quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Manifesto Político (I) / Rede EcoBrasil


Manifesto Político

Somos um país soberano e independente, mas com pouca capacidade de interferir nos 
foruns e mercados globais. Um país rico, livre e plural, mas com graves indicadores 
de violência, desigualdade e pobreza.  Somos a sétima economia do mundo, mas não 
conseguimos dar educação de qualidade e garantir bom atendimento de saúde para 
todos. 
Estamos sempre atrás de respostas e não vemos o que temos de melhor para 
encontrá-las: a diversidade étnico-cultural de nosso povo, o domínio sobre parte 
considerável da biodiversidade e da água doce do planeta, um território de extensão 
continental com uma rica variedade de biomas cujo papel é fundamental no equilíbrio 
climático e no desenvolvimento científico, tecnológico e econômico de nosso país e do 
mundo.
Temos avançado com perseverança na construção da democracia brasileira. 
Superamos uma ditadura militar de mais de duas décadas, aprovamos o impeachment 
do primeiro Presidente eleito sob a redemocratização, debelamos um processo 
inflacionário arrasador que parecia não ter fim e iniciamos importante trajetória de 
redução das desigualdades sociais que ainda marcam nossa sociedade.
Prevalece, contudo, a mesma concepção de crescimento. Continuamos insistindo num 
modelo econômico que não consegue transformar em estratégia de desenvolvimento 
nossa privilegiada condição de detentor de um patrimônio ambiental único.  
É significativo que as instituições políticas e os sucessivos governos, nas últimas 
décadas, não tenham absorvido e dado relevo ao papel crucial da sustentabilidade 
ambiental dentro do processo de desenvolvimento. A exploração dos recursos naturais 
segue sendo predatória, com baixa agregação de valor e uso intensivo de agrotóxicos.  
Esta é uma realidade que não diz apenas de questões ambientais. Ela aponta para um 
equívoco de visão cujas dimensões precisam ser melhor compreendidas.   
Uma das peças-chave para uma correção de rumos está no sistema político e sua 
estreita relação com o modelo de desenvolvimento. Basta, para isso, ver quais são os 
principais doadores de campanha e as leis feitas pelos eleitos, que com frequência 
fortalecem os valores que se contrapõem ao desenvolvimento sustentável, à ética, à 
justiça, ao aprofundamento da democracia e aos princípios civilizatórios básicos.
São graves os problemas relacionados ao desgaste e ao descrédito da política, dos 
políticos e do sistema de representação, sobretudo porque afastam grande parcela da 
sociedade das decisões públicas, quando não a leva ao alheamento e total indiferença 
às decisões políticas. Permanecem hegemônicas as velhas práticas políticas que 
vêm do colonialismo, do populismo, do racismo, do totalitarismo e outras formas de 
dominação e corrupção que ainda configuram uma cultura arraigada e difícil de mudar. 
O processo de construção da nossa república ainda está incompleto.

Mesmo sendo da natureza dos partidos políticos o confronto de posições e projetos e 
a disputa legítima pelo poder de Estado para realizá-los, o objetivo de permanecer no 
poder a qualquer custo os esvazia de suas premissas fundantes que são corresponder 
aos clamores e urgências da população e expressar as demandas da sociedade, de 
forma democrática, competente, ética e justa.
Nosso sistema político-partidário, a pretexto de gerar condições de governabilidade, 
enredou-se numa lógica própria fisiológica de formação de base de apoio parlamentar, 
solapando cada vez mais as possibilidades de emergirem diferentes e verdadeiros 
projetos de desenvolvimento que se ofereçam como alternativas à escolha dos 
cidadãos e cidadãs. A maioria dos programas são feitos sob medida para os períodos 
eleitorais, sem compromisso real de implementação, tangidos pelo carisma de nomes 
e pelo imediatismo das palavras de ordem escolhidas por esquemas cada vez mais 
caros e sofisticados de marketing. 
Passada a eleição, o poder fecha-se para a sociedade, empurrando-a para o passivo 
lugar de mera expectadora do processo político. Ao mesmo tempo, começa a preparar 
a composição de forças para as próximas eleições, com base na distribuição de cargos 
e vantagens, como se ainda estivéssemos nas capitanias hereditárias. A teórica 
separação dos poderes dá lugar à exacerbada predominância do Executivo e da União, 
num regime com ranços imperiais, assentado sobre uma noção de governabilidade 
que se traduz na repartição dos pequenos, médios e grandes poderes, prerrogativas 
e orçamentos de Estado, tornando inviáveis políticas públicas com organicidade, 
planejamento, integração e visão de longo prazo.
Essa prática, que se vende como inexorável, interage com o poder econômico, 
consolidando a cultura viciosa de tolerância do uso privado dos bens públicos e 
levando a insuportáveis distorções na aplicação dos recursos financeiros, tecnológicos, 
naturais e humanos do Brasil. O interesse público fica refém do poder econômico, do 
calendário político e das conveniências e acordos de bastidores. Chegamos a um ponto 
perigoso de relativização ética e de aceitação, como naturais, de práticas lesivas à 
sociedade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário