O mau serviço (veja bem: contrário de bom) continua sendo uma tônica na Grande Vitória. Hoje eu tenho outra historinha daquelas pra contar...
Chegamos mais em cima da hora do que gostaríamos num cerimonial da Serra para a apresentação de fim de ano de um dos projetos em que o Instituto Todos os Cantos atua. Entrei carregando alguns instrumentos e apretrechamentos, o que me leva até a suspeitar de que a dorzinha da coluna que venho carpindo nos últimos dias (Saravá Carmélia!) tem mais a ver com isso do que com meu aniversário que se aproxima. Como diria Indiana Jones: o problema não são os anos, é a quilometragem.
Do lado de fora, um jardim razoável com muitas crianças reunidas, algumas tocando violino, outras brincando com esvoaçantes roupinhas de balé. Errei a entrada e dei de cara na porta, maldizendo a pressa ajeitei o que sobrou do nariz e ganhei o salão. Tinha lá já um bocado de pais e mestres presentes, lembrei dos tempos do Sacre Cour, escola que guardo com desgosto na lembrança e sempre falo mal quando tenho uma oportunidade qualquer.
Coloquei as tralhas no palco e logo me incomodei com a música de louvor que estava rolando. Nada contra os evangélicos Diante do Trono, aliás: Seu Alfredooo! Traz um Neve!!! - E lá estava um homem comum comandando a aparelhagem sonora ao qual me dirigi totalmente sem reservas, com os seguintes dizeres muy respeitosos:
- Não tem outra música pra tocar aí não companheiro? – A sombra de sorriso em seu rosto se escafedeu ofendida. Limitou-se a resmungar um sonoro não e passou a torcer para eu não ter outro disco, também não me perguntou se no evento havia alguma restrição religiosa, supôs de chofre (Pow!) que eu era um desses católicos furibundos e passou a me tratar com mais reservas do que já tratava naturalmente a maioria das pessoas. Gostava de ser assim, irascível, julgava-se mais valorizado, menos populacho.
Corri no carro na intenção de trazer um disco do Mozart e não achei. Que fim levou aquela porcaria? Peguei o primeiro que estava à mão, voltei triunfante e botei pra rolar “Barulinho Bom”, piratíssimo da Marisa Monte. Aliás, dexa me corrigir: pirata não! Baixado de graça da Internet com toda cidadania e "diniguidade". O som preencheu o ambiente, não sem que antes eu percebesse (Ah-Há!) que o disco evangélico do cara, este sim, era um piratão sem dízimo nem nada.
Pensava na sutil raridade dos discos originais nos dias de hoje, quando me vem o infeliz dizer, insistindo em iniciar uma cruzada religiosa pra cima de muá (Sic): - Isso aí é igualzinho ao que estava tocando antes. - Apenas sorri um submarino amarelo e ponderei, satisfeito e mudo, que a ofensa era muito mais grave para os evangélicos do que pra Marisa Monte. Ora, a ocasião era de festa sem nenhuma conotação religiosa, agregando muitas pessoas diferentes. Eu, como cliente, apenas resolvi colocar uma música mais, digamos assim, neutra. Que saco aquele cara!
Aparelhagem montada, salão ainda mais cheio e eu lá vestindo terno em pleno dezembro. Curioso podia ver próximo ao teto do salão vários aparelhos de ar-condicionado desligados. O homem continuava me policiando, aproveitei para dar uma indireta, afinal, naquele momento eu ainda não sabia se o espaço era cedido graciosamente ou emprestado de má vontade, enfim, alguma coisa que justificasse a razão de estarmos sendo tratados como visitas indesejáveis, ESTORVO (Buarque de Holanda, CHICO. Sic):
- Rapaz, mas tá é quente aqui dentro hein? – Olhando para outro lado, talvez bastante satisfeito em finalmente me infligir algum suplício, o cara se limitou a dizer: - Pois é...
Passadas duas horas, os aparelhos de ar-condicionado finalmente foram ligados - segundo soube, após um pity de Jaqueline com o tal homem - mas Inês já morrera assada no final da temporada. Logo depois toda a verdade foi revelada: o cara não estava fazendo nenhum favor (Chofre!?) o aluguel fora cobrado normalmente! Realizem a atitude desse suposto “empresário do ramo”. Será que todo o desserviço prestado fora apenas mesquinharia mesmo ou o cara resolvera nos tratar mal para não nos incentivar a aparecermos novamente por lá?
Isso, caro Leiktor, nunca vamos saber...
No final parece pouco, não é? Especialmente quando não aconteceu com você. As pequenas falhas corroem grandes estruturas, isso acontece especialmente quando se trabalha num certo limite: a desagradável surpresa de furos em um queijo que não é suíço torna as soluções mais trabalhosas e as afobadas emendas tornam-se bem mais aparentes para todos que só querem saber do que pode dar certo e não tem tempo a perder.
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