quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Nem de esquerda, nem de direita, muito pelo contrário (Eugênio Bucci)







"Nem direita, nem esquerda", afirmou a ex-ministra Marina Silva no lançamento da Rede Sustentabilidade, em Brasília, no sábado 16 de fevereiro. Ela pretende transformar sua rede num novo partido político, que não será nem de situação, nem de oposição. "Se Dilma estiver fazendo algo bom, vamos apoiar. Se não, não. Parece ingênuo, mas não tem nada ingênuo."

Aí, você para e pergunta: como assim? Se essa tal rede não tem um lado, que posições ela tomará? Como pode um partido que não seja nem oposição, nem situação? Será um muro em cima do qual todos os ecologistas vão se aboletar? Ou será simplesmente uma ameba apartidária? Marina diz que não é nada disso. "Estamos à frente", diz. "Estamos indo para o mundo do paradoxo."

Se você não entendeu nada, espere um pouquinho mais. O mais espantoso na fala de Marina Silva é que ela pode ser, mais do que sincera, verdadeira. Um partido que não se deixe aprisionar por dogmas da esquerda ou da direita é possível. Mais ainda: um partido que não seja necessariamente de situação ou de oposição sistemática, e que saiba promover causa coletiva (o bem comum) acima de seus interesses imediatos, é necessário (ainda que pareça inacreditável). Não que a Rede Sustentabilidade seja um milagre, uma epifania verde. Está longe disso. Só afirmo que a intenção de estar à frente e acima dessa polarização pode conter uma novidade real, embora, de início, ela pareça apenas mais um eco da dissimulação ideológica tão característica dos palanques brasileiros.

Bem sabemos que a política pátria é feita por gente que vive dizendo não ser o que é. A começar pelos líderes de direita, que nunca se declaram de direita. Em 2011, o então prefeito paulistano, Gilberto Kassab, lançou sua nova legenda, o PSD, com um fraseado inesquecível. "O Partido Social Democrático não será de direita, não será de esquerda, nem de centro." Atenção para o detalhe: nem mesmo de centro. Em vez disso, seria "um programa a favor do Brasil". A favor do que mesmo? Em 2012, o PSD ensaiou apoiar a candidatura de Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo. Depois acabou apoiando José Serra. Em 2013, desenvolto e solto, se dá bem com o governo Dilma Rousseff e com o governador Geraldo Alckmin. O PSD está mesmo a favor do Brasil - e também das autoridades brasileiras e de tudo o mais. Eis aí um partido a favor de tudo.

Para Kassab, cujas origens estão no malufismo e cuja trajetória é bastante heterodoxa, os conceitos de esquerda, direita e centro acabam não fazendo grande diferença. Rigorosamente, ele não distingue uma categoria da outra. Por isso, tem legitimidade para dizer que não pertencê a nenhuma das três.

Kassab, sejamos justos, não está sozinho no esporte de pular fora das ideologias. O PMDB está por cima e está cada dia mais prosa. Cazuza cantava que queria uma ideologia para viver. Com o PMDB, é o contrário: se lhe arranjarem uma ideologia, ele morre. O PMDB é a prova monumental de que esse negócio de se enclausurar na esquerda ou na direita não dá camisa a ninguém. O próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre fez piada com o assunto. Desde muito cedo, quando lhe perguntavam se ela era socialista, dizia: "Não sou socialista, sou torneiro mecânico". O bordão se desdobrou em variações: "Não sou de esquerda, sou torneiro mecânico". Ou essa: "Se você conhece uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque está com problema".

Em resumo, Kassab não toma conhecimento da bifurcação histórica que separou a esquerda da direita. O PMDB milita para sepultar para sempre essa bifurcação. E Lula, ao caçoar dos esquerdistas, avisa que não reza pela cartilha de ninguém, que fará o que bem entende. Os fundamentalistas que se acomodem. Ou que se mudem.

Marina, voltemos a ela, achou melhor mudar. Deixou o PT, deixou o governo, disputou a Presidência da República em 2010 pelo Partido Verde e, agora, vem aí com a Rede Sustentabilidade, que ainda é uma incógnita. Quando ela diz que está além da esquerda e da direita, pode ser confundida com alguns dos discursos mais antigos da política brasileira. Num ponto, porém, pode ter razão: a poluição não é de esquerda, nem de direita; existe tanto na China como nos Estados Unidos. O princípio da tolerância não é de esquerda, nem de direita, e exige uma democracia em que ateus convivam com crentes e, também, em que gente de esquerda dialogue com gente de direita, sem que um precise eliminar o outro. Se estiver falando disso, Marina estará dizendo a verdade e poderá, quem sabe, nos desafiar a pensar além dos velhos formatos.

Fonte: Revista Época

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Nós que amávamos tanto a Revolução (Roberto Beling)



 

Vendo essas visões redivivas dos "camisas negras", brigadas de choque do fascismo italiano, na ação desses jovens ligados ao PCdoB e ao PT fico pensando no custo político do desconhecimento da história e da face cruel das ironias que a História nos submete.
Só para repassar sumariamente o passado: o PCdoB  nasceu em 1962, exatamente no período em que se fazia mais  impactante a influência da Revolução Cubana nas esquerdas latinoamericanas.
Naquele contexto, o fascínio da Revolução  daqueles jovens barbudos magnetizava mentes e corações de uma juventude radicalizada e dominada pelo voluntarismo.Jovens de classe média de formação universitária que acreditavam que o assalto aos céus e a conquista do paraíso terrestre era apenas uma questão subjetiva, isto é, uma questão de construção de uma vontade política.
Já o  PCdoB surge na denúncia dos rumos tomados pela antiga União Soviética, a partir do XX Congresso do PCUS, onde camarada Kruschev havia feito a denúncia dos crimes do Stalinismo. A ruptura com a figura do "guia genial dos povos" nunca foi perdoada por Mao que se colocava na condição do "grande timoneiro" da revolução mundial. O "revisionismo" e a  política da "Coexistência pacífica" produzem a grande ruptura no então denominado "movimento comunista internacional".
A "sublimação" teórica da experiência chinesa levou a elaboração de uma teoria da revolução para países semicoloniais ou semifeudais (na linguagem da época),  baseada no papel revolucionário da classe camponesa (comparada por Marx no 18 Brumário a um saco de batatas) e nas concepções da chamada Guerra Popular Prolongada (o cerco das cidades a partir do campo em guerra de longa duração).
Um grupo de dirigentes do antigo "Partidão" escafedidos da direção partidária após as mudanças de rumo do comunismo brasileiro encontrou na ruptura chinesa o caminho para se colocar novamente na luta pela direção da revolução brasileira. Da noite para o dia, para tomar emprestada uma imagem usada por Betinho (Herbert de Souza) em seu depoimento no 1º volume de "Memórias do Exílio", um monte de comunistas brasileiros acordou de olhinhos fechados e guturando palavras e conceitos dos comunistas chineses. Os Afanasievs da vida, editados pela Academia de Ciências de Moscou, são rapidamente substituídos pelo manualzão do Politzer e o "sobre a contradição e a prática" do camarada Mao.
Assim, considerando a emergência da Revolução Cubana e o grande cisma do movimento comunista internacional, nessa primeira metade dos anos 60, os comunistas se debatiam e diaglavam em tres correntes: os defensores do caminho pacífico para a revolução, no embalo do revisionismo soviético; as teorias insurrecionais baseadas no modelo cubano, a chamada "Teoria do foco", "sublimadas" teóricamente no clássico Debraysta "A revolução dentro da revolução"; e, minoritários, os companheiros "maoizados", ressuscitando Stalin e assumindo o culto d personalidade agora na pessoa do grande timoneiro.
Todo esse escorço histórico, só para lembrar que o PCdoB, nas suas origens, odiava e denunciava não apenas os revisionistas (e, portanto, traidores da revolução mundial) soviéticos, mas com igual fervor e mesma dimensão de ódio os revolucionários cubanos, cuja revolução era definida como revolução pequeno-burguesa e anti-marxista.
E assim, os comunistas do PCdo B cresceram e se tornaram adultos amando e reverenciando o camarada Mao e tendo a revolução chinesa como o novo "farol da humanidade". E nesse culto foram embalados até que um dia se desencantaram com os rumos tomados pelo socialismo chines que passa a ser visto talvez como um novo revisionismo (não lembro os termos da época). Desenganados, nossos comunistas encontram um novo "farol da humanidade" na Albânia, sociedade socialista que na sua mais avançada etapa conseguiu se tornar uma sociedade camponesas criadora de cabras na montanhas, e o camarada Henver Hodja o sucessor legítimo do Guia genial, o companheiro Stalin.
Pois é, mas a vida não para e o socialismo soviético foi para o espaço e acabou levando junto a Europa Oriental; o socialismo chines virou uma estranha combinação de economia capitalista com ditadura comunista.
E o que ficou para os nossos combativos militantes como referência da revolução mundial e defesa do socialismo?
Exatamente a revolução cubana tão odiada, rejeitada e criticada como revolução pequeno-burguesa quando da constituição e da afirmação das teses do PCdoB.
Cruel ironia da história ou as peças que a vida nos prega. O que restou para esses nossos jovens da "juventude comunista", nessa passagem de Yoana Sánchez pelo Brasil, foi se tornar uma espécie de tropa de choque da polícia política cubana e defensores extremados que seus "pais fundadores" (Amazonas, a frente)
tanto abdominavam.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Redes, partidos e política (Marco Aurélio Nogueira)



 



Compreensível o interesse despertado pelo lançamento da Rede Sustentabilidade, o novo partido articulado pela ex-senadora Marina Silva, entre outros políticos e ativistas. Se o quadro partidário brasileiro provoca tédio e desesperança, nada como uma proposta recheada de boas intenções para que se espalhe a sensação de que algo pode ser feito para que se melhore a política hoje prevalecente.

