada como revolução pequeno-burguesa quando da constituição e da afirmação das teses do PCdoB.
Cruel ironia da história ou as peças que a vida nos prega. O que restou para esses nossos jovens da "juventude comunista", nessa passagem de Yoana Sánchez pelo Brasil, foi se tornar uma espécie de tropa de choque da polícia política cubana e defensores extremados que seus "pais fundadores" (Amazonas, a frente)
tanto abdominavam.

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