O novo partido surge propondo-se a ser diferente na estrutura (uma rede), nos procedimentos e nas ideias. Não partiu da arregimentação de lideranças expressivas ou bancadas parlamentares preexistentes. E não está poupando energia para convencer a opinião pública de que veio para valer, não é mero capricho de seus idealizadores. Lançou-se, porém, com uma meta clara: dar abrigo e sustentação à futura candidatura presidencial de Marina Silva, principal justificativa para que a operação fundacional fosse desencadeada agora, quando já é nítido o rufar dos tambores das eleições de 2014, um frenesi eleitoral aparentemente intempestivo e prematuro, mas que tem sua razão de ser, como observou nesta mesma página o cientista político Luiz Werneck Vianna (16/2).

Tal justaposição de objetivos - criar um novo modo de fazer política e tornar viável uma candidatura - fará, portanto, com que os articuladores da proposta tenham de agir para demonstrar que terão disposição para amassar o barro da política dura, que não se sujeita nem obedece a princípios vagos, chefes supremos ou calendários eleitorais. Não à toa o discurso de Marina insiste em enfatizar que o novo partido existirá "para questionar a si, não para disputar uma eleição" - não terá "espírito de manada".

Cercada de expectativa, a Rede chamou a atenção pelo inusitado de algumas de suas ideias. Não aceitará, por exemplo, contribuições financeiras que provenham de negócios que agridam ou prejudiquem a saúde e o meio ambiente (bebidas alcoólicas, cigarros, armas, agrotóxicos), o que mostra uma face simpática e sensível, mas pouco clara quanto a seus efeitos efetivos. A hipótese certamente é que o partido consiga sobreviver eleitoralmente graças à contribuição expressiva de seus militantes e simpatizantes, o que parece romântico demais. Vale o mesmo para a pretensão de limitar a reeleição de seus futuros parlamentares - uma em cada Casa legislativa - e de organizar um conselho de cidadãos que monitore com independência a sigla e seus dirigentes. São ideias interessantes, mas de efeito impreciso, com a agravante de que podem sugerir que o partido pretende estacionar fora da política institucionalizada, feita e vivida pelos brasileiros. Tanto a questão é delicada que alguns de seus propositores, a começar da própria ex-senadora, têm procurado deixar claro que o novo partido não fugirá das alianças (desde que sejam "pontuais e em torno de ideias") e trabalhará para criar novas correlações de forças no País, em vez de deixar tudo como está.

O mais importante, porém, é a proposta abrangente da nova legenda, antes de tudo sua disposição de funcionar como uma rede que promova a articulação entre políticos de diferentes orientações partidárias e, ao mesmo tempo, impeça que o partido concentre todas as decisões políticas e fique engessado em torno de seus próprios interesses. A perspectiva tem potência, especialmente porque proclama que é mais importante privilegiar aquilo que une e é comum do que aquilo que distingue e opõe. Se a questão é agir "pelo bem do País" ou por uma causa magna que esteja acima de partidos e facções, a estruturação em rede faz total sentido. Foi mais ou menos assim que Joaquim Nabuco definiu a estratégia do abolicionismo nos anos 1880: ativar um movimento, uma opinião, uma agitação para "desagregar fortemente os partidos existentes, até certo ponto constituindo uma igreja à parte composta dos cismáticos de todas as outras".

Em seu discurso no ato de lançamento do partido, Marina Silva pareceu emular essa posição de Nabuco: "Não seremos nem oposição nem situação ao governo de Dilma Rousseff. Se a presidente estiver fazendo algo bom para o Brasil, nossa posição será favorável". A Rede pretende "quebrar de fato o monopólio dos partidos na política", substituindo-o pela ação da cidadania. É um palavrório vago. A questão é saber se esse caminhar no fio da navalha será viável diante da natureza "partidária" da política, de sua essência agonística de luta pelo poder, da falta de gente que trabalhe desinteressadamente por uma causa maior.

Apresentar-se como novidade é fácil. Difícil é dar corpo e vida à nova proposta, traduzi-la em termos políticos, intelectuais e organizacionais. Não será simples criar um partido numa época de homens partidos e pobres de ideias políticas. Parecem faltar espaço e oxigênio para que se agregue a essa criação um projeto de sociedade, sustentado por uma análise criteriosa do mundo e do País, que não só revele a estrutura dos problemas, como os acomode numa agenda articulada. Em política, não é novo o que se proclama como tal, mas o que produz coisas novas a partir da transformação daquilo que existe. Será preciso propor soluções positivas a partir de uma análise concreta do existente. Sem isso a Rede vai girar em círculos.

Mas é ainda mais fácil falar mal daquilo que se propõe como novidade. De um modo ou de outro, querendo ou não, o novo incomoda o que está estabelecido e desafia hábitos mentais, rotinas e posições consolidadas. Difícil mesmo é submeter o novo à crítica ponderada e criteriosa, ver se o que se propõe é algo de aproveitável, concedendo-lhe algum crédito de confiança para mostrar a que veio. Se isso não é feito, tudo se resume a bate-boca, a torcida contra ou a favor. E não se avança em direção nenhuma, ficando todos recolhidos ao mesmo ramerrame de sempre.

Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp

Fonte: O Estado de S.Paulo

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O Estado gerencial e o fordismo (Rudá Ricci)







São dois projetos distintos e muito nítidos. A gestão FHC trouxe elementos da lógica e da estrutura organizacional empresarial para o interior do Estado. Não adotou a cartilha neoliberal que, aliás, é extremamente pobre, mas a lógica do Estado gerencial, que se alimentou de alguns elementos neoliberais. Já a concepção lulista estaria mais próxima do que a Escola da Regulação Francesa denominou de "fordismo". Um fordismo tardio, já que seu declínio nos EUA e Europa teve início a partir do choque do preço do petróleo na segunda metade dos anos 1970.

O fordismo tardio adotou os seguintes instrumentos anticíclicos: Estado central controlador e concentrador de recursos públicos para investimento (o que esvaziou a autonomia dos municípios e gerou total dependência de convênios federais); BNDES como banco de fomento de grandes projetos; Bolsa Família e aumento real do salário mínimo e da renda média dos trabalhadores e criando potente e voraz mercado consumidor.

Politicamente, instalou-se a lógica neocorporativa no País, em que centrais sindicais e organizações da sociedade civil passaram a ser financiadas e a participar ativamente das deliberações e instâncias governamentais (estatais, agências reguladoras) e consolidou-se a coalizão presidencialista - em que grande parte dos partidos se envolve diretamente na gestão do aparelho de Estado.

Essa potente estrutura de Estado diminuiu sobremaneira os espaços de qualquer oposição política. A inserção social ocorreu pelo consumo e não pela ampliação de direitos ou pela política, o que apartou ainda mais a lógica política da lógica social. Quase totalidade dos partidos está, hoje, controlada por parlamentares e não pela sociedade civil. Os deputados, inclusive, acabaram se tornando príncipes deste fordismo tardio, mediando convênios entre prefeituras e agências federais. Como se percebe, o fordismo tardio tupiniquim é muito mais articulado e poderoso que a agenda dos anos de gestão tucana. Avança socialmente, mas atualiza a lógica política clientelista que marca a História da República brasileira desde seus primórdios.

Sociólogo, doutor em Ciências Sociais, Diretor Geral do Instituto Cultiva e autor de Lulismo (Fundação Astrojildo Pereira/Editora Contraponto).

Fonte: O Estado de S. Paulo

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

7 motivos para apoiar a #rede


7 motivos para apoiar a #rede

+ Sustentabilidade
O Brasil que queremos é sustentável. A #REDE quer contribuir para que o Brasil adote um novo modelo de desenvolvimento, baseado na valorização de seu potencial econômico, de seu patrimônio ambiental e de sua diversidade sociocultural.
+Democracia
Fazer política com as pessoas e para o bem comum. A #REDE é um espaço de encontro de pessoas que querem pensar um projeto de país sustentável e democrático. Acreditamos que a participação política não se restringe ao voto e deve ser valorizada e ampliada no intervalo entre as eleições. Isso é democratizar a democracia.
+Diversidade
Somos ligados por princípios e permaneceremos unidos por eles, aprendendo a convergir nas diferenças, por meio do diálogo e da escuta ativa. Queremos que a #REDE seja um espaço de respeito e valorização das diferenças, um espaço acolhedor para pessoas de qualquer origem, sexo, raça, credo, cor ou idade.
+Colaboração
A superação dos problemas do Brasil depende de todos nós. Uma sociedade sustentável deve buscar atuar mais cooperativamente. Queremos que a #REDE seja um espaço de diálogo de diferentes setores da sociedade brasileira para pensar em como superá-los.
+Visibilidade
As informações de interesse público devem ser transparentes e visíveis. Acreditamos que o uso das ferramentas digitais facilitam a publicidade de dados que possam contribuir para o acompanhamento de políticas públicas por todos. A #REDE será um espaço de exercício e busca de mais transparência e visibilidade.
+ Causas comuns da política
Muitas pessoas se afastaram dos partidos políticos ou não se identificam com esta forma de organização. No entanto, existem em nossa sociedade diversos espaços para defender causas comuns, como os movimentos sociais, coletivos, ONGs e outras formas associativas. Reconhecemos a importância das pessoas que atuam nestes espaços também participarem da vida política institucional e queremos que a #REDE seja um instrumento para esta participação.
+Prazer em fazer política
Queremos contribuir para reaproximar as pessoas da política. Queremos nos reconectar com a razão de existir da política, que é a busca do bem comum. Para isso a #REDE será um espaço criativo, vivo, de sonhar e de agir para alcançar seus ideais.
 
Quais os seus motivos para apoiar a #REDE?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

2014 à vista (Luiz Werneck Vianna)


A oposição mal começa a reunir forças, não conhece um comando único, nem sequer são enunciadas as linhas gerais do seu diagnóstico sobre o estado social da Nação, sobretudo o seu programa alternativo 


Há algo de estranho no ar, pois essa aceleração do tempo político que presenciamos não é normal. Ainda estamos nos prelúdios de 2013, sem saber o que o resto dos seus dias nos promete, se boa safra ou tempos aziagos. Contudo, bem longe do porto, ainda em alto oceano, já se ouvem vozes anunciando terra à vista e de preparação de desembarque próximo. De um salto estaríamos chegando a 2014, o ano da sucessão presidencial. A tripulação que nos dirige, velha de guerra de dez anos na função, estaria procurando atalhos para encurtar o tempo como manobra para evitar a aproximação de temíveis naves inimigas ou teme motim a bordo na sua coalizão?

A oposição mal começa a reunir forças, não conhece um comando único, nem sequer são enunciadas as linhas gerais do seu diagnóstico sobre o estado social da Nação, sobretudo o seu programa alternativo de governo ao que aí está. Sabe-se, de certo, do seu empenho em elucubrações em matéria de análise econômica, trincheira em que é agente passivo, mera observadora dos fatos que, mantidos na toada atual, principalmente quanto à inflação, poderiam fazer a roda da fortuna girar a seu favor.

Se os eventuais candidatos à Presidência, nem todos vinculados à oposição formal, tal como a reconhecemos no momento atual, preferem atuar em surdina, esperando os prazos rituais, quais as razões da pressa no partido hegemônico no poder, em que já se ultimam preparativos de caravanas nos moldes de campanhas eleitorais do ex-presidente Lula, hoje condestável da presidente Dilma?

A dualidade no poder sempre é fonte de instabilidade, como demonstram velhas lições de teoria política. É própria do poder a procura permanente da sua ampliação. A transição de Lula para Dilma, uma herdeira sem luz própria, alçada à chefia de uma coalizão de forças políticas sem exercer comando sobre o partido que nela é hegemônico, no qual não tem raízes nem influência significativa, como que cindiu o soberano em dois corpos distintos: o físico, de que ela é portadora, e o metafísico, simbólico, de que se encontra investido o ex-presidente.

Nesse sentido, o poder que emana da presidente é de caráter derivado, sujeito à unção de fontes de poder que lhe são externas: de um lado, do Partido dos Trabalhadores (PT), que deve sua unidade à presença e às ações de Lula, seu efetivo comandante; de outro, do fascínio do carisma do ex-presidente sobre grandes massas do eleitorado.

A solução de converter Lula em seu condestável pareceu judiciosa e, bem administrada, até que pode ter continuidade. Mas surgiu uma pedra inesperada no caminho, a Ação Penal 470, que se concluiu pela condenação de alguns cardeais do partido hegemônico. Tal fato estava fadado, em razão dos personagens envolvidos, a não se conter nos limites do Poder Judiciário, e segue com sua presença fora dos autos a assombrar a política e os próprios rumos da sucessão presidencial.

Antes de concluir seu tempo na presidência da Câmara dos Deputados, o petista Marco Maia (RS) firmou posição no sentido de que os parlamentares condenados somente poderiam perder seus mandatos por deliberação dos seus pares, a partir de um processo que lhes garantisse o direito de defesa, o que, na prática, abre a possibilidade de a decisão da Suprema Corte ser recusada.

Sua sucessão no cargo pelo deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), em tese, pode vir a admitir um entendimento alternativo da matéria - há registros apontando nessa direção, vide seu encontro com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) -, mas não têm faltado pressões para que persista o entendimento do seu antecessor. No caso, para além das naturais e esperadas turbulências advindas da economia, é de esperar que a sucessão presidencial se inicie sob o signo dramático de um conflito entre Poderes, na hipótese nada remota de que o STF não delongue com a publicação dos acórdãos e do julgamento dos embargos a serem oferecidos pelos réus.

A candidatura à reeleição da presidente Dilma, nessa eventualidade, seria submetida a uma escolha difícil, na medida em que o seu partido pode vir a demandar dela, junto à base aliada parlamentar, ações solidárias em favor dos seus dirigentes condenados pela Justiça, comprometendo-se, assim, no terreno difícil das relações entre o Poder Legislativo e o Judiciário, com evidentes prejuízos na sua imagem republicana.

Diante de uma emergência de tal gravidade, seria plausível imaginar que vozes no interior do seu próprio partido - no qual não é pequena a influência dos seus dirigentes apenados - podem voltar-se para a candidatura do ex-presidente, cujos dons nas artes da arbitragem são bem conhecidos e não têm faltado a eles, ao contrário da presidente, com palavras solidárias. A solução heroica seria facilitada se o governo Dilma vier a experimentar um percurso negativo na agenda econômica, que, vale notar, bem pode servir tanto à oposição quanto aos nostálgicos do governo Lula, que sonham com seu breve retorno.

A ambiguidade que ronda a política do Planalto, gravitando entre os dois corpos com que se apresenta o poder soberano, conspira contra o tempo largo, que é o da preferência tanto da oposição formal como da encapuzada, que calculam suas possibilidades com olhar fixo nos indicadores econômicos. Não é sem razões, portanto, que no Planalto se adiantem os ponteiros do relógio, o que ficou claro no último pronunciamento público da presidente em rede nacional, mesmo que na arena ainda não se divise o perfil do adversário. Na conta de todos, salvo eventos extraordinários, a coalizão situacionista, PT à frente, mesmo que venha a perder o PSB, deve levar de vencida mais uma corrida sucessória, à condição, é claro, de contar com um candidato que a agrupe, inclusive no interior do partido hegemônico. Ao menos, por ora, a dificuldade está aí.

* Luiz Werneck Viana é professor-pesquisador do Puc-Rio. E-mail: lwerneck96@gmail.com.


Fonte:  Estadão (16 de fevereiro de 2013)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Faxina étnica, faxina social (Roberto Beling)


O prefeito de Vitória resolveu radicalizar. Foi peremptório na afirmação:
"Não vou admitir morador de rua em Vitória. 
Nem na praça, nem debaixo da ponte, nem na calçada".
Assustador? Mais que assustador, CHOCANTE.
Afinal, Luciano Rezende é um político que tem origem na esquerda, foi militante dedicado do PT, integra os quados do PPS, partido de forte tradição democrática (o que diria Roberto Freire dessa frase?) e é genro do deputado Claudio Verezza, nome histórico da luta pelos direitos humanos no ES.
Esse discurso é reacionário, discriminador e preconceituoso. Retoma concepções racistas e higienistas  que vigoraram nos inícios do século passado.
Não é gratuito que militantes dos direitos humanos venham a campo, através das redes sociais, denunciar essa visão retrógrada e segregacionista com o bordão  de que "os ghettos de Vitória  são os ghettos de Varsóvia".
Essas histórias a gente sabe como começam, o problema é que não sabemos  como terminam. Vale lembrar aquela história de Pedro Aleixo sobre o "guarda da esquina".
Nesses desdobramentos temos histórias nada exemplares dessas "faxinas sociais", desde o recolhimento de mendigos e sua exportação para outras cidades ou devolução as cidades de origem até ações de extermínio de populações de rua.
Leitor voraz da revista O Cruzeiro nunca esqueci de uma célebre série de reportagens, publicadas nos início dos anos 60, sobre a matança de mendigos na antiga Cidade Maravilhosa, então Estado da Guanabara, durante o governo de Carlos Lacerda. A visão higienista e policialesca da questão social levou a uma política aparentemente "simples e definitiva": esquadrões policiais recolhiam os mendigos na madruga e os atiravam da ponte no Rio Guandu.
Naquele tempo existia na imprensa brasileira uma coisa chamada reportagem e os grandes repórteres que farejavam as notícias. Acho que Octávio Costa era  o nome do repórter que ousadamente trouxe a tona "Os crimes do rio Guandu", colocando na parede o governo de Carlos Lacerda. 
Era isso que queria dizer com essa coisa de que isso a gente sabe como começa mas não sabe o que pode ser produzido pelos "guardas de esquina".
Essa era a leitura que queria recomendar ao prefeito de Vitória. Mas como o livro é raro e as coleções de O Cruzeiro só são encontráveis na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, acabei encontrando o comentário de Fausto Barreira, publicado em 2009, sobre o filme "Topografia de um desnudo" (que confesso não conhecer, ao contrário do livro que ganhei de meu tio César Pinheiro, repórter de O Globo e amigo do autor) que se reporta aos fatos comentados acima.
Se o livro está fora do mercado, o filme  talvez seja acessível aos que conhecem os circuitos do cinema. Então se o prefeito não pode ler o livro que assista ao filme.
Abaixo, em homenagem a Andressa Veloso, reproduzo o artigo de Fausto Barreira: 

"Baseado em fatos reais, o filme desvenda um fato pouco conhecido: a ?Operação mata-mendigos?, que ocorreu no RJ entre 1962 e 1963. O filme, muito atual, mostra o governo, a imprensa e interesses imobiliários por trás dos assassinatos dos moradores de rua. Como se vê, a política de "higienização" das grandes cidades é antiga
Assisti numa sala pequena, no único horário da tarde, ao filme "Topografia de um Desnudo". O filme dirigido por Teresa Aguiar baseia-se numa peça de teatro do chileno Jorge Díaz e não teve nenhuma menção de críticos na grande imprensa. Trata-se da adaptação de uma peça de teatro e versa sobre o massacre de moradores de rua no governo de Carlos Lacerda (um dos líderes civis do golpe de 1964) entre os anos de 1962 e 1963.

Teresa Aguiar é diretora de teatro em Campinas. No final da década de 1970, assistiu a uma peça, em um festival universitário da Colômbia. Há vinte anos ela resolveu transformar a ideia da peça em um projeto de cinema e hoje, aos quase setenta anos, apresenta seu primeiro longa metragem: ?Topografia de um Desnudo?.

Rio de Janeiro, anos 1960. A cidade se prepara para receber a visita da rainha Elizabeth. Num clima de tensão social e política que antecede o golpe militar, uma jornalista investiga a morte de moradores de rua e se envolve num perigoso jogo de interesses. Baseado em fatos reais, desvenda um lado pouco conhecido da História: a ?Operação mata-mendigos?, que ocorreu no Rio de Janeiro entre 1962 e 1963 e um dos motivos era a necessidade de limpar a cidade para a visita da rainha.

No filme, a diretora expõe o intrincado jogo do governo do estado da Guanabara, de setores da imprensa e de especuladores imobiliários interessados em um grande empreendimento num lixão onde habitavam moradores de rua.Intercalando cenas realistas com imagens oníricas, Teresa Aguiar conseguiu criar um painel convincente das articulações e dos crimes da elite carioca, ao mesmo tempo em que soube dar muita humanidade aos personagens dos moradores de rua.

Com atores importantes como Lima Duarte, Gracindo Júnior e José de Abreu o filme foi massacrado. Segundo um dos poucos expectadores presentes na plateia, o qual participou das filmagens há alguns anos, o filme, nessa época, já estava sendo feito há dez anos e não conseguia nenhum patrocínio, apesar de ter sido aprovado pela Lei Rouanet. Vê-se por aí como funciona a censura do capital.

O filme é atualíssimo, pois mostra a gênese dos programas de "higienização" das grandes cidades brasileiras, que têm como expoentes Gilberto Kassab em São Paulo e Eduardo Paes no Rio de Janeiro, nos quais as populações pobres são expulsas de locais que interessam aos planos de "revitalização", ou seja, à especulação imibiliária.
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Pode-se assistir ao trailler do filme no You Tube. 

Cair na rede (Jânio de Freitas)


Movimento de Marina pode sistematizar a repulsa intuitiva do eleitor a tudo que leva o nome de partido


Dê no que der como resultado eleitoral, o movimento que Marina Silva começa para constituir um partido seu na disputa pela Presidência tende a cumprir um papel político e social de muita utilidade. A ideia de denominá-lo Rede já é sugestiva, nem tanto por sugerir internet, mas pela identificação com a repulsa tão difundida a tudo que leve o nome de partido.
Difuso e confuso, o movimento até já existe na população. Existe como opinião intuitiva e generalizada a respeito do desregramento vigente no Congresso, das chantagens partidárias por cargos, da dinheirama nas eleições, da corrupção generalizada, e de tanto mais. Existe, em suma, muito mais emocional do que racional, como um sentimento de traição dos políticos, assim vistos quase sem o reconhecimento das exceções.
Os princípios preliminares do regimento da Rede são satisfações dadas à opinião pública desencantada. Representam os desejos de restrição a determinados doadores de campanhas políticas, limitação do número de mandatos de um parlamentar, fidelidade dos seus políticos às posições básicas do programa partidário, renúncia ao mandato parlamentar caso aceite cargo em governo, e por aí vai.
Marina Silva tem audiência no país todo. Apesar da base partidária mínima, sua candidatura à Presidência em 2010 foi encorpada por cerca de um quinto dos votos totais. Com a já iniciada organização de ideias e propostas, a pregação da Rede para constituir-se e, se obtido o registro, para a campanha eleitoral, pode transmitir ao eleitorado alguma dose de sistematização, digamos, de racionalidade ao que até agora não passa de uma força emocional caótica e sem proveito.
O PT cumpriu essa função em vários segmentos sociais, mas deixou de cumpri-las. O PSDB nasceu com o projeto de tal função, mas se descaracterizou depressa. Não falta quem possa cair na Rede.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Manifesto Político (I) / Rede EcoBrasil


Manifesto Político

Somos um país soberano e independente, mas com pouca capacidade de interferir nos 
foruns e mercados globais. Um país rico, livre e plural, mas com graves indicadores 
de violência, desigualdade e pobreza.  Somos a sétima economia do mundo, mas não 
conseguimos dar educação de qualidade e garantir bom atendimento de saúde para 
todos. 
Estamos sempre atrás de respostas e não vemos o que temos de melhor para 
encontrá-las: a diversidade étnico-cultural de nosso povo, o domínio sobre parte 
considerável da biodiversidade e da água doce do planeta, um território de extensão 
continental com uma rica variedade de biomas cujo papel é fundamental no equilíbrio 
climático e no desenvolvimento científico, tecnológico e econômico de nosso país e do 
mundo.
Temos avançado com perseverança na construção da democracia brasileira. 
Superamos uma ditadura militar de mais de duas décadas, aprovamos o impeachment 
do primeiro Presidente eleito sob a redemocratização, debelamos um processo 
inflacionário arrasador que parecia não ter fim e iniciamos importante trajetória de 
redução das desigualdades sociais que ainda marcam nossa sociedade.
Prevalece, contudo, a mesma concepção de crescimento. Continuamos insistindo num 
modelo econômico que não consegue transformar em estratégia de desenvolvimento 
nossa privilegiada condição de detentor de um patrimônio ambiental único.  
É significativo que as instituições políticas e os sucessivos governos, nas últimas 
décadas, não tenham absorvido e dado relevo ao papel crucial da sustentabilidade 
ambiental dentro do processo de desenvolvimento. A exploração dos recursos naturais 
segue sendo predatória, com baixa agregação de valor e uso intensivo de agrotóxicos.  
Esta é uma realidade que não diz apenas de questões ambientais. Ela aponta para um 
equívoco de visão cujas dimensões precisam ser melhor compreendidas.   
Uma das peças-chave para uma correção de rumos está no sistema político e sua 
estreita relação com o modelo de desenvolvimento. Basta, para isso, ver quais são os 
principais doadores de campanha e as leis feitas pelos eleitos, que com frequência 
fortalecem os valores que se contrapõem ao desenvolvimento sustentável, à ética, à 
justiça, ao aprofundamento da democracia e aos princípios civilizatórios básicos.
São graves os problemas relacionados ao desgaste e ao descrédito da política, dos 
políticos e do sistema de representação, sobretudo porque afastam grande parcela da 
sociedade das decisões públicas, quando não a leva ao alheamento e total indiferença 
às decisões políticas. Permanecem hegemônicas as velhas práticas políticas que 
vêm do colonialismo, do populismo, do racismo, do totalitarismo e outras formas de 
dominação e corrupção que ainda configuram uma cultura arraigada e difícil de mudar. 
O processo de construção da nossa república ainda está incompleto.

Mesmo sendo da natureza dos partidos políticos o confronto de posições e projetos e 
a disputa legítima pelo poder de Estado para realizá-los, o objetivo de permanecer no 
poder a qualquer custo os esvazia de suas premissas fundantes que são corresponder 
aos clamores e urgências da população e expressar as demandas da sociedade, de 
forma democrática, competente, ética e justa.
Nosso sistema político-partidário, a pretexto de gerar condições de governabilidade, 
enredou-se numa lógica própria fisiológica de formação de base de apoio parlamentar, 
solapando cada vez mais as possibilidades de emergirem diferentes e verdadeiros 
projetos de desenvolvimento que se ofereçam como alternativas à escolha dos 
cidadãos e cidadãs. A maioria dos programas são feitos sob medida para os períodos 
eleitorais, sem compromisso real de implementação, tangidos pelo carisma de nomes 
e pelo imediatismo das palavras de ordem escolhidas por esquemas cada vez mais 
caros e sofisticados de marketing. 
Passada a eleição, o poder fecha-se para a sociedade, empurrando-a para o passivo 
lugar de mera expectadora do processo político. Ao mesmo tempo, começa a preparar 
a composição de forças para as próximas eleições, com base na distribuição de cargos 
e vantagens, como se ainda estivéssemos nas capitanias hereditárias. A teórica 
separação dos poderes dá lugar à exacerbada predominância do Executivo e da União, 
num regime com ranços imperiais, assentado sobre uma noção de governabilidade 
que se traduz na repartição dos pequenos, médios e grandes poderes, prerrogativas 
e orçamentos de Estado, tornando inviáveis políticas públicas com organicidade, 
planejamento, integração e visão de longo prazo.
Essa prática, que se vende como inexorável, interage com o poder econômico, 
consolidando a cultura viciosa de tolerância do uso privado dos bens públicos e 
levando a insuportáveis distorções na aplicação dos recursos financeiros, tecnológicos, 
naturais e humanos do Brasil. O interesse público fica refém do poder econômico, do 
calendário político e das conveniências e acordos de bastidores. Chegamos a um ponto 
perigoso de relativização ética e de aceitação, como naturais, de práticas lesivas à 
sociedade.

Manifesto político (II) / Rede EcoBrasil (A nova política ...)


A Nova Política – reinvenção e urgência

Viemos à público apresentar uma proposta de ação que é também uma escolha: 
contribuir com o impulso grandioso de mudanças políticas, culturais, sociais, éticas e 
humanas que está em ebulição na sociedade brasileira. 
Acreditamos que as redes, como forma de agregação e organização, são uma invenção 
do presente que faz a ponte para um futuro melhor. A concepção de rede baseia-se 
numa operação democrática e igualitária, que procura convergências na diversidade. 
É um instrumento contra o poder das hierarquias que capturam as instituições 
democráticas e, ironicamente, fazem delas seu instrumento de dominação. Pois é em 
rede com a sociedade que queremos construir uma nova força política, com alianças 
alicerçadas por uma Ética da Urgência, tendo como horizonte a construção de um novo 
modelo de desenvolvimento: sustentável, inclusivo, igualitário e diverso.

Felizmente, conforme se constata na eclosão de movimentos de protesto mundo a 
fora e Brasil a dentro, um número cada vez maior de pessoas vai à luta, de múltiplas 
maneiras, para aumentar sua participação direta nas decisões públicas e mudar o 
caráter e alcance da ação política para sintonizá-la com as demandas nacionais e com 
os desafios das crises globais que clamam por respostas urgentes. 
Somos  parte desse amplo movimento que almeja por mudanças e, com essa 
motivação, nos organizamos na forma de um partido novo que tem, como seu maior 
desafio, ser um espaço de inovação no sistema político brasileiro, de mobilização para 
alimentar uma nova cultura política que ajude a superar as formas estagnadas de 
realização do fazer político, onde hoje prevalece a destruição ou assimilação em lugar 
da troca. Não queremos ser mais um participante do assalto ao Estado, mas um abrigo 
para forças de dentro e de fora do sistema partidário, na luta para colocá-lo e à política 
a serviço do bem comum. 
O que virá dependerá do que formos capazes de criar e produzir, de inventar e 
distribuir, a partir deste encontro de sonhos e épocas, de gerações e destinos.  Não 
temos respostas prontas, mas temos certeza de que este é o caminho que queremos 
percorrer para construir respostas às indagações do presente e do futuro.
O Brasil precisa começar a pensar-se como um dos líderes do futuro, num mundo 
onde sobra irresponsabilidade e falta coragem para enfrentar tanto a crise provocada 
pela desastrosa ideologia vigente de governança global da economia, quanto aquela 
expressa pela gravidade dos fenômenos climáticos extremos, do consumo excessivo 
e desigual da água, solos e biodiversidade, que coloca em risco a nossa própria 
existência no planeta. 
Não é mais a hora de procurar  um protagonismo equivocado, que almeja ascender 
ao modelo “primeiro mundo”, mas, sim, de nos envolvermos com determinação, 
competência e garra na construção de um mundo diferente e melhor, fundado 
em valores como a fraternidade e generosidade ética, em formas de saber e atitudes 
de viver elaboradas individual  e coletivamente. Temos o grande auxílio das novas 
tecnologias de informação e comunicação; precisamos usá-las intensivamente em 
favor de idéias e da aglutinação de uma força política transformadora, criativa, 
empreendedora e radicalmente democrática.  
Propomos aos cidadãos e cidadãs de todos os segmentos e de todas as idades que 
se unam para valorizar nosso sistema político, recriando-o e sintonizando-o com um 
projeto de desenvolvimento no qual ecologia, economia, justiça social, ética, gestão do 
Estado e prática política sejam compatíveis. Almejamos o fortalecimento da sociedade 
civil e da cidadania ativa, verdadeira fonte de governabilidade e de direcionamento da 
ação do Estado.
Não faltará quem diga que tudo é apenas sonho. Para nós, sonho é apenas aquilo que 
ainda não está realizado, é o teto sob o qual se reunirão aqueles que querem fazer 
valer a sua vida, que acreditam na força coletiva, que não aceitam interdições à sua 
liberdade e ao seu direito de aspirar a um futuro melhor. Temos o desafio de instigar 
novos processos, unir as forças, a indignação e a criatividade dispersas. Apostamos na  
lógica colaborativa e fraterna. Não podemos mais tolerar a verticalização das decisões 
e ganhos, enquanto as perdas são cotidianamente horizontalizadas. 
Queremos ser instrumento de sonhadores, pois não há outra maneira de ir adiante 
quando tudo parece difícil e até mesmo intransponível!

Manifesto político (III)/ Rede EcoBrasil (Plataforma de ação política)


Plataforma de ação política

Política renovada significa iniciativas inovadoras, em palavras e atos, visão e 
experiência, que se traduzem por um redirecionamento de forças e afetos para o 
objetivo comum. Queremos uma organização política diferente, que abra à sociedade 
uma porta para se engajar na quebra do monopólio que os atuais partidos exercem 
sobre o Estado, demonstrando que outra forma de governabilidade e poder político é 
possível e viável.
Para isso, a proposta que apresentamos à sociedade brasileira, de criação de um 
partido político novo, tem como principais bandeiras:
1) Mudanças no modelo econômico para a construção de  um projeto de 
desenvolvimento socialmente includente e ambientalmente sustentável que 
considere como estratégias prioritárias: 
• valorização do nosso patrimônio ambiental, viabilizando a transição para 
uma economia sustentável;
• justiça e eficiência tributária e a reforma do Pacto Federativo;
• taxas de juros em patamares que induzam os investimentos produtivos;
• planejamento e implementação da logística de transporte e da 
infraestrutura de forma compatível com a gestão estratégica dos recursos 
naturais;
• matriz energética limpa e segura;
• democratização do acesso à terra e uma política agropecuária que recupere 
a função estratégica do setor para a segurança alimentar, melhoria da 
qualidade de vida da população e preservação dos nossos biomas; e 
• investimento em conhecimento e em inovação. 
2) Reforma do sistema político que permita a emergência de outro modelo de 
governabilidade que não se baseie na troca de vantagens fisiológicas para a 
manutenção de feudos de poder e garanta:
• candidaturas independentes, sem a exigência de filiação partidária, para 
quebrar o monopólio dos partidos sobre os cargos de representação, e 
renovação de lideranças políticas com limitação do número de mandatos 
parlamentares e de cargos executivos eleitos;
• financiamento público de campanha e teto máximo de doações por pessoa 
jurídica e física, por categoria de candidatura, e vedação de doações por 
empresas do setor de bebidas alcoólicas, cigarros, agrotóxicos e armas;
• criação de novos instrumentos para o exercício da democracia direta e 
resignificação dos já existentes;
• ampliação dos processos de participação da sociedade nas decisões do 
governo, apoiando ou elaborando propostas de poder multicêntrico e aberto;
• inovação na sua estrutura interna, de modo a garantir a participação 
direta dos filiados nas suas decisões políticas e no diálogo com a sociedade, 
começando por controle social sobre a continuidade de sua própria existência, 
por meio de consulta pública a filiados e grupos sociais organizados.
3) Educação pública e universal de qualidade em todos os níveis, integral  
inclusiva, formadora de cidadãos comprometidos com uma vida social solidária 
e sustentável e preparados para os desafios de uma sociedade cada vez mais 
demandante de informação e conhecimento, como princípio fundante de uma 
verdadeira República baseada na igualdade de oportunidades para todos.
4) Democratização do sistema de comunicação, garantindo-se a liberdade de 
expressão, transparência, livre acesso à informação e ao conhecimento e 
valorização das diversas formas de manifestação cultural.
5) Respeito aos direitos humanos, garantia do equilíbrio de gênero e repúdio a 
todas as formas de discriminação: étnica, racial, religiosa, sexual ou outras, 
garantindo a cada grupo espaço próprio de participação política e de respeito 
e atenção às suas demandas específicas.
6) Redução das desigualdades e erradicação da pobreza por meio da garantia do 
acesso e da oferta de oportunidades a indivíduos e famílias, para sua inclusão 
produtiva na sociedade.
7) Universalização e melhoria dos serviços de saúde, com ênfase na atenção 
básica,  da qualidade de vida com condições dignas de moradia, alimentação 
saudável e em quantidade suficiente, prevenção de doenças, saneamento 
básico, redução da violência e promoção da cultura de paz como valores 
centrais das políticas governamentais.
8) Defesa dos Direitos animais por meio da abolição de todas as formas de 
crueldade contra animais e de políticas púbicas para o bem-estar de animais 
urbanos, selvagens e de uso comercial.
9) Reforma urbana que transforme nossas cidades em espaços saudáveis, 
democráticos e seguros, que garanta o direito a moradia como forma de 
cidadania e possibilite o redirecionamento dos investimento em mobilidade 
para priorizar os pedestres, as biclicletas e o transporte público. 
10)Política externa baseada na cultura da paz, na promoção dos direitos 
humanos, da autodeterminação dos povos, do não intervencionismo bélico, de 
uma ampla democracia e da sustentabilidade e comprometida com a redução 
das desigualdades e a construção de instituições efetivas de governança global.
global. Promoção do debate, do intercâmbio e do diálogo a nível internacional 
com outros movimentos e partidos que defendam as mesmas bandeiras 
propostas pelo Partido e se alinhem na defesa de uma economia sustentável.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Podia ao menos desculpar-se (Joca simonetti)




Em artigo publicado hoje (10/02) em A Gazeta, o senador Ricardo Ferraço tenta transformar seu voto em Renan Calheiros para a presidência do Senado em coisa boa para o Espírito Santo. Tenta explicar o inexplicável, justificar o injustificável.

Alega o senador que, dada a tibieza política do Espírito Santo no cenário nacional, é preciso aliar-se ao vencedor, seja ele quem for, para recolher as migalhas que o poder central deixa cair, vez por outra, do prato principal das verbas públicas. As palavras não são exatamente essas, mas o sentido geral é o mesmo.

Para justificar o injustificável, Ferraço entorta a lógica usando como critério para seu voto o tamanho da bancada capixaba no Congresso - "não dispomos de uma bancada numericamente grande, precisamos fortalecer a capacidade de articulação". Se na Câmara essa discrepância existe, na comparação com os estados maiores, no Senado ela é nula: todos os estados têm três representantes no Senado.

O senador justifica seu voto também por estar "seguindo orientação partidária". Acontece que a fidelidade partidária de Ricardo Ferraço é de ocasião. Na eleição de Guarapari, esse ano, Ferraço esteve nos palanques do candidato cassado Edson Magalhães e de Orly Gomes - seu partido, o PMDB, estava na coligação de Ricardo Conde e de Carlos Von em cada uma das eleições.

Isso de jogar às favas a posição partidária não é novidade na vida política de Ricardo Ferraço. Em 2008, o senador estava no PSDB e traiu abertamente a candidatura de Luciano Rezende em Vitória (naquela eleição o PSDB apoiou Luciano) para apoiar a reeleição de João Coser. Deve ter dito também, à época, que votava a favor de Vitória, do melhor para a cidade - não votava: apoiou Coser por conveniência pessoal e a reeleição do então prefeito fez muito, muito mal a Vitória.

Melhor faria o senador Ricardo Ferraço se, ao invés de lançar desculpas esfarrapadas, pedisse desculpas por traído os capixabas ao nos aliar com o histórico de corrupção e má-fé do senador Renan Calheiros, que inclui a liderança do governo Collor e o uso de empreiteiras para sustentar a amante. É de corar a bandeira com as cores do manto de Nossa Senhora.

Fonte: Casa de Joca

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Enfim, a Rede... Eco da Nova Política (Maurício Rudner Huertas)


A idéia de uma “Nova Política” ecoa por todos os cantos do Brasil. Alvíssaras, esse Eco se propaga em Rede, a partir do Movimento surgido após a eleição presidencial de 2010, com a emblemática campanha de Marina Silva. Começa a se materializar um “não-partido”, braço político burocrático que a rançosa legislação eleitoral exige, enquanto não se faz uma ampla e necessária reforma que nos livre das velhas práticas e antigos costumes.

 Na democracia contemporânea os partidos não se bastam. Dependem, para fazer política, do estabelecimento e manutenção de redes de relações com movimentos, instituições, grupos na internet e até com personalidades influentes nos temas que trabalham. O partido não mais pode manter a posição de vanguarda da época da circulação restrita de informação e deve assumir a postura de interlocutor dos movimentos, co-formulador de suas reivindicações, à luz de suas diretrizes mais gerais, e seu tradutor na linguagem das leis e das políticas públicas.
Assim definiu a #REDE23, tese lançada por nós, dentro do PPS, que caminhou paralelamente ao surgimento do Movimento por Uma Nova Política, com papel destacado e bem sucedido, por exemplo, na filiação e eleição a vereador de Ricardo Young, um de seus maiores expoentes.
Iniciamos a discussão e mobilização em torno de objetivos comuns, abrangendo outras siglas partidárias, entidades, organizações, sindicatos, associações, cidadãos interessados e grupos organizados na internet. Entre as conclusões, além do óbvio reconhecimento de que a política se faz além dos partidos, estão asconferências virtuais e consultas online sobre os temas em pauta na sociedade, reforçando os princípios da direção coletiva e compartilhada, além da interatividade permanente com a militância e com cidadãos sem filiação partidária.
Foi um avanço inestimável em direção à "Nova Política", que vinha sendo discutida no Brasil e no mundo, nas ruas e nas redes, e acabou incluída na Resolução Política do Congresso do PPS e como órgão partidário noestatuto novo daquele partido. Aliás, aqui está a visão do PPS sobre este “novo partido” que surge a partir do Movimento. No restante do texto, a minha própria visão: com fé, esperança e entusiasmo.
Algumas ações concretas para a "nova política" 

Muito se fala da "Nova Política", da falência do atual modelo partidário e da crise de credibilidade das instituições políticas. O processo congressual do PPS, que concluiu pela necessidade de "refundação" do partido e a reafirmação do sonho de reunir a sociedade em um novo movimento, somado à tese bastante semelhante que foi apresentada por Marina Silva na sua desfiliação do PV e na busca de um Movimento por uma Nova Política, são fatores convergentes que permitiram uma visão otimista sobre a oportunidade de mudança gerada pelo momento de crise.

Há uma proposta ousada defendida dentro e fora dos atuais partidos, quase utópica, que é avançar para a política em "REDE", livrar os partidos das armadilhas burocráticas, das amarras hierárquicas e abrir verdadeiramente as suas decisões para a sociedade. Trata-se do princípio da "radicalidade democrática", definição genérica que poderia enfim ter um significado concreto com a transição para a REDE, sigla e símbolo emblemático desta “nova política”. 

Com o conceito defendido também pelo “novo partido”, a REDE torna factível a oportunidade de consolidar essa nova formatação política diante da crise do atual modelo partidário (aqui e no mundo) e da atuação eficaz e revolucionária daqueles que já fazem (ou que pretendem fazer) política por fora dos partidos. 

Podemos e queremos ser protagonistas desta “Nova Política”, tanto na forma quanto no conteúdo.

Precisamos criar uma via alternativa para governar o Brasil, fortalecer a democracia, desenvolver o poder local e distribuir melhor a renda nacional, entre outros avanços de caráter social, econômico e cultural que contemplem a cidadania. 

Defendemos mudanças estruturais profundas: reforma do Estado, reforma tributária, reforma política, reforma do Judiciário, que serão detalhadas em documentos específicos.

A intenção é oferecer esta contribuição ao debate nas ruas e nas redes com cidadãos interessados, movimentos, instituições, outras siglas partidárias, entidades e associações para chegar à formulação de um projeto transformador, capaz de colocar o Brasil na rota de um desenvolvimento sustentável e gerador de riquezas para melhor distribuir, com justiça, a renda nacional. 

Esse novo movimento, juntamente com o passo firme na direção de uma nova formação partidária, precisa não apenas demonstrar para a sociedade brasileira que é de oposição consciente ao atual governo federal e ao sistema de poder por ele montado, mas também – e principalmente – que é portador de um projeto de mudanças e de desenvolvimento do País que sirva de base para construção da nova sociedade que todos almejamos. 

Sem essa iniciativa na construção de uma formação partidária mais ampla e na formulação de um programa objetivo de mudanças, não conseguiremos interromper o declínio que os partidos políticos – inclusive aqueles com viés ideológico - vêm experimentando, claramente demonstrado na redução da influência dos partidos e dos dirigentes partidários sérios no processo político.

Nova política, novo partido

Há uma crise da representação política em todos os países democráticos, provocada pela revolução havida na informação. O cidadão não precisa hoje de intermediários para levar suas demandas aos representantes eleitos. 

Com isso, a política deixa de ser monopólio dos partidos, embora as eleições no Brasil ainda o sejam. O resultado é a queda no número de filiados de todos os grandes partidos do Ocidente e em suas contribuições financeiras, com o conseqüente aumento dos recursos públicos no financiamento da política.

Há uma crise de representação adicional no Brasil, devido à nossa legislação eleitoral, que se traduz em partidos frágeis, mandatos personalizados, fraqueza do Legislativo, eleições caras e descrédito popular. Esse modelo funciona à base de práticas de financiamento já inaceitáveis para a opinião pública e tornou-se uma fábrica de crises.

Os partidos brasileiros sofrem as conseqüências combinadas dessas duas crises.
Porém, não subestimemos o potencial de mudança, revolucionário, que as novas tecnologias da informação, em especial a internet, atualizam todos os dias. A questão está no seu significado. 

Em termos de participação política, a comunicação em rede torna possível a mobilização instantânea, sempre que a agenda formulada na rede encontre eco na motivação dos manifestantes. 

A primavera árabe é o exemplo mais recente, de maior repercussão. Mas a comunicação na rede não substituiu, nesse e em outros casos, a participação física do cidadão, sua presença na rua, o compromisso com a mudança, assumido com o risco de violência, prisão ou morte. 

Entendemos que o mesmo se dá com a representação. O significado da crise de representação não é a demanda por seu fim, pela participação pura, em condições tecnológicas que garantiriam sua viabilidade, e sim a demanda de outra representação, de qualidade maior.

Se o argumento está correto, o papel dos partidos e sua organização interna mudam por completo. Partidos não mais são os delegados de classes e segmentos sociais, para os quais formulam, decidem e implementam políticas. Partidos são definidos por diretrizes políticas gerais e formulam políticas específicas na interlocução com movimentos interessados em cada assunto. Partidos formulam em conjunto e transportam para o mundo da representação, da produção das leis, a política assim elaborada. Nesse processo, a Rede é fundamental. 

Nessa lógica, que defendemos, a atuação política se dá em duas frentes. A primeira é renovar a organização partidária tradicional, definida em lei e por ela mantida; o partido composto, em sua grande maioria, por militantes interessados de uma ou outra forma na disputa eleitoral. Isso significa aumentar a transparência, aperfeiçoar o processo de prestação de contas das direções, generalizar a prática da direção coletiva. 

A segunda é construir o partido para fora, o espaço de interlocução com políticos, partidos, movimentos, instituições, comunidades na rede, indivíduos. Sem esse partido para fora não há formulação de propostas de políticas publicas, não há capacidade de mobilização, sequer há sucesso eleitoral, pois está mais do que claro que militância hoje não é suficiente para vencer eleições. Eleições são decididas pela confiança do cidadão, ou pelo recurso a meios escusos.

Assim, devemos sair da "zona de conforto" e avançar, dialogar, agregar esforços, idéias e pessoas neste movimento transformador, enfrentar a crise de credibilidade dos políticos e de representatividade dos partidos, mudar a forma de atuação e nos abrirmos verdadeiramente para a sociedade. A oportunidade de mudança está lançada. Seremos coadjuvantes ou protagonistas? 

Em linhas gerais:

1) É essencial entender a falência da atual política-partidária brasileira. A fórmula atual está esgotada. Política, hoje, se faz nas redes sociais, nas ONGs, OSCIPs, no mundo do trabalho (à parte de sindicatos), nas escolas(fora da fábrica de carteirinhas da UNE). Os partidos são vistos (e quase sempre são assim mesmo) como um mero agrupamento de interesses corporativos, insensíveis à grande maioria da sociedade.

2) Dito isto, entendemos que a política partidária precisa igualmente ser refundada. Daí repensar nomes, forma e conteúdo. Se estamos propondo um novo Movimento - em vez de só mais uma legenda - que reúna de maneira mais moderna e eficaz a sociedade, os jovens, a classe média, gente que hoje detesta a política e os partidos, que seja realmente novo e antenado a estas redes sociais, sugerimos um novo conceito, "diferente" e emblemático: a REDE

3) Como primeira ação desta REDE, devemos fazer um grande chamamento a todas as correntes de pensamento político. É prioritário que busquemos na sociedade e nos demais partidos (todos em crise) os "órfãos" de uma representação política verdadeiramente digna, ética e coerente.

Um partido para a juventude, para os inconformados, os indignados, os idealistas, os excluídos... e até para quem não quer ouvir falar de partido nenhum!

O que a sociedade espera, hoje, de um partido político? E o que temos a oferecer aos cidadãos brasileiros para atender a essa expectativa?

Primeiro, é preciso entender que o atual modelo político-partidário brasileiro está esgotado. Somando-se isso à demagogia, corrupção e outras formas de desonestidade, não é de se estranhar a crônica falta de credibilidade dos políticos, dos partidos e das instituições vinculadas aos três poderes.

O povo brasileiro carece não de um partido, mas de uma REDE verdadeiramente moderna, com políticos sensíveis às demandas sociais e comprometidos com o bem comum. Mas exige, além de um programa viável para o país, que todo esse arcabouço teórico seja traduzido em ações práticas e de fácil assimilação.

Não basta pensar o país e o mundo, é preciso transformá-los. Da solução para um buraco de rua ou a necessária poda de uma árvore à globalização econômica, à sustentabilidade e à paz mundial, cada cidadão tem um amplo arco de interesses e procura um partido que se identifique com estas causas.

Um partido novo, portanto, tem que ser mais visível, sensível e inteligível à população. Tem que levantar bandeiras que sejam claramente identificadas pelos setores da sociedade que pretendemos atingir. E quais são esses setores? A quem o novo partido quer servir?

Não precisamos de mais um partido das classes dominantes, das oligarquias, dos banqueiros e dos grandes empresários. Por outro lado, não queremos um partido assistencialista, que faz da exploração da miséria a sua razão de ser. Precisamos de uma Rede do cidadão comum, como eu e você, que batalha no dia-a-dia e tem um senso crítico desenvolvido, espírito contestador e que não se satisfaz com os atuais modelos de governo e de oposição.

Almejamos ser o partido da juventude, dos aposentados, das famílias que se preocupam com o futuro, com uma educação de qualidade, com a preservação do meio ambiente, com a redução de impostos, com a melhoria dos transportes, com um sistema único de saúde amplo e funcional, com empregos dignos, estabilidade financeira, cultura e lazer.

O partido do trabalhador que não se vê atendido pelo atual governo federal, por partidos e centrais sindicais subservientes, que abandonam antigas bandeiras e silenciam diante de barbaridades para manter as benesses do poder.

O partido do jovem que está nas redes sociais e não se vê representado no movimento estudantil oficial, nas instituições que viraram fábricas de carteirinha escolar e que só funcionam como máquinas arrecadadoras de verbas governamentais.

O partido do aposentado que manifesta a sua indignação com o desrespeito a que é submetido no dia-a-dia, na falta de valorização de toda uma vida de trabalho e dedicação ao país, que acaba se traduzindo na desatenção à saúde e na falta de uma assistência compatível às suas necessidades especiais.

O partido contra todas as imposições absurdas à sociedade: contra o voto obrigatório, contra o voto secreto no parlamento, contra o alistamento militar obrigatório, contra a demagogia, contra a falta de transparência e de clareza, contra a burocracia que enlouquece o cidadão honesto e é terreno fértil para a corrupção, contra um governo de medidas provisórias, contra impostos e taxas que se multiplicam indefinidamente sobre o bolso do contribuinte.

O partido do imposto único, do incentivo ao primeiro emprego, do voto facultativo, do voto distrital misto, da banda larga de qualidade e a preço justo e do acesso grátis à internet nos espaços públicos. 

O partido do salário mínimo que permita o sustento da família. Das condições de trabalho decentes para o servidor público. Da faculdade gratuita e de qualidade à população mais carente. Da prioridade ao transporte coletivo. Da promoção da mobilidade urbana democrática e sustentável. Do combate ao tráfico de drogas. Da luta por saúde e segurança. Da valorização da mulher, através do compromisso com a saúde reprodutiva, a segurança e o empenho para o aumento da participação feminina na política. Da igualdade. Da liberdade. Da qualidade de vida.

Por que, afinal, um cidadão de bem faz política? 

Desconfiança é a palavra-chave da política. Aquele que ousa se filiar a um partido, então, é praticamente execrado. Não é difícil entender os motivos de tanta aversão da sociedade pelos políticos. Basta uma passada de olhos pelo noticiário do dia. Porém, toda generalização é injusta - como toda unanimidade é burra.

No conceito geral, fazer política é praticamente uma confissão de culpa: o sujeito deve estar metido em algum trambique. Mas será mesmo que todo mundo que entra para a política é mal intencionado ou quer tirar alguma vantagem ilícita? O que leva, afinal, um cidadão de bem a se aventurar nesse mundo da política-partidária?

O “novo partido” será praticamente uma trincheira da boa política. Travaremos uma luta diária por mais democracia, justiça, solidariedade, cidadania, ética, igualdade de direitos e de oportunidades entre as pessoas, liberdade de ação, expressão e pensamento, respeito ao ser humano e ao meio ambiente, valorização da família e da comunidade, e uma defesa intransigente do direito à vida.

Dentro do possível, manteremos a isenção e o distanciamento crítico no acompanhamento do dia-a-dia da política. Porém, a ação de qualquer um na luta para que as pessoas tenham casa, comida, emprego, saúde, educação, segurança e sejam tratadas com respeito, dignidade e humanismo, fica bastante limitada se não houver um envolvimento direto no palco central dos acontecimentos: o meio político-partidário.

Isso não significa que fazer política seja concordar com as práticas usuais dos políticos, o fisiologismo, a burocracia, a improbidade administrativa, os esquemas de corrupção, a hipocrisia, a demagogia e o populismo, os desmandos e a preocupação com a defesa de interesses escusos e mesquinhos de grupos ou partidos em detrimento da maioria da população.

Temos por aqui vários exemplos de gente que, mesmo dentro da política, não perdeu a sua integridade, seriedade, honestidade, competência, coragem e arrojo na fiscalização das irregularidades cometidas pelos políticos e pelo poder público. Gente que permanece inabalável na defesa de seus princípios e ideais.

Ao contrário de pessoas que entram na política por interesse ou por vaidade, para ganhar fama e poder ou para garantir privilégios, há uns poucos que pretendem retribuir o que a vida e o trabalho honesto têm lhe proporcionado.

É possível desempenhar um papel político para garantir à maioria dos cidadãos um pouco das oportunidades, da felicidade e da qualidade de vida que hoje uma minoria possui. Se cada um fizer a sua parte com bom senso e boa vontade, podemos juntos atingir mais rapidamente os objetivos e ideais de uma sociedade mais justa, renovada, solidária, íntegra, pacífica e feliz.

Agora, se todos esses argumentos não bastarem, é sempre oportuno recorrer ao dramaturgo alemão Bertolt Brecht, em seu "O Analfabeto Político":

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
 

Cada cidadão, uma voz. E os partidos definham... 

O sucesso da campanha presidencial de Marina Silva e a recente debandada de seu grupo do PV, bem como as mudanças que ocorrem mundialmente nos partidos políticos, todos enfraquecidos e desacreditados, são frutos em grande medida da revolução implementada pelas redes sociais.

É evidente que a sociedade - e a juventude, principalmente - não se sente mais atraída ou representada pelos atuais partidos políticos. Hoje em dia a política não se faz necessariamente - ou exclusivamente - pelos partidos. 

Cada vez mais, a democracia deixa de ser representativa e passa a ser exercida de forma direta. Cada cidadão, uma voz. E a soma dessas vozes - muitas vezes de forma espontânea e livremente desorganizada - constrói uma nova realidade, que transpassa do mundo virtual para o mundo real instantaneamente, em questão de segundos (ou 140 toques no computador).

Os partidos continuam sendo instrumentos necessários para quem, atendendo as exigências da legislação vigente, pretende disputar uma eleição. Reúnem ainda um número significativo de gente bem intencionada, preocupada com a coletividade e disposta a se organizar da forma tradicional, fazer valer seus direitos, chegar ao poder com visão republicana e transformar a sociedade de acordo com a vontade da maioria.

Mas a escassez de credibilidade dos partidos devido à infinidade de escândalos envolvendo políticos e a própria ineficácia e atuação errática das legendas afastam a maioria das pessoas da política-partidária e provoca verdadeira ojeriza aos cidadãos de bem. 

Porém, nem todos que atuamos politicamente estamos resignados com a crise. A movimentação crescente nas ruas e nas redes sociais demonstra que ainda há sinal de vida inteligente dentro e fora dos partidos. O que falta, talvez, é que os bons se unam e promovam as mudanças necessárias. 

Como fazer política após a falência dos partidos? 

Como é, afinal, a "nova formatação política" ideal, considerando a falência dos atuais modelos político-partidários no Brasil e no mundo?

Provavelmente não exista ainda - e talvez seja até melhor não haver - uma proposta pronta e acabada. Mas a soma de opiniões diversas, em reuniões presenciais e na participação em redes sociais, aponta exatamente para isso: a prática de uma política muito mais próxima do cotidiano da sociedade, mais ágil, dinâmica, transparente, radicalmente democrática, inovadora e transformadora.

Pesquisas recentes demonstram que 71% dos jovens brasileiros consideram possível fazer política usando a internet, sem intermediários (partidos e políticos). Outros 59% deles afirmam não ter nenhum partido político de preferência. 

Quem compreender esta informação e abraçar esta idéia com sinceridade, coragem, ousadia e criatividade - inclusive com o desprendimento de reconhecer este esgotamento do modelo tradicional de organização e mobilização - dará um passo firme na conquista de novos adeptos e na legitimidade de tentar dar vez e voz principalmente aos jovens que não se sentem representados nos atuais partidos.
Enfim, a Rede... Eco da Nova Política.

Maurício Rudner Huertas, 41 anos, paulistano da Mooca, casado, pai de uma filha de 16 anos, é jornalista e publicitário. Secretário de Comunicação do PPS/SP, idealizador da #REDE23 e um dos coordenadores das campanhas do partido, com destaque para Soninha Francine à Prefeitura, em 2008 e 2012, além da filiação e eleição de Ricardo Young vereador em 2012. Com mais de 20 anos de profissão, foi editor e repórter de diversos veículos, entre eles a Folha de S. Paulo. Coordenador da ONG Vergonha Nunca Mais, pela Ética na Política. Integra também o Movimento por uma Nova Política.